Morando em Los Angeles há dois anos, onde estuda atuação na AMDA - College and Conservatory of the Performing Arts, a capixaba Barbara Marques está se firmando como realizadora na terra do Tio Sam. Seu terceiro projeto audiovisual, o documentário "Cartaxo", acabou de ser selecionado para o LABRFF, Los Angeles Brazilian Film Festival, uma das maiores mostras do cinema brasileiro em solo norte-americano.
Em descontraído bate-papo virtual com o "Divirta-se", Bárbara, cuja família mora em Vila Velha, falou da emoção em prestar, com o seu filme, uma singela homenagem à atriz Marcélia Cartaxo, protagonista do documentário.
"O filme vai estrear no mesmo local em que foi gravado. E isso é mágico", suspira a cineasta, de 33 anos. "Marcélia foi homenageada no LABRFF em 2019, quando veio exibir o filme 'Pacarrete'. Aproveitei para registrar sua passagem por Los Angeles, desde a chegada ao aeroporto, passando pelo hotel, até a consagração no auditório onde o festival é realizado", explica.
"Capturei momentos de intimidade da atriz, com muita sensibilidade. 'Cartaxo' acabou virando um projeto bem simples, quase conceitual. Uma espécie de declaração de amor a um grande nome do cinema brasileiro", detalha, empolgada, a realizadora que, anteriormente, dirigiu os também documentários "Cosme e Damião" (2016) e "Amor" (2018).
"Marcélia Cartaxo é um exemplo de artista a ser seguido. Mulher e nordestina, nunca se deteve a estereótipos, sempre se entregando de corpo e alma aos seus papéis. Foi assim desde que se consagrou como atriz em 1985, quando venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim, com 'A Hora da Estrela'", relembra.
Formada em cinema no Rio de Janeiro, em 2015, Barbara Marques resolveu tentar a vida nos Estados Unidos para ficar mais perto da maior indústria do cinema mundial. "Aqui as coisas acontecem. Na rua, você esbarra com cineastas e produtores. Convites sempre acabam pintando. Atualmente, trabalho como diretora assistente de um curta-metragem norte-americano, 'Americans Baby', de Julia Weisberg. É um aprendizado constante".
É impossível conversar com uma pessoa que mora tão próximo de Hollywood, sem perguntá-la se já conheceu atores famosos. "Alguns! (risos). Já cruzei com Jack Black ('A Escola de Rock') e Jordan Peele (vencedor do Oscar por 'Corra'). Quentin Tarantino rodou 'Era uma Vez em Hollywood' próximo a minha casa. Viver em LA é daquele jeito mesmo", brinca.
Barbara, que também trabalha em uma lanchonete e dá aulas de português para americanos, se empolga para falar de seu próximo projeto. Sua estreia no cinema hollywoodiano.
"Estou produzindo o meu primeiro curta em inglês, 'Basement', com a atriz Becca Khalil. Ela esteve no elenco do filme 'A Despedida' (2019), que, nesse ano, deu o Globo de Ouro a Awkwafina. É uma história de terror, sobre uma garota que fica presa em um porão. Aos poucos, vou fazendo conexões em Hollywood. Quem sabe um dia não sou indicada ao Oscar?", suspira. Abaixo, veja cenas dos bastidores de 'Basement'.
Bárbara afirma que todos os cinemas americanos continuam fechados, por conta da pandemia do novo coronavírus. Com a situação sanitária do pais ainda longe de se normalizar, ela acredita que o streaming será a saída definitiva para a indústria.
"Estive nos estúdios da Paramount no início do ano, para conferir a pré-estreia de 'Um Crime para Dois' (comédia com Issa Rae e Kumail Nanjiani). Os produtores tentaram estrear nos cinemas, mas, com a crise, resolveram lançar o filme diretamente na Netflix. Acredito que a Disney também acertou em lançar 'Mulan' diretamente em streaming. A indústria não pode parar e é preciso testar novas formas de consumo do cinema", complementa.
Dizendo se inspirar nos trabalhos de Terrence Malik e Eduardo Coutinho para compor seus filmes, a realizadora capixaba vê com tristeza o desmonte das políticas culturais impostas pelo governo federal.
"Um país com uma miscigenação tão grande, não pode ficar sem um ministério para gerir a sua cultura. Nos Estados Unidos, o Brasil é muito respeitado quando falamos de cinema. Eles têm referências de filmes de qualidade, como 'Cidades de Deus' e 'Central do Brasil'. Esse respeito vem com muito trabalho. Temos pessoas de talento em nosso país e elas precisam cada vez mais ser valorizadas e apoiadas", complementa.
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