Amargando uma queda de 31,1% nos primeiros sete meses do ano, o setor de celulose do Espírito Santo acumula adversidades. Uma retração global em preços e na demanda pela commodity tem forçado uma redução na produção na unidade da Suzano (empresa que nasceu da fusão da Suzano com a Fibria) em Aracruz, no Norte do Estado. Para diminuir os custos de produção, a empresa está favorecendo fábricas em outros Estados.
Isso porque, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Léo de Castro, há uma escassez de eucalipto no entorno do complexo industrial de Aracruz, o que faz com que seja necessário buscar matéria-prima muito mais distante, aumentando assim os custo de produção.
Diante do cenário, investimentos aguardados pelos capixabas como a fábrica de bio-óleo, orçada em torno de R$ 500 milhões, e uma indústria de papel, podem acabar não sendo viabilizados no Estado.
O raio médio de captação de eucalipto é muito maior em Aracruz do que em outras unidades da Suzano. Isso faz com que a unidade fique em desvantagem, afirmou. Segundo ele, enquanto na unidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, é possível encontrar as árvores em um raio médio de 40 km, no Estado, a distância chega a 400 km.
Licenciamento
O presidente da Findes afirma que há problemas no licenciamento ambiental, que é demorado. Ele diz que há caso de pedidos que demoram até quatro anos para serem concluídos. Temos vários municípios que podem receber essa cultura de eucalipto. A gente precisa ajudar para que esse licenciamento aconteça de forma mais ágil. Nós já estamos em um cenário ruim e o ciclo do eucalipto é longo. Plantando hoje, só colhe daqui a seis ou sete anos, explica.
Ele diz ainda que a falta de agilidade no licenciamento pode até desencorajar investimentos da Suzano no Estado. Na cartela de investimentos em solo capixaba que estava planejada a construção da fábrica de bio-óleo, também em Aracruz, com investimento de maio bilhão. A empresa, no início do ano, também demonstrou interesse em construir uma fábrica de papel. As empresas, quando crescem, passam a ter opções. Nós estamos competindo por esses investimentos, disse.
Segundo o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), órgão responsável por licenciar o plantio de eucalipto, os processos atuais envolvendo a Suzano estão dentro do prazo previsto em lei (dois a três meses no caso de áreas com menos de 100 hectares e até um ano para áreas maiores).
Se tudo estiver correto, tudo se resolve nesse prazo. O que acontece é que muitas vezes o processo chega com problemas na documentação da propriedade, ou estudos ambientais insuficientes, afirma o gerente de Licenciamento e Controle Florestal do Idaf, Fabiano Campos Grazziotti.
Segundo ele, só há um processo mais longo, que corre há quatro anos no órgão. Ele diz respeito a uma área de 4 mil hectares em Conceição da Barra. Por se tratar de área maior que mil hectares, é necessário estudo de impacto ambiental mais completo e ainda consultar todos os órgãos municipais, estaduais e federais que possam ter relação com a atividade pretendida ou sofrer alguma consequência dela.
Nos processos que envolvem estudo ambiental, tem que consultar Iema, Ibama, MPF, MPES, Consema, prefeitura. Todos tem que se manifestar. Ainda temos que fazer audiência pública para a comunidade poder se manifestar e conhecer o empreendimento, afirmou.
Grazziotti diz que, nesse caso específico (de quatro anos), o processo não avançou ainda pois falta anuência da prefeitura, ou seja, o município tem que confirmar se quer aquele empreendimento em seu território.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Conceição da Barra que afirmou, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, que afirmou negar a anuência já que a lei orgânica do município proíbe o aumento da cobertura de eucalipto na cidade. Ainda segundo a prefeitura, atualmente, 55% do território rural do município pertence à Suzano e 40% do solo já é ocupado com plantio de eucalipto.
Em nota, a Suzano disse que o ambiente de negócios no mercado de celulose continua desafiador, sobretudo em função de questões macroeconômicas e geopolíticas, ocasionando um desequilíbrio entre oferta e demanda.
Como a Suzano exporta grande parte da celulose produzida, houve a necessidade de ajustar o ritmo de produção a fim de adequá-la ao cenário global atual. Ressaltamos, contudo, a convicção de que o mercado global continuará crescendo no médio e longo prazos, suportado sobretudo pelo aumento do consumo de papéis sanitários, tendência que ocasionará natural adequação no atual nível dos estoques na cadeia. Além disso, ressaltamos que a competitividade em custos da companhia, associada à solidez financeira, proporciona total resiliência para que a empresa possa atuar em um cenário mais adverso, informou.
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