O anúncio de estudos para a privatização da Petrobras acirrou impasse entre trabalhadores e a direção da estatal, que negociam neste momento o acordo coletivo de trabalho. Insatisfeitos com a proposta da empresa, os sindicatos ameaçam realizar uma greve.
As negociações salariais já duram mais de três meses e a Petrobras apresentou a proposta final no dia 8 de agosto. Os principais sindicatos de petroleiros recomendam a rejeição dos termos propostos, alegando que representam cortes de direitos.
Com a ideia de estudar a privatização total da empresa até o fim do governo Bolsonaro, lideranças sindicais começam a anunciar mobilizações. Nesta segunda (26), o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) promove ato em frente à sede da estatal no estado.
"Em toda a sua história, a categoria petroleira nunca correu tantos riscos de perder seus empregos e direitos", diz o diretor da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, que também é dirigente do sindicato baiano.
A possibilidade de privatização da Petrobras voltou à tona no último dia 15, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em evento que "o presidente [Jair Bolsonaro] está cada vez mais ligado nessa agenda de privatizações".
Na semana passada, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que a venda da estatal será estudada pelo PPI (Programa de parcerias e Investimentos). "Por tudo que ela significa, será feito algo muito criterioso", ponderou o ministro. Logo depois, Bolsonaro afirmou que o governo "estuda tudo".
Por enquanto não há confirmação de que a estatal petroleira entrará na lista nem detalhes de como serão feitos os estudos de privatização. Mas a simples ideia de que o processo pode ser tocado fez as ações da empresa dispararem na bolsa na quarta (21), animando analistas e investidores.
Entre empregados da Petrobras, as notícias ainda são vistas com cautela, diante da falta de informações mais detalhadas sobre os objetivos do governo. Antigo defensor da privatização, o atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco, tem dito que não tem mandato para defender o tema.
Sindicalistas apontam que o processo já vem sendo feito "em fatias" com a venda de subsidiárias e negócios considerados não prioritários por meio do plano de desinvestimentos da companhia, iniciado ainda no governo Dilma com o objetivo de reduzir o elevado endividamento da companhia.
Já ensaiaram outras greves neste período, mas sem grande adesão. Desta vez, contam com a rejeição à proposta de acordo coletivo da Petrobras para angariar apoiadores. A empresa propôs reajuste equivalente a 70% do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e redução nos valores pagos por horas extras trabalhadas.
As duas federações de petroleiros do país -FUP e FNP (Federação Nacional dos Petroleiros)- que têm um longo histórico de divergências, se uniram em uma única mesa de negociação com a empresa para discutir o acordo.
A categoria, que teve elevados ganhos reais durante as gestões petistas, vem brigando para repor a inflação desde o estouro da crise da Lava Jato. Em 2017 e 2018, conseguiram reajuste equivalente ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação.
Os sindicatos questionam também a nova política de remuneração variável anunciada pela gestão Castello Branco, que propõe o pagamento de bônus por desempenho (em fatias mais generosas a empregados do alto escalão) ao invés de modelo que limita a diferença de ganhos entre os diferentes níveis hierárquicos.
Aos trabalhadores, a Petrobras vem defendendo que, apesar das recentes vendas de ativos, o endividamento ainda é elevado e que paga juros mais altos do que suas concorrentes. Em nota à Folha, disse que a proposta atual é a final e que o acordo coletivo vigente perde a validade no dia 31 de agosto.
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