A mineradora Vale registrou lucro de R$ 5,3 bilhões no segundo trimestre de 2020, com efeitos positivos da retomada da demanda chinesa por minério de ferro. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, a empresa fecha o primeiro semestre com lucro acumulado de R$ 6,2 bilhões.
A companhia decidiu ainda retomar sua política de dividendos, suspensa desde o desastre de Brumadinho (MG), que deixou 272 mortos em janeiro de 2019. No balanço divulgado nesta quarta, a empresa diz que a redução de incertezas e a mitigação dos riscos de uma segunda onda da pandemia indicam que "o momento mais crítico foi ultrapassado".
Já em agosto, os acionistas receberão R$ 7,25 bilhões, com o pagamento de juros sobre o capital próprio aprovado em desembro de 2019. Até setembro, receberão dividendos mínimos sobre o resultado do primeiro semestre, em valor que ainda será aprovado pelo conselho de administração.
O lucro registrado no segundo trimestre é 437,5% superior ao resultado do primeiro trimestre, quando a China vivia o auge da pandemia. No segundo trimestre de 2019, ainda sob efeitos de custos com o desastre, a companhia havia registrado prejuízo de R$ 384 milhões.
No segundo trimestre, a Vale produziu 67,6 milhões de toneladas de minério, volume 5,5% superior ao verificado no mesmo período de 2019, quando os efeitos do desastre de Brumadinho sobre suas operações ainda eram intensos. Na comparação com o primeiro trimestre, período em que seu principal cliente, a China, enfrentava o auge da pandemia, houve alta de 13,4%.
O volume de produção, porém, ficou abaixo dos 69 milhões de toneladas projetados, em média, por analistas que acompanham as operações da mineradora. A empresa disse que mantém sua meta de produção para o ano, entre 310 milhões a 330 milhões de toneladas, mas admite que cenário mais provável é ficar "na extremidade inferior" da projeção.
Com a retomada da economia chinesa, onde o consumo de minério de ferro atingiu níveis recordes durante o segundo trimestre, o preço de referência da commodity subiu 5%, em comparação com o primeiro trimestre, para US$ 93,3 por tonelada.
Com isso, a receita da Vale chegou a R$ 40,4 bilhões no período, alta de 29,4% em relação ao primeiro trimestre e de 12,3% em relação ao mesmo período de 2019. O EBITDA, indicador que mede a geração de caixa, foi de R$ 18,1 bilhões, alta de 40,1% na comparação com o primeiro trimestre.
No segundo trimestre, com a explosão da pandemia na Europa e nas Américas, diz a mineradora, "quase paralisou a demanda por aço [fora da China] e levou a as siderúrgicas a adotar fortes cortes na produção". A Vale avalia, porém, que, com a passagem do momento mais crítico, a demanda deve ser recuperar lentamente a partir do segundo semestre.
A companhia calcula em R$ 614 milhões os impactos da pandemia em seus custos e despesas durante o primeiro semestre. Deste total, R$ 469 milhões foram gastos em iniciativas para combater a pandemia, como doações de testes e equipamentos de proteção individual a governos e apoio a hospitais e unidades de saúde. Outros R$ 145 milhões foram destinados a benefícios adicionais para empregados e medidas de segurança operacional.
A empresa diz que a pandemia impactou também nas operações de reparação do desastre de Brumadinho e o aumento da produção em outras unidades, com a adoção de novas medidas de proteção aos trabalhadores e também às comunidades.
Apesar da tragédia, a Vale aprovou no fim de abril o pagamento de bônus milionários à sua diretoria. Mesmo diante de perdas com a pandemia do novo coronavírus, a empresa garantiu R$ 19,1 milhões aos executivos como prêmio pelo desempenho em 2019 e retornou R$ 29,1 milhões referentes a 2018, que havia suspendido após o desastre.
A distribuição estará restrita a diretores que não estão envolvidos nas investigações, internas ou externas, sobre a tragédia. A premiação, que enfrentou a oposição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi criticada por familiares das vítimas do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão.
No balanço, a companhia diz que prossegue com o processo de indenização dos atingidos, com a assinatura de 600 acordos desde o fim de março. Ao todo, 7,6 mil acordos já foram assinados, com o pagamento de R$ 3,9 bilhões em indenizações.
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