RIO DE JANEIRO - A conclusão das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, vai custar à Petrobras entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões, afirmou nesta quinta-feira (18) o presidente da estatal, Jean Paul Prates. O valor final, disse, depende ainda da conclusão das licitações.
A retomada das obras foi celebrada em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deu início ao projeto ainda em seu primeiro mandato, por meio de uma fracassada parceria com o então líder venezuelano Hugo Chávez.
As obras da Abreu e Lima foram paralisadas em 2015, após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Até o momento, a Petrobras já gastou no projeto cerca de US$ 18 bilhões (R$ 90 bilhões, pela cotação atual).
O valor final estimado representa quase dez vezes o orçamento original, de US$ 2,4 bilhões (R$ 12 bilhões).
Na cerimônia desta quinta, Prates defendeu o investimento dizendo que a refinaria terá receita equivalente ao seu custo no primeiro ano de operação completa, o que é previsto para 2028. A empresa diz que o projeto é viável e terá margem de lucro positiva.
A retomada das obras começa pela ampliação da capacidade da primeira unidade da refinaria, que foi inaugurada em 2014. Esse contrato já foi assinado com a construtora Engecampo, no valor de R$ 91,7 milhões.
Depois, a Petrobras concluirá a segunda unidade. Ao fim do processo, a capacidade de processamento de petróleo subirá dos atuais 100 mil para 260 mil barris por dia, com foco na produção de diesel, combustível em que o Brasil é deficitário.
Prates disse que a refinaria processará diesel com o uso também de insumos vegetais, tecnologia que vem sendo testada pela estatal em outras refinarias. Por isso, afirmou, resistirá para além da era dos combustíveis fósseis, cada vez mais sob pressão diante da emergência climática.
"Essa é uma refinaria de cem anos, é uma refinaria para depois que o petróleo acabar", disse. "Isso aqui não faz combustível fóssil, faz energia líquida. Hoje, o mais acessível para a população e o que menos dá trabalho para produzir é o hidrocarboneto, mas vai produzir hidrogênio, vai produzir diesel renovável."
Com obras iniciadas em 2005 e atraso de três anos no início das operações de sua primeira fase, a Abreu e Lima teria participação da estatal venezuelana PDVSA, mas as negociações não andaram.
Nesta quinta, Lula lembrou as conversas com Chávez à época.
"Chávez era uma das pessoas mais entusiasmadas do mundo, nunca dizia não", disse o presidente. "Sempre dizia sim, mesmo que depois não fosse fazer." A saída da Venezuela do negócio, afirmou, acabou sendo benéfica, ao reduzir o investimento.
"Para fazer refinaria com a Venezuela, a gente tinha que fazer quase duas refinarias. Então, terminamos fazendo sozinhos nossa refinaria e posso dizer, graças a Deus, vamos fazer nossa refinaria, porque a gente pode fazer com nossos erros e nossos acertos."
Lula questionou ainda a paralisação das obras, em meio a críticas à Operação Lava Jato. "Imagine quanto dinheiro o Brasil perdeu com esses dez anos de obras paradas", afirmou, lembrando a declaração de Prates sobre a receita esperada da unidade.
O TCU (Tribunal de Contas da União), porém, entende que a obra é um exemplo de "como uma ideia virtuosa e promissora pode se transformar num malogro comercial bilionário", segundo caderno sobre o projeto lançado em 2021.
Nele, o ministro Benjamin Zymler escreveu que o projeto subverteu um sistema de governança sofisticado "ao ponto de enredar toda a alta administração de uma empresa de renome -mesmo que involuntariamente — num ousado esquema de corrupção e desvio de recursos".
A Petrobras tentou vender a refinaria nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, mas decidiu retomar as obras ainda em 2022, alegando que melhoraria a atratividade da unidade para investidores estrangeiros.
Após a posse de Lula, a estratégia é reforçar investimentos em refino.
Em seu primeiro planejamento estratégico sob a gestão petista, a Petrobras previu US$ 17 bilhões em refino para os próximos cinco anos.
Além da Abreu e Lima, a empresa pretende retomar obras no antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), outro alvo da Lava Jato.
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