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Semelhanças e diferenças entre a crise do petróleo de 1973 e a atual

Semelhanças e diferenças entre a crise do petróleo de 1973 e a atual

Ataques refletem como a indústria de petróleo é vulnerável a questões geopolíticas, mas especialistas acreditam que impacto não deve ser tão duradouro quanto em 1973

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 17:40

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Instalações da Aramco, na Arábia Saudita, foram alvo de ataques com drones. (Aramco/Divulgação)

O aumento repentino do preço do barril de petróleo nesta segunda-feira, 16, fez muitas pessoas lembrarem da ruptura na produção que provocou uma grande crise internacional na década de 1970. Com semelhanças e diferenças, ambos acontecimentos refletem a importância do petróleo na sociedade.

Semelhanças e diferenças entre a crise do petróleo de 1973 e a atual

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Para contextualizar o assunto é importante lembrar que em 1973 os países do Oriente Médio, maiores produtores de petróleo do mundo, descobriram que ele é um bem não-renovável. Com isso, após uma reunião entre os principais países produtores, a produção de petróleo foi reduzida e o preço do petróleo quadruplicou em apenas 4 meses.

"Esse acontecimento foi uma decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A repercussão teve proporções mundiais. Foi um choque inflacionário, já que a demanda continuou a mesma e a oferta caiu muito", explica a economista Arilda Teixeira.

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"Diversos produtos ficaram mais caros, porque o petróleo é insumo de quase 100% do que é produzido. Foi uma inflação mundial e uma grande desaceleração da economia", acrescenta. Naquele período, 4,3 milhões de barris de petróleo deixaram de ser produzidos a cada dia. 

Os ataques às instalações na Arábia Saudita no último fim de semana representam uma ruptura ainda maior em termos de produção: 5,7 milhões de barris de petróleo estão deixando de ser produzidos por dia. O impacto para a sociedade, por outro lado, não é tão grande.

"Apesar de ainda termos uma grande dependência de petróleo, ela é bem menor do que na década de 70. Além disso, espera-se que a retomada da produção aconteça em breve. Não é uma diminuição que acredita-se que vá durar muito tempo", pondera o economista Antônio Marcus Machado.

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O sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, aponta como grande semelhança entre os dois eventos a exposição do petróleo aos conflitos geopolíticos. "Esses eventos fazem parte da indústria do petróleo. Questões como a de sábado são recorrentes. Essa não foi a última vez que acontece, por isso acho que as duas situações são parecidas", explica.

BRASIL

De acordo com especialistas, o impacto no Brasil deve ser muito menor nesta crise. "Na década de 70 o Brasil quase não tinha produção de petróleo. Hoje é praticamente autossuficiente - só precisa importar uma parte de óleo leve para auxiliar no refino. O preço do combustível pode até aumentar, mas não haverá risco de desabastecimento", destaca o consultor José Luiz Gouvea Gasparini.

"Além disso, hoje temos outras fontes de energia. Tem o etanol, geração eólica, eletrificação do sistema de transportes - ainda que de maneira tímida. Com isso, o impacto fica menor, ainda significativo, mas menor", garante.

Há até a possibilidade de que o país lucre com essa situação, já que os leilões do pré-sal podem ganhar atratividade e despertar o interesse de empresas interessadas em reduzir a dependência do petróleo que vem do Oriente Médio.

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"Apesar de todos os pesares, o Brasil segue com uma estabilidade política. A Europa está enfraquecida com o Brexit, Ásia e América do Norte influenciadas pela guerra comercial entre China e Estados Unidos. O Oriente Médio envolto em conflitos. Tudo isso faz com que o Brasil passe a ser atrativo para receber esses investimento. Atrativo este que não era visto na década de 70", afirma Antônio Marcus.

RISCO MUNDIAL

O doutor em História e mestre em Relações Internacionais Helvécio de Jesus Júnior destaca um risco que pode fazer com que a crise atual fique ainda mais parecida com a da década de 70.

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"A situação é crítica porque há indícios de que o Irã venha financiando os rebeldes do Iêmen, em tese responsáveis pelo ataque à Arábia Saudita. O fato é que se a Arábia Saudita, aliada aos Estados Unidos, der uma resposta, o conflito pode ganhar proporções maiores, com uma ruptura maior da produção", informa Helvécio.

SAIBA MAIS

Diferenças:

Preço

Na crise de 70, o preço do barril de petróleo chegou a quadriplicar em 4 meses. Desta vez o aumento foi de cerca de 20%.

Dependência

Em 70, a sociedade tinha uma grande dependência do petróleo. Apesar dessa dependência ainda ser grande, ela reduziu nos últimos anos.

Inflação global

Na década de 70, a crise levou a um aumento dos preços em todo o mundo, o que causou uma inflação global e desaceleração econômica. Os impactos não devem ser tão grandes este ano.

Semelhanças:

Risco

Tanto em 70 quanto atualmente a indústria do petróleo segue extremamente vulnerável a questões geopolíticas.

Oferta

Nas duas crises houve uma grande ruptura da oferta de petróleo, sendo que na atual a ruptura foi ainda maior que em 70.

 

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