Desde que assumiu a presidência da Petrobras no início do governo Jair Bolsonaro, o economista Roberto Castello Branco passou a usar a expressão "cemitério da corrupção" para se referir ao maior projeto da estatal iniciado nas gestões petistas, que completará em junho 14 anos de obras inacabadas.
Desenhado para ser um grande polo produtor de combustíveis e produtos químicos, o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) se tornou um sorvedouro de dinheiro e, mesmo quando concluído, não produzirá nem uma gota dos produtos para os quais foi concebido.
Agora com foco no tratamento de gás natural, o projeto foi rebatizado Gaslub Itaboraí (nome da cidade onde está sediado, na região metropolitana do Rio). Em entrevista nesta sexta (15), Castello Branco repetiu a expressão do início do texto e explicou a mudança de nome.
"Também conhecido como cemitério da corrupção, o Comperj está mudando de nome. O seu nome ficou manchado pela corrupção", disse o executivo. "O seu nome agora é Gaslub Itaboraí", reforçou.
As obras do projeto foram iniciadas em 2008, em cerimônia com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele, os investimentos eram estimados em US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões, ao câmbio da época) e o início das operações foi previsto para 2012.
Era celebrado como o maior projeto individual da história da Petrobras. Na cerimônia de lançamento da pedra fundamental, Lula falou em "conquista tecnológica histórica" e comemorou os esperados impactos econômicos na cidade e na região.
O terreno de 2,5 mil hectares -o equivalente a três vezes o bairro de Copacabana, na zona sul do Rio--teria, em uma primeira fase, uma refinaria com capacidade para processar 150 mil barris de petróleo, cercada por fábricas de produtos químicos.
No entorno, a Petrobras previa plantar um cinturão verde, com o plantio de quatro milhões de árvores, conforme orgulhava-se o então diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Líder do projeto, ele foi preso pela Lava Jato em 2013, tornando-se o primeiro delator do esquema de corrupção na estatal.
A construção da refinaria foi paralisada em 2015, após desentendimentos com o consórcio contratado nas gestões petistas para as obras. Desde o início da Lava Jato, a Petrobras já contabilizou em balanço perdas de R$ 28 bilhões com o negócio.
No governo Michel Temer, a estatal chegou a tentar retomar o projeto original, em parceria com a chinesa CNPC, mas as conversas foram interrompidas no ano passado, sob o argumento de que o negócio não tem viabilidade econômica.
A gestão Castello Branco iniciou estudos para converter parte das instalações onde seria refinado o petróleo em uma fábrica de lubrificantes. Com os efeitos da crise do coronavírus nos negócios da companhia, a empresa, porém, está reavaliando seus planos de investimento.
Atualmente, a estatal mantém no local obras para uma unidade de processamento de gás natural, que receberá a produção do pré-sal para tratamento antes da injeção na malha brasileira de gasodutos. O projeto, porém, também deve sofrer atrasos diante da pandemia do novo coronavírus.
No fim de março, parte das obras foi novamente paralisada, desta vez a pedido da prefeitura de Itaboraí, para reduzir o fluxo de trabalhadores e reduzir o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Segundo a Petrobras, foi mantido apenas 30% do contingente, com o afastamento temporário de cerca de 4.000 trabalhadores.
A Petrobras disse que o cronograma será reavaliado, mas ainda não informou novos prazos. O cronograma original prevê início das operações em 2021.
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