SÃO PAULO, SP - Em carta aberta para a sociedade brasileira, a direção da vinícola Aurora afirmou nesta quinta-feira (2) que está envergonhada com os acontecimentos recentes envolvendo sua relação com a Fênix Prestação de Serviços, uma das duas empresas investigadas por manter trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
"Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada seríamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princípio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos. Entretanto, ainda que de forma involuntária, sentimos como se fora isso que fizemos", diz trecho da carta, publicada no site da vinícola.
Os trabalhadores, que prestavam serviços para as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi, estavam em um alojamento onde viviam sob ameaças e vigilância armada e de onde só podiam sair para trabalhar, segundo disseram ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho e Emprego, que investigam o caso.
Na carta, a Aurora pede desculpa aos trabalhadores, afirma repudiar a situação e diz que a exploração é intolerável.
"A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, às custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos", diz o texto.
A vinícola pediu desculpa também ao "povo brasileiro" e prometeu rever práticas e adotar medidas para que o episódio investigado não volte a acontecer.
Segundo a carta aberta, a empresa está trabalhando em um programa de mudanças para qualificar a relação com os parceiros e assumir o controle de todos os processos de produção que a envolvem.
"Estamos aqui, com a mente e o coração abertos, a começar tudo de novo, se for preciso, como fizeram nossos antepassados ao aqui desembarcarem", afirmou a empresa, criada por imigrantes italianos no início do século passado.
As três vinícolas já haviam divulgado nota dizendo que repudiam violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação.
Os trabalhadores foram resgatados na quarta-feira (22) e relataram ter sido enganados pela promessa de emprego temporário, salário de R$ 4.000, alojamento e refeições pagas.
Segundo o Ministério Público do Trabalho, representantes legais das empresas investigadas apresentaram nesta quinta documentação comprovando o pagamento das verbas rescisórias dos trabalhadores resgatados, a maioria da Bahia, para onde voltaram. Os valores foram determinados em um termo de ajustamento de conduta emergencial.
A ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) decidiu suspender a participação das vinícolas em feiras, missões comerciais e eventos promocionais até que as investigações que apuram trabalho escravo sejam concluídas.
O vereador Sandro Fantinel (sem partido), que em discurso na Câmara de Caxias do Sul (RS) aconselhou empresários e produtores rurais gaúchos a contratarem "funcionários limpos", "não aquela gente lá de cima" em referência a baianos, agora é alvo de um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. A decisão, unânime, foi tomada pelo Legislativo nesta quinta.
"Depois de um turbilhão nacional, afundando o nome de uma pessoa que nunca matou ninguém, e simplesmente proferiu algumas palavras indevidas e pediu desculpas, meus colegas vereadores não tinham como não aprovar", reagiu Fantinel.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o vereador pediu desculpa e afirmou ter tido um lapso mental ao proferir palavras que não representam o que pensa e sente.
"Registro que tenho muito apreço ao povo baiano e a todos do Norte e Nordeste do país", disse. "Somos todos iguais e estou profundamente arrependido".
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