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Pretos com ensino superior ganham R$ 1.200 a menos que brancos

Pretos com ensino superior ganham R$ 1.200 a menos que brancos

Levantamento mostra que trabalhador branco com ensino superior recebe R$ 5.228,70, enquanto um profissional preto de mesmo nível ganha R$ 3.947,13

Publicado em 20 de novembro de 2018 às 21:07

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Adriano Monteiro, 35 anos, é produtor cultural. (Marcelo Prest)

A diferença salarial entre pretos* e brancos ainda persiste no mercado de trabalho capixaba. No Espírito Santo, trabalhadores que se denominam como pretos e que tenham ensino superior completo recebem, em média, 32% a menos (ou seja, R$ 1.281) do que os brancos com o mesmo nível de escolaridade. 

No Dia da Consciência Negra, comemorado nesta terça-feira (20), o Gazeta Online traz um panorama dessa disparidade salarial no Espírito Santo com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de acordo com levantamento realizado pelo economista Eduardo Araújo, com exclusividade para o Gazeta Online.

Segundo as informações coletadas pela pesquisa, em média, um trabalhador branco com ensino superior recebe R$ 5.228,70, enquanto um profissional preto com o mesmo nível de instrução ganha R$ 3.947,13. Em todos os níveis escolares há variação entre o salário recebido por pretos e brancos, desde quando o profissional é analfabeto (-1%) até quando tem formação de doutor (-102%).

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Para que fosse possível realizar essa comparabilidade salarial, o estudo compilou dados de 35,6 mil pessoas com jornada de trabalho de 40 a 44 horas e com carteira assinada, que estão na base da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 2017 do Ministério do Trabalho em Emprego.

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Na economia, quando falamos de diferença de salários no mercado, ela parte da produtividade do trabalho. Mas o que a gente observa com esses dados é que independentemente dessas diferenças - escolaridade, setor econômico ou ocupação - ainda assim há uma desigualdade salarial no Estado

Economista Eduardo Araújo
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De acordo com o estudo, no caso dos profissionais com ensino superior, existe distinção no salário em praticamente todos os setores produtivos. Uma das maiores diferenças está na média salarial de quem trabalha na indústria metalúrgica, onde pretos ganham, em média, 81% a menos do que brancos. Em apenas um dos 25 subsetores analisados pretos ganham mais do que brancos: na indústria do material de transporte (17%).

"Esses dados refletem pelo menos duas situações. A primeira surge do ponto de vista do racismo institucional, onde o mercado de trabalho atribui muitas vezes o rendimento menor para profissionais negros mesmo que eles exerçam a mesma profissão e atividade que profissionais brancos. Já a segunda, é esse racismo operando no mercado de trabalho no sentido de produzir privilégios, nesse caso, em forma de preferência do mercado de trabalho a profissionais brancos para ocuparem cargos de maior prestígio social e com isso maior remuneração", comenta o diretor de Cidadania e Direitos Humanos da Ufes, Gustavo Forde.

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Lula Rocha, Coordenador do Círculo Palmarino, complementa que uma das principais maneiras das empresas diferenciarem os salários recebidos entre brancos e pretos é por meio de subdivisões das funções.

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Eles contratam pessoas para terem as mesmas ocupações, mas dependendo da cor designam ela para um posto júnior ou sênior e, com isso, o salário varia

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De acordo com a professora doutora do Departamento de Educação Política e Sociedade da Ufes, Patrícia Rufino, as empresas não entendem a necessidade de dar visibilidade e valorizar a população negra. "Quando nós falamos que a questão racial no Brasil é estrutural é porque as pessoas não entendem que ela engloba as relações econômica, social e étnica, que começam no investimento da infraestrutura básica (saúde, educação e segurança), passando pela construção de estereótipos, e vai até a questão de que o branco quer manter o seu domínio hegemônico", aponta.

 

DESABAFO

O produtor cultural Adriano Monteiro (na imagem que abre essa reportagem), tem 35 anos e já passou por momentos de discriminação em busca de emprego. "Eu usava um cabelo black power na época e estava participando de um processo seletivo para uma vaga de assessor de uma empresa. Quando cheguei na entrevista com os diretores, percebi que eles me olhavam de uma forma diferente. Em outra, passei pelo projeto sendo elogiado e, no dia seguinte, me ligaram falando que não tinha conseguido a vaga",  lembra. 

Atualmente, Adriano tem mestrado em Comunicação e trabalha realizando projetos culturais, mas ainda enfrenta preconceito. "Quando vou em busca de patrocínio nas empresas, as pessoas que fazem a gestão delas não compreendem a importância do meu trabalho e porque desenvolvo os projetos", desabafa. "As pessoas ainda acreditam que negro é sinônimo de mão de obra pesada", complementa Adriano. 

* O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) usa preto como classificação de cor ou raça nas pesquisas de censo demográfico desde 1872, conforme Nota Técnica sobre o "Histórico da investigação sobre cor ou raça nas pesquisas domiciliares do IBGE".

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