Vivemos uma diversidade geracional, e o que deveria servir de troca de experiências, muitas vezes, é motivo para discriminação. Expressões como “jovem demais” ou “velho demais” são usadas como forma de limitação e exclusão, em que a idade se torna um critério para julgar a competência ou o valor de uma pessoa, prejudicando tanto o ambiente corporativo quanto a diversidade de pensamento.
A divergência entre gerações no ambiente de trabalho está ligada às diferentes experiências, formas de pensar e expectativas que cada geração traz. Professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie nas áreas de Gestão de Pessoas e Estudos Organizacionais, Míriam Rodrigues cita alguns fatores que promovem essa divergência, como as diferenças tecnológicas.
“As gerações mais jovens cresceram em um ambiente altamente digital, enquanto as gerações mais antigas muitas vezes precisaram se adaptar ao avanço tecnológico. Isso pode causar choques no uso de ferramentas ou na expectativa de agilidade e flexibilidade”, afirma Míriam.
É importante observar que nem sempre o convívio entre diferentes gerações no ambiente de trabalho traz consequências negativas.
“A complementaridade existente nos diferentes perfis de profissionais pode enriquecer significativamente o ambiente de trabalho e os resultados obtidos pelas equipes. Para que isso ocorra, são importantes uma cultura organizacional e uma gestão adequada das lideranças no que se refere a este assunto”, reforça a professora.
Aos 23 anos, Lívia Otti, estagiária na área de Business Partner em Gente e Gestão da Suzano, em Aracruz, tem tido a experiência de trabalhar em um ambiente com diferentes gerações.
“Interagir com líderes experientes e trocar conhecimentos que vivencio é extremamente enriquecedor. Sempre que apresento um projeto, recebo elogios pela inovação e criatividade. Ao mesmo tempo, recebo contribuições valiosas dos mais experientes, que aprimoram ainda mais o conteúdo”, afirma.
Lívia é ainda embaixadora do Grupo de Afinidade Gerações, que promove ações de conscientização e incentivo ao respeito entre todas as gerações. Entre as iniciativas que o grupo realiza, estão rodas de conversa sobre etarismo, debates sobre maternidade entre gerações e o programa Reflorescer, voltado para colaboradores 55+. Essas ações ajudam a fortalecer o respeito e a compreensão entre diferentes idades e experiências.
“Acredito profundamente em uma empresa diversa, nas trocas intergeracionais e na importância dessas trocas para a construção de um futuro melhor. Como parte da geração Z na empresa, sinto que sou valorizada pelo que entrego e faço, e não pela minha idade. As pessoas confiam em nosso potencial, nos desafiam e nos apoiam em nosso desenvolvimento.”
Isaias Shimura, 49 anos, é gerente de Recuperação e Utilidades da Suzano e acrescenta que uma forma de evitar o etarismo na empresa é fazer com que as gerações se encontrem e contribuam umas com as outras.
Pessoas mais velhas podem enfrentar dificuldades em obter novas oportunidades, sendo vistas como menos adaptáveis ou tecnologicamente atrasadas. Já os jovens podem ser subestimados, vistos como inexperientes, independentemente de suas competências.
Comentários como "essa pessoa não vai se adaptar às mudanças" (para alguém mais velho) ou "esse jovem é imaturo" são formas de estereotipar com base na idade.
Profissionais mais velhos podem ser excluídos de decisões importantes ou de projetos de inovação, sob a suposição de que suas ideias são ultrapassadas. Por outro lado, profissionais jovens podem ter suas contribuições desvalorizadas por falta de experiência.
Adotar uma abordagem ativa para garantir a formação de equipes compostas por pessoas de diferentes idades, reconhecendo que a diversidade etária, assim como a diversidade de gênero e etnia, traz benefícios para a inovação e a tomada de decisões.
Promover treinamentos sobre diversidade e inclusão, com foco no combate ao etarismo, pode ajudar os colaboradores a reconhecerem e confrontarem seus próprios preconceitos. Essas formações precisam destacar como a idade pode trazer diferentes perspectivas valiosas.
Implementar programas de mentoria reversa, nos quais profissionais mais jovens compartilham conhecimentos tecnológicos ou de tendências atuais com os mais experientes, enquanto aprendem com a experiência destes, pode ajudar a reduzir tensões e criar um ambiente de troca mútua.
Empresas podem adotar políticas de contratação que promovam a equidade, garantindo que candidatos sejam avaliados por suas competências e experiências, não por sua idade. Também é importante oferecer oportunidades de capacitação contínua para todos, independentemente da idade.
Fonte: Míriam Rodrigues, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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