O relatório anual de sustentabilidade da Petrobras informa que os vazamentos de óleo e derivados saltaram de 18,4 m³ em 2018 para 415,3 m³ em 2019. O aumento de 2157% é o pior índice dos últimos dez anos da empresa e reverte uma tendência de queda que vinha acontecendo entre 2015 a 2018, quando os vazamentos caíram 74%.
Embora os vazamentos tenham acontecido em 17 eventos, a maior parte do volume de óleo vazado deve-se a duas ocorrências nas plataformas P-58 (RJ) e na P-53 (ES), em fevereiro e março de 2019. Elas foram responsáveis, respectivamente, pelo vazamento de 251,8 m³ e 122,1 m³.
Segundo análise do Instituto de Estudos Estratégicos em Petróleo, Gás Natural e Biocombustível ( Ineep), parte dos vazamentos também ocorreu "por descarte contínuo de água com óleo em processos de produção que estavam em desacordo com a legislação ambiental". Em 62% dos casos, houve falhas nos equipamentos.
Em nota à reportagem, a Petrobras afirmou que nos dois principais vazamentos "as ações de controle foram imediatamente adotadas pela Petrobras e acompanhadas pela Marinha do Brasil, IBAMA, ICMBIO e pela ANP. Foram realizadas operações de recolhimento, contenção e dispersão do óleo vazado".
No entanto, segundo a análise do Ineep, "o derramamento não foi comunicado imediatamente ao mercado e provocou danos às comunidades ribeirinhas, pescadores e ambulantes. O Ibama afirmou que houve falhas na contenção de danos e que nas duas ocorrências havia condições para o recolhimento do óleo derramado, o que não teria acontecido de forma adequada".
O Ineep calcula que os acidentes causaram cerca de R$ 250 milhões em multas em sanções judiciais à petrolífera. Em 2019, a empresa bateu recorde ao receber, até outubro, 316 multas do Ibama.
Ainda assim, a marca de 415,3 m³ de óleo vazado pela Petrobras em 2019 é inferior à média anual de vazamentos em empresas do setor de petróleo, que é de 649,2 m³.
Para o pesquisador do Ineep William Nozaki, o foco da Petrobras na exploração do pré-sal pode representar também uma maior exposição da costa brasileira a vazamentos de óleo causados por outras empresas ou por navios.
Isso porque a Petrobras mantinha ao longo da costa do país Centros de Defesa Ambiental (CDA), que apoiavam a resposta a acidentes causados por terceiros. A Petrobras atuou, por exemplo, na contenção do óleo no Nordeste no ano passado, a pedido do Ibama.
"Os CDAs são bases estrategicamente posicionadas, com pessoal treinado e equipamentos especializados, para atuar em casos de derramamento de petróleo e derivados", explica Nozaki.
"Como a Petrobras está se retirando de diversos estados e diversos segmentos, é muito provável que daqui para frente ela resguarde apenas a costa do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, que é onde está a exploração do pré-sal. Em um eventual vazamento no Sul ou no Nordeste, talvez não tenhamos mais a Petrobras para ajudar", diz Nozaki.
Segundo análise do Ineep, "o descuido ambiental e marítimo da Petrobras tem se intensificado desde que a empresa decidiu fechar os seus Centros de Defesa Ambiental".
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