Utilizado como referência pela Petrobras, o petróleo Brent registrou uma forte queda nesta terça-feira (21) e fechou a US$ 19,33 o barril, seu nível mais baixo desde fevereiro de 2002. A queda deve trazer impactos na estatal brasileira.
De acordo com especialistas, isso pode acelerar processos de corte de custos, desinvestimentos e cortes de produção em curto prazo. "Todas as empresas do setor devem ir nesta linha", disse Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset Corretora.
A Petrobras já havia anunciado corte de investimentos, suspensão de dividendos, redução de salários e produção, além de um empréstimo de R$ 40 bilhões para enfrentar a crise. O analista da corretora Ativa, Ilan Arbetman, apontou que esse valor do Brent obriga a companhia a começar a colocar em prática políticas de subsistência.
"Com o Brent a US$ 20, temos um nível de disfuncionalidade maior, já que a gente sabe que nenhum projeto com o Brent abaixo de US$ 30 é viável. A Petrobras não esperava isso. Não só ela, como nenhuma petrolífera esperava uma cotação tão baixa. Agora é pensar na subsistência".
Com o feriado de Tiradentes no Brasil nesta terça, e a Bolsa de São Paulo não operando, a Petrobras fechou em queda de 3,51% na Bolsa de Nova York. A petrolífera tem certificados de ações (ADRs) nos EUA, que está com o mercado aberto.
O professor de economia do Ibmec, Ricardo Macedo, aponta que o valor de US$ 20 no petróleo Brent compromete o Brasil como um todo. "É uma coisa que preocupa, porque os estados ainda dependem muito de royalties. Então, é um impacto muito maior do que só na Petrobras; estados e municípios perdem receita", analisou.
Nesta segunda, o barril de petróleo Brent de junho, negociado na Bolsa de Londres e referência internacional, já havia caído 8,9%, a US$ 25,57, menor valor desde 1º de abril. O contrato do Brent de maio venceu em 31 de março.
"É uma situação muito inesperada e ninguém esperava ver uma situação desse jeito, com uma crise tão grande, e é um momento de olhar pra frente e rever como economias vão efetivamente funcionar. É o momento das pessoas repensarem o capitalismo, como muita gente tem colocado", questionou o professor.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, reforçou a tese de que a petrolífera não esperava uma cotação tão baixa, e que 2020 será um ano atípico. "O foco vai ser maior nos projetos que a Petrobras tem, vai ter que deixar de fazer uma série deles. Um Brent até US$ 30 não remunera adequadamente nenhum tipo de projeto", disse.
Na véspera, o contrato futuro de maio do barril de petróleo WTI (West Texas Intermediate), referência nos Estados Unidos, já havia entrado em colapso e pela primeira vez na história fechou no terreno negativo.
Segundo especialistas, é reflexo do desequilíbrio da oferta e demanda global, com uma desaceleração econômica mundial grande por causa da pandemia de Covid-19 que reduz o consumo de petróleo.
Gabriel Fonseca, analista de energia e petróleo e gás da XP Investimentos, apontou que a forte queda nos preços se enquadra em um contexto de queda da demanda em meio à pandemia e às quarentenas em curso ao redor do planeta.
Ele lembra que a IEA (Agência Internacional de Energia) estima uma queda de 29 milhões de barris ao dia da demanda pela commodity em abril de 2020, que supera o acordo de cortes da produção da Opep+ de 9,7 milhões de barris ao dia.
"Nesse cenário, o grande receio é de que os estoques globais de petróleo atinjam a capacidade máxima de armazenagem", analisou Gabriel.
A Arábia Saudita disse nesta terça-feira que está monitorando os mercados de petróleo e está pronta para tomar medidas adicionais para estabilizá-los junto a aliados da Opep+ e outros produtores de petróleo, informou a agência de notícias estatal SPA, citando uma declaração do gabinete.
"O reino está interessado em alcançar a estabilidade do mercado de petróleo e compromete-se com a Rússia a implementar cortes de produção nos próximos anos", disse o comunicado.
A Opep e produtores aliados, incluindo a Rússia, grupo conhecido como Opep+, anunciaram cortes radicais na produção, equivalente a quase 10% dos suprimentos globais. Mas com economias em todo o mundo praticamente paradas devido a bloqueios por causa do coronavírus, a demanda caiu até 30%.
"A briga está no WTI. Contratos futuros, queda de demanda e limitação de estocagem. Hoje, o pessoal da OPEP devem estar conversando e vem alguma redução mais forte de oferta. Não dá para imaginar que estes preços baixos sejam duradouros", afirmou o analista de investimentos Pedro Galdi, da Mirae Aset Corretora.
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