Há exatos quatro anos, o desmoronamento da barragem de rejeitos da Samarco em Mariana, Minas Gerais, deixava 19 mortos e dava início a uma angustiante contagem regressiva no Espírito Santo. A travessia da lama pelo Rio Doce durou 11 dias até atingir o território capixaba, em Baixo Guandu.
Foi uma luta travada contra o imponderável: se a derrota era certa e não havia como evitar a contaminação do rio, buscava-se ao menos formas de reduzir os danos, com ações integradas entre governos e a iniciativa privada.
Neste 5 de novembro de 2019, o Espírito Santo se encontra na mesma expectativa de ser atingido pelos vestígios de uma outra catástrofe ambiental. O vazamento ou derramento de óleo no Atlântico, cuja maior suspeita recai sobre um navio de bandeira grega, já provocou estragos irreparáveis no litoral do Nordeste, e em breve Itaúnas, no Norte do Estado, deve ser atingida. A repetição de um pesadelo, uma nova luta contra o inevitável.
Por mais distintas que sejam as situações (e no caso do óleo no Nordeste as investigações ainda estão em estágio inicial), há uma similaridade assustadora, a de que o impacto destruidor de catástrofes ambientais só consegue ser dimensionado depois que elas acontecem. Não que faltem alertas.
As atividades extrativas sempre envolvem riscos, seja na produção em si, no armazenamento ou no transporte. Empresas e governos têm responsabilidades sobre essa cadeia produtiva. Enquanto as companhias devem se comprometer com investimentos em segurança, às autoridades cabe a fiscalização, fazendo-se cumprir a legislação. O que não é simples: dificuldade de se encontrar a origem do vazamento mostra que falta controle em águas internacionais.
O crescimento econômico propiciado por essas atividades não pode ser interrompido, mas a racionalização ambiental passou a ser um componente indissociável desse processo. Não há desenvolvimento sem compromisso ambiental não só pelas potenciais tragédias, mas até mesmo pela finitude dos recursos disponíveis.
Quatro anos depois, o Espírito Santo testemunha novamente a tragédia. E as consequências não necessariamente serão sentidas de imediato. Como este jornal mostrou, um estudo da Ufes mostra que a contaminação do Rio Doce e no mar de Regência está ainda pior do que na época da chegada da lama, em 2015. Os efeitos são duradouros, com impactos profundos não só na biodiversidade, mas na própria economia, do turismo ao sustento de famílias.
Desta vez, com o óleo, o terror se esconde, já que ele se desloca submerso, diferentemente da maré de lama que tomou conta do Rio Doce e também atingiu o litoral. O assombro é o mesmo. Da lama ao óleo, persistem as irresponsabilidades.
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