Os investidores estrangeiros têm demonstrado preocupação ao governo brasileiro com a situação do meio ambiente no país. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que as manifestações têm sido recebidas em conversas dos técnicos com fundos globais de investimento.
"Eles têm perguntado muito sobre meio ambiente. A depender da origem do fundo que vem conversar com a gente, eles enfatizam muito a questão. É um movimento global", afirmou.
Segundo ele, os fundos têm estabelecido uma série de exigências de transparência e governança para alocar seus recursos, com sinalizações de que o meio ambiente vai ser cada vez mais um tema relevante para as decisões. Como exemplo, citou a gestora de ativos BlackRock, que tem US$ 7 trilhões de ativos sob gestão.
Neste mês, o presidente da BlackRock, Laurence Fink, anunciou aos clientes uma série de iniciativas para posicionar a sustentabilidade no centro da estratégia de investimento da companhia. Entre as ações programadas, estão fazer do tema uma parte integrante da construção do portfólio e desinvestir em ativos com alto risco de sustentabilidade.
Em 2019, a política ambiental do Brasil recebeu atenções internacionais principalmente depois das queimadas na Amazônia. O governo também teve que lidar com outros episódios ligados ao tema, como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) e o aparecimento de manchas de petróleo no litoral do país.
Neste mês, o Fórum Econômico Mundial (em Davos, na Suíça) teve como eixo a proteção do meio ambiente, e a delegação do Brasil se viu levada a responder -mesmo quando não foi diretamente questionada- sobre as ações do governo para a área, na tentativa de preservar as credenciais do país diante de investidores preocupados com o aquecimento global.
O ministro Paulo Guedes (Economia) respondeu a uma pergunta sobre como os governos deveriam agir diante do temor quanto aos danos ambientais com uma ressalva: "O maior inimigo do ambiente é a pobreza", disse, apontando que o Brasil precisava arrumar outras coisas antes de pensar nisso. "As pessoas destroem o ambiente para comer", afirmou.
Guedes foi contestado por Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e atual ativista ambiental. "Hoje é amplamente entendido que o solo na Amazônia é pobre. Dizer às pessoas no Brasil que elas vão chegar à Amazônia, cortar tudo e começar a plantar, e que terão colheitas por muitos anos, isso é dar falsa esperança a elas", afirmou. "Há, sim, respostas para a Amazônia, mas não é esta."
As preocupações mencionadas acontecem enquanto é registrada uma queda da participação dos estrangeiros nos títulos públicos brasileiros, de 11,22% ao fim de 2018 para 10,43% ao fim de 2019.
O secretário do Tesouro, no entanto, afirmou que o movimento não está ligado ao meio ambiente -mas sim à queda dos juros no país, que tem afastado os recursos. Para ele, deve haver uma reversão nesse cenário caso haja uma recuperação da economia no país e uma consequente melhora nos balanços das empresas.
No meio ambiente, o secretário afirma que o país deve afirmar aos investidores que tem uma fiscalização atuante e que o recém-anunciado conselho voltado à Amazônia, a ser liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, é um exemplo de iniciativa do governo a respeito do tema. "Meio ambiente é de fato um tema importante, e isso está no radar do governo", disse.
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