Contrárias a qualquer tipo de restrição a fabricantes de equipamentos para redes 5G, as operadoras de telefonia defendem a massificação de um padrão tecnológico que permite a comunicação entre os aparelhos de seus diversos fornecedores.
Esse movimento impediria, por exemplo, que as teles fossem obrigadas a trocar todos os equipamentos, especialmente de 3G e 4G da Huawei hoje em funcionamento nas redes, caso a chinesa seja banida do 5G pelo presidente Jair Bolsonaro.
As operadoras estimam que suas redes operem com até 60%, em alguns casos, com equipamentos (servidores, roteadores, switchers) da Huawei.
Para elas, não há como partir para o leilão das frequências destinadas à quinta geração sem que o governo defina o padrão a valer no Brasil "de forma responsável", nas palavras de um alto executivo dessas operadoras.
Em entrevista à reportagem, o presidente da Huawei do Brasil, Sun Baocheng, afirmou que o 5G custará mais caro no país e seus benefícios plenos só seriam atingidos em até quatro anos caso sua empresa seja banida.
Isso porque seus equipamentos de tecnologias anteriores não conversam com os dispositivos de 5G da concorrência.
Para o usuário isso é irrelevante porque, independentemente de seu plano ser 3G ou 4G, ele conseguirá falar em qualquer lugar. Hoje, se ele está em uma área de cobertura de uma antena que opera em 4G e seu plano é 3G, os equipamentos fazem automaticamente a transição para que o usuário continue conectado.
Isso ocorre porque, no passado, órgãos internacionais, em parceria com os operadores, definiram que os equipamentos de todos os fabricantes deveriam conversar entre si, particularmente os aparelhos telefônicos.
Com o 5G, esse padrão ainda não foi definido. No Brasil, Vivo e Tim defendem que ele seja o "stand alone", uma evolução da tecnologia de quinta geração atualmente em instalação nos países que já comercializam planos de 5G.
Outra bandeira defendida pelas teles é a adoção do open RAN. Este modelo permite a utilização de vários fornecedores nas diversas etapas de cada camada da rede. Seria possível usar servidores da Cisco ou da Dell, rádios da Ericsson ou da Nokia e softwares diversos.
A japonesa NEC é uma das grandes defensoras desse modelo e já disponibilizou no Brasil linhas de crédito para as operadoras interessadas em adquirir essa solução.
"Este é um modelo que permite mais flexibilidade para as operadoras", disse à reportagem Ângelo Guerra, vice-presidente-executivo da NEC no Brasil. "Em vez de ficarem presas a um grupo restrito de fornecedores, elas podem optar por diversos fabricantes."
Para as empresas, é muito melhor ter uma gama variada de fornecedores, especialmente no 5G. Como a nova tecnologia prevê soluções sobre a rede móvel, como telemedicina e automação industrial, será fundamental adotar equipamentos que aceitem softwares específicos para cada área de negócio.
Um programa que potencializa a rede para o agronegócio, por exemplo, exploraria atributos da rede de uma forma diferente de soluções para serviços hospitalares.
Para os grandes fabricantes de equipamentos, como Huawei, Ericsson e Nokia, esse não é um bom negócio porque eles pretendem deixar as operadoras dependentes de seus equipamentos e de soluções sobre a rede 5G.
Essa situação seria similar àquela em que, no passado, levou o mundo da informática a adotar o Linux, sistema operacional de códigos abertos, colocando à prova o mercado da Microsoft com seus sistemas fechados.
As operadoras dizem que não há como banir a Huawei do 5G sem que essa rede tenha um padrão aberto (stand alone). Caso contrário, terão de trocar os atuais equipamentos de 4G e 3G da Huawei pelos de outros fabricantes. Esperam que esse novo padrão só surja no final de 2021.
Neste caso, elas consideram que teriam de discutir uma forma de indenização pelos investimentos já realizados, algo que muda a precificação dos lances no leilão do 5G, previsto para junho de 2021.
Aceitam restrições à Huawei no 5G, mas não admitem a possibilidade de que as redes atuais, basicamente equipadas com dispositivos chineses, não possam conversar com as de quinta geração construídas pelos concorrentes. Isso acarretaria em aumento de custos para os consumidores.
O movimento de restrições à China ocorre porque o governo brasileiro se aliou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que trava uma guerra comercial e geopolítica com os chineses.
Nesta semana, representantes do governo americano estiveram no Brasil para discutir o 5G.
A delegação liderada pelo conselheiro de segurança nacional dos EUA, Robert O'Brien, trouxe na bagagem um fundo de US$ 60 bilhões para o financiamento de operadoras interessadas em adquirir produtos da Ericsson e da Nokia.
A pressão levou a embaixada da China no Brasil a se manifestar publicamente.
Em uma declaração dura, inédita até o momento, o Ministério das Relações Exteriores da China chegou a afirmar, nesta terça-feira (20), que políticos americanos estão se intrometendo na cooperação econômica e comercial normal entre Brasil e China.
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