O PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central a ser lançado em novembro deste ano, tende a reduzir os custos financeiros e operacionais de lojistas e a ajudar na retomada de crescimento do comércio em um momento pós-pandemia do coronavírus.
O potencial do projeto foi discutido nesta terça-feira (23) no Ciab, congresso de tecnologia bancária promovido anualmente pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
O novo modelo do BC fará transferências em até dez segundos e funcionará 24h por dia, inclusive em finais de semana e feriados. Além disso, a expectativa do BC é que o custo do PIX para o cliente final seja inferior a R$ 1 por transação.
Segundo especialistas, o PIX deve trazer uma redução de custos significativa para lojistas de todos os portes, além de antecipar o pagamento das compras feitas no cartão -que mesmo feitas no débito, por exemplo, ainda demoram uma média de dois dias para cair na conta do comerciante.
Essa situação poderia atingir diretamente os grandes bancos do país -que também estão por trás das grandes credenciadoras (maquininhas), como é o caso da Cielo (que tem o Banco do Brasil e o Bradesco como principais acionistas), da Rede (do Itaú) e da Getnet (do Santander)- e que teriam perdas significativas com receitas de tarifas.
Um levantamento divulgado pela Moody's no início deste ano apontou que, em 2019, houve um total de R$ 1,5 trilhão transacionado em pagamentos com cartões, com uma "take rate" (total de tarifas cobradas dividido pelo volume de pagamentos) média de 2,2%.
Segundo a agência de classificação de risco, se entre 10% e 15% do volume total de pagamentos for perdido para o PIX - e considerando os valores de 2019 - os bancos perderiam cerca de R$ 4,3 bilhões em receita com tarifas. No pior cenário simulado pela Moody's, com uma perda de 30% do volume para o PIX e sem cobrança de tarifas por parte dos bancos, a perda chega a R$ 9,9 bilhões.
"No mundo de pessoas jurídicas, a redução de custos é muito grande. Primeiro porque uma parcela do custo financeiro das empresas está no recebimento, ou seja, meios de pagamento por cartões ou boleto. Segundo porque o PIX, além de ser bem mais barato, também tem o recebimento imediato. O lojista não vai mais precisar esperar dias para receber", disse o superintendente de open banking e pagamentos instantâneos do Itaú Unibanco, Ivo Mósca.
O executivo afirma ainda que as lojas físicas também terão menos custos com papel moeda e o transporte de cédulas para o banco.
Nesta segunda-feira (22), o Banco Central anunciou que o seu modelo de pagamentos instantâneos permitirá que o consumidor saque dinheiro no varejo, o que, segundo os especialistas, também permitirá reduzir custos com o dinheiro físico.
"Já no e-commerce, de 60% a 70% das transações ainda são feitas por boletos e tem um atraso pelo tempo que o lojista leva para saber que foi pago e mobilizar o estoque até transferir para o cliente. Com o pagamento instantâneo, isso também passa a ser imediato. Esperamos inclusive que as entregas feitas no mesmo dia da compra aumentem muito em grandes metrópoles", disse Mósca.
Para o diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, o modelo também poderá aumentar, indiretamente, o crescimento potencial do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
"Tudo o que diminui o custo da transação, potencializa o crescimento até em um sentido mais técnico da palavra, de aumentar o crescimento potencial do PIB mesmo", disse.
"O sistema financeiro terá que aprender muito rápido quais serão as facilidade e qualidades do sistema e precisará se adaptar. Independente de qual será o formato vencedor e se a entrada se dará primeiro entre companhias de maior ou menor porte, com certeza veremos uma rápida adoção e uma digitalização rápida de todo o sistema", completou Mósca, do Itaú.
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