A escola está inserida na comunidade e sempre ocupou um lugar de destaque enquanto instrumento de crescimento pessoal e intelectual de crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos. Por isso, essa instituição reflete aspectos vivenciados na sociedade. Ela não está isolada.
Isso significa dizer que os dilemas atuais, a forma dos relacionamentos de uns com os outros, a interação no ambiente político e com a tecnologia, tudo está presente no espaço educacional porque a escola reverbera o que está do lado de fora.
Assim, a crescente violência social, a intolerância, o preconceito e a falta de diálogo também repercutem no ambiente estudantil, demonstrando a necessidade de mobilização e de desenvolver ações que buscam garantir a educação como estratégia prioritária para o enfrentamento da radicalização e da violência nas escolas.
Estudo do Instituto Sou da Paz constata que, em duas décadas, houve episódios pontuais de ataques em unidades de ensino no Brasil, mas o cenário se agravou e, nos últimos dois anos, essa prática ganhou escala, inclusive com episódios no Espírito Santo.
“Uma narrativa que reforça o uso de armas não é algo dissociado da mensagem. Uma narrativa de desvalorização do processo educativo, com esse lugar da violência como alternativa, promove essa desvalorização da escola e ainda a coloca como um alvo”, analisa Renato Brizzi, coordenador de ensino fundamental do Itaú Social.
Para ele, é preciso entender a escola como reflexo de uma série de dinâmicas e olhar para os aspectos visíveis da violência como consequência.
Assim, segundo Brizzi, é possível identificar o problema e construir estratégias para combatê-lo.
O aumento de episódios registrados nos últimos dois anos em escolas no Brasil demandou ações emergenciais de contenção, unindo a comunidade escolar e o poder público nesse enfrentamento.
Além de reforço policial, com as rondas escolares, e da instalação de detectores de metais em unidades de ensino, uma estratégia de prevenção tem apresentado resultados.
Uma parceria realizada entre a Safernet Brasil — organização não governamental que defende e promove os direitos humanos na internet — com o Ministério da Justiça resultou no desenvolvimento de um canal exclusivo (https://www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura) para recebimento de conteúdos disponíveis publicamente na internet que envolvam ameaças de ataque a escolas e à comunidade escolar.
Em um período de menos de 30 dias, entre 7 de abril de 2023 (data de lançamento) e 24 daquele mês, o canal Escola Segura recebeu 8.513 denúncias. Elas são anônimas e qualquer informação adicional deixada no campo de comentários é mantida sob sigilo.
O aumento dos relatos de denunciantes está diretamente relacionado ao crescimento exponencial do conteúdo violento e extremista na internet, avalia Bianca Orrico, psicóloga da Safernet.
“Esse cenário gera um ciclo em que mais conteúdos são produzidos e disseminados na rede, o que leva a um aumento nas denúncias por parte daqueles usuários preocupados com a segurança e o bem-estar de crianças, adolescentes e toda a comunidade escolar”, pontua.
Bianca reforça o que considera fundamental para a organização.
Essas medidas se consolidam tanto por meio das ações de mobilização para conscientização sobre o uso ético, seguro e responsável da internet com a rede de proteção, quanto em parcerias como a estabelecida com o Ministério da Justiça para o desenvolvimento de canal exclusivo de denúncias.
Para o enfrentamento à violência, as redes de ensino também devem se voltar para a construção de uma educação integral, para além da dimensão intelectual, ou conteudista, mas pensar no seu currículo de forma ampliada, abrangendo questões afetivas, sociais, físicas e culturais.
Isso pode ser tratado com a ampliação de espaços onde o processo de ensino acontece. Também é necessário gerar maior conexão com a comunidade onde a escola está inserida.
“É uma educação integral para além da ampliação da jornada de estudos, embora sejam alavancas importantes para que a rede consiga desenvolver com qualidade, mas é olhar para esse sujeito nas várias facetas de que ele é composto”, sugere Renato Brizzi.
É necessário, continua Brizzi, pensar na escola ampliando sua participação com os outros atores do território. Pensar em como o poder público consegue articular, criar protocolos nas diversas políticas para atender os estudantes e suas famílias, envolvendo secretarias da Saúde, Assistência Social, Cultura, Trabalho e Direitos Humanos. “A articulação da escola com esses equipamentos cria uma agenda mais positiva do estudante com esse território”, frisa.
Outra estratégia importante, constatada após a pandemia, é o apoio psicológico oferecido pelas instituições de ensino. Brizzi diz que é uma ferramenta para enfrentar as causas da violência e, naturalmente, prevenir suas consequências. question_answer
A Safernet Brasil desenvolveu em parceria com o governo do Reino Unido uma disciplina sobre Cidadania Digital com um caderno repleto de planos de aula, atividades e materiais de apoio, cumprindo com as diretrizes sobre cultura digital da Base Nacional Comum Curricular, que aborda diferentes temas, como bem-estar e saúde emocional on-line, segurança e privacidade na internet, respeito e empatia nas redes, relacionamentos seguros on-line e cidadania digital para todos.
A organização tem ainda um canal de ajuda, o Helpline, do qual Bianca Orrico é coordenadora. Essa ferramenta dispõe de uma equipe formada por profissionais especializados para orientar sobre como prevenir algumas violências on-line, o que fazer para denunciar e, quando possível, facilitar a identificação de instituições de saúde ou socioassistenciais que possam realizar um atendimento presencial. Para mais informações, o endereço eletrônico é https://www.canaldeajuda.org.br.
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