Ao mesmo tempo que, no Espírito Santo, são visíveis os avanços — somos um Estado moderno, industrializado, com cidades com considerável nível de organização —, também é comum esbarrar nos atrasos, como se houvesse diferentes Espíritos Santos. E eles existem. Em uma das escalas mais baixas, 2,5 mil famílias em várias localidades simplesmente vivem sem luz elétrica.
Algo impensável para muita gente em um tempo no qual a automação e a conectividade se tornaram quase naturais para as pessoas, ao ponto de dar até para se esquecer de que muitas das atividades da nossa rotina dependem de energia elétrica. E essas pessoas não conseguem ter acesso nem ao básico, como manter os alimentos refrigerados. Quando conseguem, é na base do improviso.
O fornecimento do serviço é inexistente, na maioria dos casos, por falta de regularização fundiária. São imóveis que por diferentes motivos não estão legalizados, com processos que caminham lentamente na Justiça. Todos lavam as mãos: concessionárias, prefeituras e governo, e a própria Justiça.
É como um apagão estatal, no qual o poder público peca pela omissão, quando deveria ser o vetor para mudar a realidade dessas pessoas, que vivem nas sombras de um serviço essencial. O poder estatal não dá conta de regularizar a situação desses terrenos, e quem paga o preço são as pessoas, que acabam recorrendo à judicialização. E essas decisões também se arrastam.
O levantamento com o número de famílias nessa situação no Estado foi realizado pelo Núcleo de Defesa Agrária e Moradia (Nudam), da Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES), que representa famílias em processos judiciais. Em maio passado, a colunista Vilmara Fernandes, que em janeiro de 2023 havia feito uma reportagem especial sobre as famílias de uma comunidade de Pedro Canário que vivem sem energia, mostrou a vitória judicial de um desses moradores.
São êxitos pontuais, mas importantes demais para quem precisa. São gerações que nunca tiveram uma lâmpada acesa em casa. Como sociedade, é inconcebível permitir que tanta gente ainda não tenha acesso ao básico, aprofundando a escuridão do nosso abismo social.
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