Duas gerações convivem hoje na escola. São as chamadas GenZ (formada pelos nascidos entre 1995 e 2010) e Alpha (com os nascidos a partir de 2010), que vivem imersas em um mundo digital e que demandaram mudanças estruturais no processo de ensino-aprendizagem. Livro e caderno perderam espaço para tablets e computadores. Até mesmo a tradicional lousa ganhou roupagem tecnológica.
Só que essa metamorfose segue em andamento. A reflexão que educadores fazem agora é: para que usar tantas tecnologias? Como investir mais na conexão humana, analógica, já que a escola nunca deixou de ter a função de formar cidadãos? Essas indagações não têm respostas prontas. Mas fato é que a missão de tornar a escola mais atrativa não será cumprida com a adoção apenas de novas tecnologias.
O papel da escola vem sendo ressignificado há algum tempo. Hoje, é possível estudar sem fronteiras, por meio de um click, na internet.
“Só que a escola não tem somente um papel de formação técnica. Há uma função de formação de cidadãos e, claro, a experiência. Então, a escola vai cada vez mais se adequar e se alinhar aos avanços tecnológicos, mas ela precisa ter essa visão de formadora de seres humanos, priorizando experiências e interações, promovendo espaços criativos e inovadores”, pontua Otávio Lube dos Santos, especialista em Educação.
Ele é enfático ao afirmar ser importante educar os alunos para usar as tecnologias de maneira consciente e ética, para que sejam detentores do poder e não uma massa de manobra controlada pela internet.
Países que se desenvolveram tecnologicamente na educação estão reavaliando suas estratégias. Muitos vêm diminuindo o uso de tela, voltando para o livro, outros estão proibindo o uso de celular em sala de aula.
“A grande questão envolve o potencial que a conexão gera e o que as ferramentas são capazes de fazer. Mas, para a escola regular valer-se disso, é outra realidade. É importante considerar que o maior valor das escolas é a possibilidade do contato humano”, ressalta o diretor-geral da Escola Monteiro, Eduardo Costa Gomes.
Para ele, a humanidade está vivendo uma experiência em tempo real. “Há muitas coisas legais acontecendo, mas o efeito disso, ora positivo, ora negativo, leva a uma reavaliação.”
A pedagoga Flávia Sperandio, especialista em Informática na Educação e mestra em Psicologia Institucional, defende que a escola deve estar conectada às questões de seu tempo, constantemente se reinventando, porque a sociedade está em contínua transformação, e porque a escola é formada pelas próprias pessoas, integrantes dessa sociedade, ícones dessas transformações.
“Devemos buscar entender quais são as demandas de nosso tempo e nos perguntar como construiremos uma formação coerente com elas, garantindo o direito à cidadania, garantindo a fluência nas linguagens que nosso mundo (sempre novo) fala”, analisa.
A conexão humana, analógica, é a primeira que carece de investimento para construirmos escolas e comunidades cada vez mais qualificadas, afirma a pedagoga. “Isso porque, para aprender, precisamos interagir, precisamos da experiência social e de vínculo.”
A pedagoga observa que os métodos, os meios e os materiais são recursos para viabilizar as interações e as experiências aprendentes, e não podem preceder o objetivo de ensino-aprendizagem.
Flávia Sperandio cita, como exemplo, a escolha de incluir ou não celulares, tablets, computadores e projetores na escola, uma decisão que, em sua avaliação, não pode ser mais importante do que a intencionalidade pedagógica sobre o que será feito com esses recursos. “Ter um tablet para acessar o quê? Para quê?”
O grande objetivo do sistema de educação é melhorar e formar outras pessoas. E esse papel, lembra o professor Fábio Portela, diretor-geral do UP Centro Educacional, não é desempenhado via Bluetooth.
Muito mais que os recursos tecnológicos disponíveis, Portela ressalta que as escolas precisam formar pessoas capazes de lidar com essas ferramentas de forma inteligente, saudável e precisa. Portanto, para ele, investir na capacitação da equipe é crucial.
Difícil, na opinião do professor, é formar seres humanos dotados de visão crítica, de empatia, com capacidade de resolver uma situação-problema com a devida competência esperada pelo mundo afora. “Computador, IA, ChatGPT…Nenhum deles fará (tudo) isso por nós.”
Portela reforça, entretanto, que a ideia não é o abandono da tecnologia, que pode e deve ser bastante usada, desde que como ferramenta e com responsabilidade para que, de fato, colabore com os processos de ensino-aprendizagem.
Nesse contexto de formação, as pessoas fazem a diferença. Daniel Rojas, diretor-geral da Escola Madan, sugere que uma aula atrativa é aquela em que o aluno participa ativamente. Para isso, diz ele, a instituição investe no desenvolvimento contínuo dos professores, incentivando o uso de métodos dinâmicos e interativos.
“Também estimulamos a aplicação de projetos que envolvem pesquisas e debates, permitindo que os alunos se tornem protagonistas do seu aprendizado. A ideia é transformar a sala de aula em um ambiente onde o conhecimento seja construído coletivamente, sem perder de vista seu papel formador.”
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