A briga entre os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) coroou uma semana de desgaste político para o posto ipiranga, na avaliação de pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro.
A ordem no Palácio do Planalto, agora, é pôr panos quentes na briga para evitar ainda mais atritos à luz do sol.
Avisado de que Marinho o havia criticado para investidores, Guedes disparou ofensas públicas contra o colega. Em entrevista na noite desta sexta (4), o titular da Economia chamou Marinho de "despreparado, desleal e fura-teto".
Após o episódio, segundo líderes partidários próximos do Planalto, o próprio Jair Bolsonaro entrou em campo e pediu que o ministro do Desenvolvimento se acalmasse e não respondesse para evitar ainda mais a crise, que mexeu com o mercado financeiro.
Na avaliação de líderes no Congresso e ministros, ambos os auxiliares do presidente estão errados na disputa. O estranhamento entre os dois vem desde abril, com troca de farpas em reuniões com outros ministros, mas ainda não havia ocorrido uma briga em público.
Para aliados de Bolsonaro no Parlamento e no governo ouvidos pela Folha de S.Paulo, Marinho errou ao criticar o colega para investidores, e Guedes, por ter dobrado a aposta ao rebatê-lo publicamente.
O episódio em si foi descrito como "surreal" por dirigentes partidários. Mas parlamentares avaliaram que faltou bom senso e equilíbrio ao ministro da Economia, que colocou mais lenha na fogueira.
Ministros também dizem que o posto ipiranga provocou primeiro Marinho, ao lançar diretas e indiretas ao colega e dar apelidos nos bastidores, como fura-teto.
A briga ocorreu após uma semana em que Guedes já havia se desgastado com parlamentares por causa de discordâncias a respeito do Renda Cidadã. O ministro criticou a ideia de usar precatórios para bancar o programa. Deputados e senadores, porém, dizem que a proposta partiu do próprio titular da Economia.
Por isso, parlamentares dizem que ele cometeu no mínimo uma "grosseria" com Márcio Bittar (MDB-AC), relator da iniciativa.
Nesta sexta-feira (2), Guedes assumiu a culpa pela confusão e disse que gostaria de eximir Bittar e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de qualquer responsabilidade.
O ministro afirmou que a ideia de usar os precatórios foi "um vírus que escapou do laboratório da Economia". Ele argumenta que a limitação dos pagamentos estava em estudo, mas apenas como forma de controlar despesas do governo, e não para bancar o novo programa social, que exige uma fonte sólida e permanente de recursos.
A irritação de Guedes com Marinho já havia se intensificado na última semana, antes da briga pública. Na busca por saídas para o novo programa social do governo, o ministro da Economia disse a interlocutores que Marinho havia sugerido furar o teto de gastos em R$ 70 bilhões.
Nesse momento, Guedes teria determinado uma força-tarefa para vasculhar o Orçamento em busca de recursos, na tentativa de evitar a burla à regra fiscal. Foi nessa busca, segundo interlocutores, que surgiu a ideia de reavaliar gastos com precatórios.
O episódio ampliou o desconforto entre os ministros. Em grupos de mensagens no Ministério da Economia, circula uma foto que é tratada como piada por técnicos. Nela, um homem empurra um caminhão, enquanto um segundo rapaz aparece em cima da carroceria do veículo, fingindo que está empurrando. Na montagem, Guedes seria o personagem que empurra o caminhão, enquanto Marinho finge, em uma comparação com as ações para a retomada da economia.
Em reunião na sexta, segundo relatos, Guedes chamou o ministro do Desenvolvimento de "picareta" e disse que ele está em um "surto populista" na busca por ser candidato ao Senado ou ao governo do Rio Grande do Norte.
Além desse episódio, o ministro também teve conflito público com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Esses episódios, coroados pelo conflito público com Marinho fazem Guedes perder cada vez espaço no governo, avaliam articuladores políticos e dirigentes partidários.
Hoje, o ministro do Desenvolvimento é considerado "10 vezes" mais próximo de Bolsonaro do que o ministro da Economia.
Na área econômica, no entanto, técnicos apostam nas declarações públicas de Bolsonaro em apoio a Guedes para justificar sua força no governo. Na recorrentes crises entre o ministro e a ala política, o presidente tem se pronunciado em defesa do Ministro da Economia, afirmando ter compromisso com o teto de gastos.
Em conversas com auxiliares, o chefe da Economia tem dito que se formaram duas vertentes no governo: a ala política, que inclui Marinho, que busca manter a popularidade do presidente em alta a qualquer custo, e a equipe econômica, que busca ajustar as contas e, na avaliação da pasta, tem aval do presidente.
Neste sábado, Bolsonaro convidou Guedes para um almoço no Palácio da Alvorada.
Líderes partidários, no entanto, acreditam que Guedes pode nem "comer o peru de natal", em uma referência de que ele pode deixar o governo. O ideal, para integrantes da cúpula de partidos de centro, é que o ministro seja substituído pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem mais trânsito no Legislativo e manda um sinal positivo para o mercado.
No governo, porém, não há sinal de saída próxima de Guedes. Bolsonaro ainda seria muito grato ao ministro pelas eleições de 2018 e o trata com lealdade, o que é apontado como o principal fator para a permanência do ministro.
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