“Eu vivi a minha morte, agora, só falta fazer um filme sobre ela”. Com essas palavras, Hector Babenco, o nome do cinema brasileiro mais premiado e reconhecido no exterior, permitiu que a esposa, a atriz Bárbara Paz, fizesse um filme sobre os seus últimos momentos, isso ao perceber que não lhe restava mais muito tempo de vida após lutar contra o câncer por mais de 30 anos.
Morto em 2016, aos 70 anos, após uma parada cardiorrespiratória, Hector, argentino radicado no Brasil, é o epicentro narrativo de "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", intimista documentário dirigido com paixão por Bárbara Paz, companheira do artista durante os seus seis últimos anos.
O longa-metragem, disponível para locação nas plataformas Looke e Now, foi indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional.
Entre idas e vindas ao hospital – em cenas filmadas com extrema delicadeza –, Bárbara Paz criou não só um "filme-testamento", mas também compõe em imagens a comprovação de que o amor à Sétima Arte foi um remédio e o alimento para que o diretor continuasse vivendo e trabalhando, especialmente em produções consagradas, como "Pixote: A Lei do Mais Fraco" (1981), indicado ao Globo de Ouro, e "O Beijo da Mulher Aranha" (1985), magistral adaptação da literatura de Manuel Puig, um libelo na luta contra a Ditadura Militar.
Pelo filme estrelado por Sônia Braga, Babenco foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor, feito que o cinema brasileiro veio repetir apenas em 2003, com Fernando Meireles concorrendo na mesma categoria, com "Cidade de Deus". "O Beijo da Mulher Aranha" também deu o Oscar de Melhor Ator para William Hurt, em uma das maiores atuações de sua carreira.
Por falar em Oscar, "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", mesmo tendo vencido o prêmio de Melhor Documentário no Festival de Veneza 2019, e contar com o prestígio do realizador junto a Academia de Cinema de Hollywood, terá concorrência pesada na categoria Filme Internacional.
Franco favorito, o dinamarquês "Another Round", de Thomas Vinterberg, uma produção apenas correta, é o candidato a ser batido. Também entram como destaques, "Night of the Kings", da Costa do Marfim, o (excelente) documentário romeno "Collective", e o sensível drama familiar taiwanês "A Sun".
Ciente de que a batalha vai ser dura, Bárbara Paz conversou com a reportagem do Divirta-se, de A Gazeta, para falar dos preparativos da campanha de "Babenco" junto aos votantes do Oscar, com indicações do prêmio a serem divulgadas em março. Abaixo, veja trechos do bate-papo.
O anúncio foi feito pela Academia Brasileira de Cinema depois da reunião dos júris. “Babenco” foi o primeiro documentário a ser escolhido pelo Brasil a competir na categoria Melhor Filme Internacional. Foi uma surpresa maravilhosa, fiquei muito emocionada! O Hector merecia muito isso.
"Babenco" é um filme testemunho... Acho que as pessoas estão um pouco cansadas de ficção, desejando a realidade. Documentário é um formato muito consumido no streaming, também. É preciso uma janela bem maior, pois poucos documentários ficam em cartaz. Então, é bom que o público saiba que existem documentários maravilhosos vindos de várias partes do mundo.
Foi a primeira vez que um filme brasileiro ganhou Veneza! Eu não esperava, fiquei muito emocionada. Estávamos competindo com documentários incríveis também sobre outros diretores, como Andrei Tarkovsky. Além disso, a repercussão no exterior vem sendo bem grande. Já participamos de mais de 20 festivais internacionais e, recentemente, conquistamos o prêmio de Melhor Documentário no Festival Internacional de Documentários de Guangzhou, na China.
O Hector tem muita força e acho que pode ajudar, inclusive gerando curiosidade entre os jurados da Academia. Mas precisamos também que o filme seja visto, por isso é necessário investir em uma campanha publicitária forte lá fora.
O Hector sempre foi uma pessoa apaixonada pela vida, que sempre lutou contra a doença e viveu para isso. Ele fez do cinema a força motriz dele para viver. Ele foi meu parceiro na vida. É essa paixão pela vida que eu quis mostrar, sobre esse homem lutando contra os leões, contra essas doenças e tudo que tinha ao redor dele.
A gente está vivendo um momento lindo na história do cinema nacional. Os filmes estão sendo premiados no mundo inteiro e as pessoas amam o cinema brasileiro, querem se alimentar de cinema brasileiro e gostam de cinema brasileiro. Não é a política que vai parar a gente agora e esse reconhecimento pela Academia Brasileira de Cinema me deu esse aval de não parar.
O filme ainda não tem distribuição nos Estados Unidos. Criamos uma campanha de crowdfunding (https://benfeitoria.com/babenco) para nos ajudar nos custos e levar o filme mais longe. Os coprodutores Globo Filmes e Canal Brasil e os apoiadores Globo, Itaú e SpCine também ajudam no investimento da campanha e esse ano o Governo Federal (via Ancine) ainda não nos respondeu sobre a ajuda financeira normalmente dada. Vamos aguardar...
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