Pressionada pelo avanço das cotações do petróleo com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. As altas entram em vigor nesta sexta-feira (11).
No caso da gasolina, o reajuste para as distribuidoras é de 18,8%. O preço médio nas refinarias da estatal passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Para o diesel, o aumento é ainda maior, de 24,9%. O valor subirá quase R$ 1 por litro, de R$ 3,61 para R$ 4,51.
Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), foram os maiores reajustes ao menos desde o início da política atual de preços, em 2016. Com os aumentos anunciados nesta quinta, o preço da gasolina vendida pela Petrobras acumula alta de 24,5% em 2022. O preço do diesel vendido pela estatal subiu 35%.
Considerando que a gasolina vendida pela Petrobras representa 73% da mistura vendida nos postos o restante é etanol anidro o reajuste nas refinarias terá impacto de R$ 0,44 por litro, elevando o preço médio nacional para a casa dos R$ 7 nas bombas pela primeira vez na história.
Já o preço médio do diesel, considerando que todas as outras parcelas se mantenham inalteradas, chegaria a um valor em torno de R$ 6,40 por litro.
O gás de cozinha, conhecido como GLP (gás liquefeito de petróleo), terá seu primeiro reajuste após 152 dias. O preço médio de venda, para as distribuidoras, passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo, um reajuste de 16,1%.
O preço médio final do botijão de 13 quilos, mais usado em residências, tem permanecido estável em torno de R$ 102, nas últimas semanas. Com o reajuste da Petrobras, poderia passar para cerca de R$ 110, caso todas os outros componentes fiquem no mesmo patamar atual.
Os reajustes foram anunciados em meio a debate no governo e no Congresso sobre a política de preços dos combustíveis da estatal, que prevê o acompanhamento das cotações internacionais do petróleo. Esta semana, a mudança de modelo ganhou apoio do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pouco antes do anúncio da Petrobras, o presidente afirmou que não influencia os preços praticados pela petroleira. "No mundo todo aumentou [preço dos combustíveis]. Eu não defino preço na Petrobras. Eu não decido nada, não. Só quando tem problema cai no meu colo", disse Bolsonaro a apoiadores.
"Lula e Dilma interferiram nos preços da Petrobras, entre outras coisas. Endividaram a empresa em R$ 900 bilhões. A tendência é melhorar lá fora, mas vai ter problema de combustível no Brasil. Não vai demorar", afirmou.
A alta dos preços dos combustíveis é um dos principais fatores que vem pressionando a inflação. O dado mais recente divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra uma alta acumulada de 10,38% em 12 meses até janeiro, e economistas já projetam que a meta de inflação para este ano deve ser estourada novamente. O dado referente a fevereiro vai ser divulgado nesta sexta (11).
O impacto da inflação preocupa Bolsonaro, que deve tentar a reeleição neste ano. A alta de preços vem sendo sentida pelo brasileiro principalmente nos preços de alimentos e combustíveis. Governo e Congresso, no entanto, não vêm conseguindo chegar a um consenso sobre como conter o problema.
Após a divulgação de alta de preços, o Senado aprovou dois textos que tratam de combustíveis, cuja votação vinha sendo adiada. Um deles cria uma conta de estabilização para amortecer reajustes e estabelece diretrizes para uma nova política nacional de preços. O texto agora precisa de aprovação da Câmara.
O segundo texto aprovado pelo Senado altera a cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis. Ainda será votado um destaque que pode zerar as alíquotas de PIS/Cofins sobre diesel e gás até o fim de 2022, ano eleitoral.
Em nota, a Petrobras afirmou que o anúncio "vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda". A primeira grande refinaria privada do país, a Refinaria de Mataripe, na Bahia, havia ajustado seus preços no sábado (5).
O anúncio impulsionou a cotação das ações da Petrobras. Os papéis preferenciais (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) subiram 3,50%. As ações ordinárias (com direito a voto) avançaram 2,80%.
Mesmo considerando a alta acumulada de 5,97% desde a queda na segunda, a companhia ainda não conseguiu recuperar totalmente as perdas do início da semana, quando as ações da companhia afundaram mais de 7% após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.
Apesar da escalada das cotações internacionais do petróleo após o início do conflito no Leste Europeu desde o avanço das tropas russas em território ucraniano, em 24 de fevereiro, a cotação do petróleo já subiu 12,59%, a Petrobras ficou 57 dias sem mexer nos preços da gasolina e do diesel os últimos reajustes foram feitos no dia 12 de janeiro.
Segundo as últimas estimativas divulgadas pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), os reajustes anunciados nesta quinta seriam ainda insuficientes para cobrir toda a defasagem, que na noite de quarta (9) chegava a R$ 0,81 na gasolina e R$ 1,17 no diesel.
A elevada defasagem inviabilizou importações privadas, gerando alertas do mercado sobre risco de desabastecimento de produtos. Esta semana, distribuidoras e postos começaram a relatar dificuldades para renovar estoques, principalmente de diesel.
O presidente da Abicom, Sérgio Araújo, diz que mesmo com a redução da defasagem, novas importações demoram a chegar ao país, já que entre a decisão por comprar produtos e a chegada dos navios é necessário um prazo entre 30 e 45 dias.
"O risco de desabastecimento continua. A gente não sabe quantificar, porque não tem informações sobre o estoque, mas continua", afirmou.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o novo preço a ser praticado pela Petrobras ainda tem cerca de 10% de defasagem na gasolina e que isso não deverá ser corrigido no curto prazo.
O setor de gás de cozinha, por sua vez, teme que os altos preços tenham impacto nas vendas do produto, que já vinha sendo substituído por lenha entre famílias de menor renda, o que justificou a criação de um subsídio para essa camada da população.
"Nunca foi tão importante aprimorar o programa Auxílio Gás, garantindo que os recursos destinados a compra de GLP não sejam desviados como são atualmente", defendeu o presidente do Sindigás (Sindicato das Empresas Distribuidoras de GLP), Sérgio Bandeira de Mello.
Em nota divulgada nesta quinta, a Petrobras disse que, apesar da alta dos preços do petróleo e derivados, "decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo".
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