Para o almoço chegar, basta um clique. Quer um veículo? Baixe um aplicativo. Na hora do lazer, a biblioteca de livros ou o acervo de filmes cabem na palma da mão. A internet, de fato, promove uma série de facilidades no dia a dia. Essa praticidade permitiu a popularização da tecnologia e tornou o mundo um espaço hiperconectado em que quem não está on-line praticamente não é visto.
Se as gerações anteriores precisaram correr atrás para se adaptar a esta nova realidade, os pequenos de hoje já nascem imersos em um universo quase que exclusivamente digital. Mas, sendo eles tão novos, como essa disposição de tecnologia pode influenciar na educação desta nova geração?
De acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2022, 83% das crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, acessam a internet mais de uma vez por dia. O TikTok dispara como a rede social mais utilizada, com mais de 35% do público. O Instagram (34,6%) e o Facebook (6,8%) completam o pódio.
Apesar das facilidades que a internet proporciona, quem é ativo nesses sites sabe a quantidade de anúncios e propagandas presentes nos conteúdos de influenciadores e nos feeds pessoais. É aí que a atenção deve ser redobrada: ao permitir o acesso de crianças, o “marketing de influência” pode interferir no consumo da geração alpha (nascidos após 2010), que já tem peso nas decisões da família.
“A internet está lotada de influenciadores digitais que estudam como destacar seu conteúdo e fazer as pessoas tomarem alguma ação por meio do neuromarketing, gatilhos mentais e copywriting. Por conta disso, cabe aos pais monitorarem o uso da internet pelas crianças e filtrarem quais são os criadores de conteúdo que elas podem acompanhar”, destaca a professora de Marketing Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, Mariana Munis de Farias.
Ela também explica que os principais objetivos do marketing de influência são: aumentar a visibilidade da marca, criar consciência de produto, gerar engajamento, estreitar relacionamento com público e, por consequência, impulsionar as vendas.
“Logo, deixar a internet nas mãos da criança, sem vigilância, é algo muito perigoso, já que muitas marcas e influencers trabalham para se engajar com a audiência a fim de vender mais”, pontua.
Ainda de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, citada no início da matéria, 58% dos usuários de internet de 9 a 17 anos já pesquisou itens na internet para comprar ou apenas para ver quanto custavam. Já a porcentagem de quem efetivamente realizou uma compra pela internet é ainda maior: 86,3%.
No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) proíbe, desde 1990, a publicidade infantil e considera esse tipo de propaganda ilegal. Isso porque, até uma certa idade, as crianças ainda estão se desenvolvendo crítica, física, mental, moral e socialmente. Entretanto, existem lacunas de interpretação na Constituição que permitem a criação de conteúdos on-line que acabam influenciando o consumo de uma forma indireta.
“As marcas aproveitam a credibilidade e o alcance dos criadores de conteúdo para promover produtos e serviços, por meio de parcerias”, reforça Mariana Munis de Farias.
É aí que a atenção deve ser redobrada. Já que, por meio desses gatilhos mentais, muitas empresas acabam se aproveitando do possível uso indiscriminado infantil nos espaços on-line para venderem produtos, marcas e serviços.
Para a psicóloga e especialista em inteligência parental Fernanda Perim, conhecida pelo perfil PsiMama no Instagram, o uso das telas para crianças não é um problema, mas um desafio que precisa ser organizado e administrado. O caminho para isso é saber se comunicar com a criança e criar estratégias para que ela também goste de aproveitar o tempo off-line.
Por isso, criar limites é muito importante. Entretanto, a especialista afirma que estabelecer isso sem criar conflito é basicamente uma ciência de comunicação. Afinal, para a especialista é muito mais sobre relacionamento do que controle.
“Quando a gente fala em criar limites, muitas pessoas acham que os pais precisam controlar os filhos, mas isso é um mito. O foco precisa ser a qualidade do relacionamento, no tanto que você conhece a criança e como se comunicar de forma clara”, reforça.
A psicóloga ainda pontua que a atual geração de pais vem de um modelo educacional que quase não se falava sobre conversar de forma respeitosa com as crianças. “Os adultos de hoje precisam aprender isso e criar um repertório que não se tinha quando pequenos”, finaliza.
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