A carne tem se tornado um item tão precioso e raro na mesa dos brasileiros, que uma loja da rede de supermercados Dia no centro de São Paulo trancou a geladeira com o produto usando corrente e cadeado.
A loja, que fica na alameda Barão de Limeira, nos Campos Elíseos, restringiu o acesso às embalagens de carne e colocou um aviso solicitando que os clientes interessados em comprar o produto o solicitassem a um dos funcionários.
De acordo com o Dia, não há relatos de práticas como essa em outras unidades, dado que a orientação da empresa para as lojas é não limitar o acesso às gôndolas. Segundo a empresa, a geladeira foi destrancada no início da noite desta quarta-feira (16), após o contato da reportagem.
Por meio de nota, o Dia disse que preza pela proximidade com seus clientes e parceiros. "Desta forma, temos atuado para eliminar qualquer restrição ao acesso a produtos por nossos clientes em toda nossa rede. O bloqueio a gôndolas é uma prática adotada por alguns estabelecimentos do varejo, mas que está em desacordo com as diretrizes de negócio adotadas pelo Dia."
Ainda segundo a empresa, o fato identificado na unidade da rua Barão de Limeira está fora do padrão de atuação do Dia "e, por isso mesmo, já foi prontamente regularizado". O Dia não especificou se houve um aumento de furtos de carnes na loja do centro.
Dado o número elevado de furtos, essa prática costumava ser mais comum para proteger itens de maior valor, como cigarros e bebidas alcoólicas.
Mas reportagem do jornal Folha de S.Paulo já mostrou que a alta no preço da carne vem levando alguns supermercados a reforçar a segurança também para os alimentos desde o ano passado.
As unidades passaram a adotar práticas que iam da instalação de sensores à entrega de embalagens vazias, para que o cliente só recebesse a mercadoria após o pagamento.
Segundo o Procon-SP afirmou na época, a prática de reforçar a segurança em relação às carnes não é ilegal, mas pode ser considerada discriminatória quando feita em unidades de alguns bairros específicos, sem critérios objetivos.
O Procon-SP ameaçou notificar uma unidade do Extra na periferia de São Paulo que entregava bandejas vazias aos clientes que pediam porções de carne no açougue.
Procurado novamente nesta quarta-feira, o órgão ainda não havia se manifestado.
Também procurada, a Apas (Associação Paulista de Supermercados) não se pronunciou.
Nos últimos meses, a ida ao açougue virou uma prova de resistência para os brasileiros. Em 2021, as carnes ficaram 9,98% mais caras, enquanto proteínas que poderiam substituí-las --como aves e ovos-- subiram 24,8%.
A alta de preços é um problema para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a reeleição neste ano, e teme os impactos da perda do poder de compra do eleitorado.
A inflação castiga o bolso das famílias em todo o país. Em fevereiro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial, foi de 1,01%, 0,47 ponto percentual acima do registrado em janeiro (0,54%). Essa é a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015.
O maior impacto, de 0,31 ponto percentual, e a maior variação (5,61%) vieram do setor de Educação. Na sequência, vem o de Alimentação e bebidas (1,28%), que acelerou em relação a janeiro (1,11%) e contribuiu com 0,27 ponto percentual. Os dois grupos representaram cerca de 57% do IPCA, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 12 meses, o quilo do filé-mignon subiu 21,77%; o do contrafilé, 14,18%; o músculo teve alta de 11,46%; a picanha, de 11,97%. Na média, as carnes subiram 8,61%, de acordo com o IPCA.
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