Passada uma semana da adoção das primeiras medidas da Petrobras para tentar conter a disseminação do coronavírus entre seus milhares de empregados, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticam as ações da companhia e exigem maior diálogo com a categoria, sob risco de realizarem uma nova greve.
A FNP reivindica que os serviços da Petrobras sejam reduzidos ao essencial, para atender ao abastecimento de ambulâncias, hospitais, alimentos, remédios e o botijão de gás, para reduzir a circulação nas unidades da companhia.
"Com a quantidade de pessoas que ainda circulam sem necessidade pela empresa, podemos ser vetores de transmissão, além da hipótese de provocar um adoecimento generalizado que inviabilizaria a continuidade operacional", disse a FNP em nota.
Outra crítica é a ajuda limitada da Petrobras à sociedade, "diante dos grandes lucros da empresa" - R$ 40 bilhões em 2019. Segundo a FNP, a estatal poderia subsidiar o gás de cozinha (GLP 13 Kg), ao invés de praticar um preço acima do mercado internacional.
"Com o preço atual, muita gente pode morrer de fome num cenário em que haverá uma diminuição brutal das atividades econômicas, com aumento do desemprego e falta de renda", destaca a federação.
A categoria pede ainda o fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI), argumentando que essa prática tem prejudicado "caminhoneiros e a sociedade em geral", por manter o preço elevado. Para a entidade, a paridade só serve para ajudar a vender as refinarias da empresa, que se tornam mais atraentes por conseguirem repassar a volatilidade do preço do petróleo para o mercado interno.
A FNP quer ainda que a Petrobras suspenda as demissões de funcionários que fizeram a greve de 20 dias de fevereiro passado, já confirmada pela estatal, com reintegração imediata dos três demitidos e reversão da suspensão de outros que foram suspensos pelo mesmo motivo.
Em um movimento separado da FNP, a FUP também critica a Petrobras "pelas medidas desumanas adotadas pela gestão para manter a produção a qualquer custo", dizendo que a estatal mantém "clausura para os trabalhadores embarcados impondo escala extenuante para os turneiros de terra, sequer leva em consideração os trabalhadores terceirizados, como se estes trabalhadores não contribuíssem para o desenvolvimento da nossa empresa", de acordo com o coordenador da FUP, José Maria Rangel.
Segundo Rangel, a FUP pediu uma reunião com a Petrobras mas não foi atendida. "Os sindicatos solicitaram à empresa que participassem dos comitês regionais para juntos discutirmos como sair desse momento difícil, mas os gestores negaram. Nós continuarmos abertos ao diálogo porque temos a clareza de que somente dialogando é que vamos sair desse momento que está apavorando a todos nós", afirma Rangel.
A Petrobras já anunciou uma série de medidas para ajudar no combate do coronavírus, colocando em trabalho remoto todo o contingente possível e isolando os colaboradores que retornam de viagens até que estejam seguros para serem liberados.
Além disso a empresa informou que o único empregado contaminado até o momento nem sequer voltou ao trabalho, sendo afastado imediatamente da operação.
"Todas as orientações dos órgãos governamentais estão sendo rigorosamente seguidas e amplamente divulgadas aos públicos internos e externo", informou a companhia, dizendo também que "materiais de higienização, produtos que sempre fizeram parte da equipagem das nossas instalações, foram reforçados. Também foram reforçadas as respectivas orientações e limpeza de ambientes".
A Petrobras tem participado ainda da ajuda ao combate do coronavírus com a doação de equipamentos - 600 mil kits de testes - e auxílio em pesquisas para desenvolvimento da vacina contra a pandemia com a disponibilização de espaço nos seus supercomputadores.
Em reação à ameaça de uma "greve sanitária" pelos petroleiros, divulgada em uma carta aberta à população pelos petroleiros na semana passada, a estatal já havia solicitado para que os empregados refletissem "quanto aos próximos passos que pretendem indicar para a categoria petroleira, a quem obrigatoriamente competirá deliberar a respeito, sob pena de configurar uma ação desautorizada dos respectivos dirigentes sindicais com as consequências daí decorrentes, sendo certo que a companhia se mantém aberta ao diálogo para esclarecer os pontos que as entidades ainda tenham dúvidas", afirmou em nota à categoria.
A companhia anunciou uma série de medidas para enfrentar a crise trazida pela queda da demanda provocada pelo coronavírus, como corte de produção, hibernação de plataformas, corte de investimentos, suspensão de contratações e postergação de algumas atividades como interligação de poços.
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