O ex-presidente do Banco Central (BC), ex-ministro da Fazenda e atual secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, disse nesta sexta-feira (03), que ruídos políticos e fiscais no Brasil têm criado pressões inflacionárias adicionais para o País, em um contexto de choques globais que também elevam preços.
Segundo ele, os ruídos no País fazem com que o real fique depreciado em relação ao dólar. Isso implica em elevação ainda mais forte de preços de itens como alimentos e combustíveis em real no Brasil, aliado ao cenário de aumento dos preços de commodities no mercado internacional.
"Temos aqui algumas situações específicas, criadas primeiro por questões políticas, confrontos, e, por outro lado, por algumas medidas controversas na área de administração macroeconômica, como a questão do parcelamento dos precatórios", disse Meirelles durante painel no evento Finanças Mais, organizado pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela Austin Rating nesta sexta.
Também participando, o ex-presidente do BC e atual presidente do conselho de administração do Credit Suisse, Ilan Goldfajn, avaliou que o choque da covid gerou um quadro de queda da atividade e alta da inflação no País.
"Agora, temos um quadro de saída da crise da covid, houve uma recuperação forte", disse Goldfajn. O economista prevê crescimento em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, com desaceleração da atividade em 2022, quando o PIB deve crescer 1,5%.
Segundo Goldfajn, a interrupção das cadeias produtivas globais e aumento dos fretes gerou inflação global, mas o Brasil experimentou choques próprios também na esteira de efeitos da política fiscal e monetária expansionista em 2020. Goldfajn afirmou ainda que haverá consequências de ruídos institucionais e fiscais para a atividade e a inflação. "Tudo isso faz com que você não consiga ter uma tranquilidade para que as expectativas de inflação venham a cair e a inflação caia no ano que vem", disse. "Minha expectativa é de um ano de 2022 um pouco mais difícil."
Meirelles afirmou que o Banco Central pode perfeitamente tomar decisões que desagradem ao presidente da República ou associações de classe, ainda mais com a aprovação formal de sua autonomia, que o equipara aos BCs de países mais avançados.
Contudo, ele alertou que o BC deveria evitar participar de eventos de confraternização de ministros do Planalto, o que pode ser um problema de sinalização. "Isso pode transmitir ideia errada de que BC estaria sujeito a pressões políticas", disse, em referência à participação de Roberto Campos Neto em churrasco de comemoração pelo novo cargo de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil.
Ilan Goldfajn destacou que as dúvidas sobre o futuro são naturais em um ano eleitoral, mas afetam expectativas, inclusive de inflação. A grande diferença, porém, no ano que vem, é que não há dúvida sobre o comando do BC a partir de 2023, já que a autonomia da autarquia determina mandatos fixos para o presidente e para os diretores do BC que não coincidem com o do chefe do Planalto. Campos Neto ficará à frente do BC até dezembro de 2024.
O economista ponderou, contudo, que a eleição presidencial pode ser polarizada e que as idiossincrasias brasileiras tendem a ser exacerbadas em momentos em que o exterior não é tão favorável. Nesse sentido, alertou que o juro no mundo já não deve ser tão baixo em 2022.
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