Em abril de 2013, o tomate virou meme na internet após o preço da hortaliça disparar no mercado. Nove anos depois, a salada do brasileiro continua cara, mas com um novo vilão: a cenoura.
Quem faz a feira hoje precisa pagar mais que o dobro para comprar a mesma quantidade que levava para casa um ano atrás. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cenoura acumula alta de 121,64% nos últimos 12 meses, sendo que, só em março, o valor do legume subiu 45,65% em relação ao mês anterior.
Em alguns lugares, o quilo da hortaliça chegou a quase R$ 20, gerando diversos memes nas redes.
A disparada nos preços foi causada, principalmente, pelas fortes chuvas que atingiram importantes regiões produtoras no início do ano, gerando perdas e, consequentemente, uma escassez na oferta. "Quando chove muito, os produtores têm dificuldades em entrar com maquinário nas lavouras, e foi justamente o que aconteceu neste ano", explica Marina Marangon, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Segundo ela, o clima de fevereiro fez com que os produtores não conseguissem plantar nem colher direito, pressionando a oferta nos meses seguintes. "O impacto não é só imediato. Tanto que março não foi um dos meses mais chuvosos, mas refletiu o que aconteceu antes", diz.
São Gotardo (MG), por exemplo, sofreu com chuvas muito acima da média. Por ser a principal região produtora de cenouras do país, os prejuízos na safra dificultaram o abastecimento em nível nacional.
Outro motivo para a inflação da cenoura são os investimentos no campo. Segundo Marangon, muitos produtores acabaram reduzindo o investimento em área plantada para 2022 e 2023 em função da boa safra obtida no ano passado.
"Em 2021, o clima foi diferente - mais seco no início - , o que favoreceu a produção e gerou excesso de oferta", afirma.
De acordo com o Cepea, a cenoura atingiu o maior valor desde o início da série histórica, em 2008. Embora a variação no preço do alimento seja a mais brusca, outras hortaliças também sofreram o baque do clima dos últimos meses.
Das 15 maiores altas medidas pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) em março, 14 subitens são legumes, verduras ou frutas. A exceção é o perfume, em 12º lugar, com uma variação de 12,84% em relação ao mês anterior.
Marangon explica que, durante o verão, é comum que a oferta desses alimentos seja menor em função do excesso de umidade e das temperaturas altas. "As hortaliças acabam sendo mais afetadas e temos preços mais altos nesse período", diz. "Como choveu bastante no começo do ano, isso acabou afetando mais", acrescenta.
Segundo a pesquisadora, o preço da cenoura já atingiu um patamar bastante alto, e dificilmente sofrerá novos aumentos. No entanto, a previsão é de que ele se mantenha num nível elevado, pois os reflexos das chuvas devem demorar a desaparecer.
"As cenouras que estão para serem colhidas foram afetadas. Apesar de uma melhora [no clima], podemos ver buracos [na oferta] em função de os produtores não terem conseguido plantar por conta da chuva em excesso", afirma. "Toda essa safra que vai até junho pode ter sido impactada pelo que aconteceu em fevereiro."
Na internet, pessoas manifestaram indignação com o preço da cenoura de diversas formas. Alguns aproveitaram para responsabilizar o governo pela inflação e demonstrar preocupação com a população mais pobre.
Outros desabafaram através do humor. A apresentadora Ana Maria Braga usou um colar de cenouras para "protestar contra os preços abusivos".
No Twitter, alguns internautas também demonstraram preocupação com o coelhinho da Páscoa e relataram saudades do bolo de cenoura.
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