Se é para mudar, por que não mudar, também, de carreira? Mais que uma simples pergunta hipotética, essa questão tem servido como pontapé para que seis entre dez brasileiros, de fato, encarem a transição profissional como possibilidade real. É o que revela uma pesquisa realizada pela plataforma LinkedIn com mais de 23 mil trabalhadores – sendo 1,3 mil brasileiros – e divulgada no último mês de fevereiro.
A insegurança financeira aparece na pesquisa como principal fator para o desejo de migrar para outra área. O LinkedIn constatou que 20% desse público inclinado à transição, inclusive, já começou a se movimentar para efetivar a mudança. Algo parecido com o que viveu recentemente a advogada Karla Abad, de 52 anos. Graduada em Direito, ela começou no Poder Judiciário ainda no primeiro ano da faculdade. Depois de um tempo, teve de assumir a administração da empresa familiar.
Mãe de dois filhos e triatleta, completou um Ironman em Florianópolis em 2022, aos 50 anos: “Também nessa época, decidi mudar minha vida profissional e hoje sou corretora de imóveis e estou aprendendo a lidar com adversidades de forma mais assertiva”, relata.
Quem também deu uma guinada na atuação profissional foi Luciana de Martin, 54. Depois de 30 anos em uma mesma empresa – metade desse tempo vivendo no exterior como diretora na área de comércio exterior –, ela voltou ao Brasil em 2023 e se viu desempregada.
“Fiquei muito tempo fora do país e da realidade brasileira. Competitividade e etarismo são discutidos, mas conviver com isso é diferente”, admite. Mesmo tendo ocupado cargos de destaque e colecionado experiência, Luciana estava angustiada.
“Aprendi que, para mudar, é preciso uma série de estímulos: estudo, treino, orientação e autocuidado”, enumera. Nesse processo, ela conta que descobriu seu interesse pela escrita e está se preparando para esse novo desafio, explorando áreas como tradução e crônicas.
Karla e Luciana são mentoradas por Ana Paula França, especialista em gestão, finanças e alta performance e fundadora do projeto capixaba Acelera Mulheres, voltado ao treinamento, avaliação e redirecionamento de carreiras femininas.
Ana Paula avalia que, em sua experiência, a insatisfação profissional é um fator significativo, em especial entre as mulheres. “Outro aspecto que percebi é que, no geral, as pessoas mais jovens são as que mais assumem riscos para terem maior controle sobre sua carreira”, observa.
A profissional ressalta, ainda, que o maior impeditivo para muitas pessoas, no entanto, costuma ser a questão financeira. “Por isso, uma reserva financeira é essencial para enfrentar a transição com menos ansiedade e pressão”, indica.
A professora doutora em Psicologia Priscilla Martins Silva, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que a transição de carreira é cada vez mais comum e que outros fatores além da insatisfação profissional contribuem para isso.
“A vida no mercado de trabalho se estende com pessoas produtivas até os 60 anos ou mais. Por isso, é comum ver mudanças de carreira ou múltiplas carreiras simultâneas”, analisa.
Fatores que influenciam essa mudança, como busca por novos aprendizados e desafios, também são pontuados pela professora. “Alguns podem ter a oportunidade de cursar uma faculdade mais tarde, por exemplo. Outros casos são as mulheres que optam por empreender para equilibrar trabalho e família, almejando flexibilidade que empresas nem sempre oferecem”, observa.
Raquel Nonato, coordenadora de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, menciona mais causas dessas mudanças, como a constante instabilidade no mercado e a desconexão entre teoria e prática das carreiras.
“Além disso, no Brasil, a baixa inclusão produtiva e as poucas oportunidades intensificam a procura por transições de carreira”, conclui.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta