Depois do tombo recorde de 11,9% em abril, o setor de serviços manteve o desempenho negativo em maio, com recuo de 0,9%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi o quarto mês consecutivo de queda.
Com a sequência de maus resultados, o setor que responde por cerca de 70% do valor adicionado do PIB (Produto Interno Bruto) já acumula queda de 7,6% em 2020, em uma crise que começou ainda antes da adoção de medidas de isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus.
"Essa taxa de -0,9% mostra um aprofundamento de um cenário que já era muito desfavorável para o setor de serviços. Ter um resultado ainda negativo quando a comparação é feita com abril, mês que tivemos o pior resultado da série histórica, é bastante significativo", disse o gerente da pesquisa do IBGE, Rodrigo Lobo.
Apenas nos últimos quatro meses, o setor de serviços acumula perda de 19,7%. Em fevereiro, porém, o mau desempenho foi provocado por razões conjunturais, disse o IBGE, já que as medidas de isolamento só começaram a ser adotadas no país na segunda quinzena de março.
O resultado de maio foi especialmente impactado por serviços prestados às empresas, em um sinal de que a reabertura de restaurantes e outros serviços às famílias não será suficiente para impulsionar o desempenho do setor
"As empresas estão fechando, muitas pessoas perdendo seus trabalhos e isso começa a afetar uma parte da economia de serviços que depende de uma conjutura mais favorável e é menos suscetível às medidas de isolamento", comentou Lobo.
Nesse grupo se encaixam, por exemplo, os serviços profissionais e administrativos, que fecharam o mês em queda de 3,6%. Serviços de informação e comunicação (-2,5%) e outros serviços (-4,6%) também tiveram queda no mês.
Os principais impactos negativos no indicador foram de maio corretoras de títulos e valores mobiliários, corretoras de seguros, planos de previdência e saúde, serviços de tecnologia da informação, limpeza de prédios e agenciamento de mão de obra.
"São serviços que vão demorar um pouco a retomar, porque dependem da confiança do empresário", disse o gerente do IBGE.
Já as atividades mais ligadas ao consumo das famílias, que sofreram mais no início da pandemia, registraram alta no mês: transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio cresceram 4,6% e de serviços prestados às famílias, 14,9%.
É neste último grupo que estão atividades como restaurantes, hotéis e salões de beleza, que tiveram que fechar as portas em quase todo o país. Apesar da alta no mês, porém, os serviços prestados às famílias acumulam perda de 57% desde o início da pandemia.
Para recuperar o nível anterior, precisam crescer 131%. Lobo destacou que, mesmo após a abertura, a retomada será limitada pelos protocolos de segurança estabelecidos pelos governos, como limite no número de clientes ou horário de funcionamento reduzido.
?Os setores ligados às partes de alojamento e alimentação e transporte foram os que tiveram as perdas mais importantes no mês de abril. Agora em maio, eles mostram uma certa recuperação, crescendo nesse mês, mas não o suficiente para levar o setor de serviços para o campo positivo?, afirmou Lobo.
Na comparação com maio de 2019, o setor de serviços recuou 19,5%, a maior queda da série histórica da pesquisa. Nessa base de comparação, todas as cinco atividades fecharam o mês em queda. O setor está hoje 27,9% abaixo do recorde histórico registrado em novembro de 2014
Os dados contrastam com o desempenho de indústria e comércio, que ensaiaram recuperação no mês de maio. De acordo com pesquisas divulgadas pelo IBGE nos últimos dias, a indústria cresceu 7% e as vendas no comércio aumentaram 13,9%.
Esses resultados reforçaram entre economistas a percepção de que o pior momento já passou e que a atividade começa a se recuperar. A intensidade da recuperação, porém, vai depender da evolução no número de casos, já que novos surtos vêm obrigando cidades que relaxaram as medidas de isolamento a rever suas posições.
Ainda não há também efeitos positivos sobre o emprego. Segundo o IBGE, o número de pessoas sem ocupação no Brasil superou em maio, pela primeira vez, o contingente que tinha alguma ocupação. Desde o início da pandemia, 7,8 milhões de vagas foram extintas no país.
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