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Bárbara Paz: "Não é a política que vai parar o cinema brasileiro"

Bárbara Paz: "Não é a política que vai parar o cinema brasileiro"

Atriz e diretora comanda o documentário "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", produção que representará o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional. Em entrevista, ela fala da expectativa de conseguir a estatueta

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 02:00- Atualizado há 4 anos

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Cena do filme
Cena do filme "Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou": representante do Brasil no Oscar 2021. (Primeiro Plano/Divulgação)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

“Eu vivi a minha morte, agora, só falta fazer um filme sobre ela”. Com essas palavras, Hector Babenco, o nome do cinema brasileiro mais premiado e reconhecido no exterior, permitiu que a esposa, a atriz Bárbara Paz, fizesse um filme sobre os seus últimos momentos, isso ao perceber que não lhe restava mais muito tempo de vida após lutar contra o câncer por mais de 30 anos. 

Morto em 2016, aos 70 anos, após uma parada cardiorrespiratória, Hector, argentino radicado no Brasil, é o epicentro narrativo de "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", intimista documentário dirigido com paixão por Bárbara Paz, companheira do artista durante os seus seis últimos anos. 

O longa-metragem, disponível para locação nas plataformas Looke e Now, foi indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional.

Entre idas e vindas ao hospital – em cenas filmadas com extrema delicadeza –, Bárbara Paz criou não só um "filme-testamento", mas também compõe em imagens a comprovação de que o amor à Sétima Arte foi um remédio e o alimento para que o diretor continuasse vivendo e trabalhando, especialmente em produções consagradas, como "Pixote: A Lei do Mais Fraco" (1981), indicado ao Globo de Ouro, e "O Beijo da Mulher Aranha" (1985), magistral adaptação da literatura de Manuel Puig, um libelo na luta contra a Ditadura Militar. 

Pelo filme estrelado por Sônia Braga, Babenco foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor, feito que o cinema brasileiro veio repetir apenas em 2003, com Fernando Meireles concorrendo na mesma categoria, com "Cidade de Deus". "O Beijo da Mulher Aranha" também deu o Oscar de Melhor Ator para William Hurt, em uma das maiores atuações de sua carreira

Por falar em Oscar, "Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", mesmo tendo vencido o prêmio de Melhor Documentário no Festival de Veneza 2019, e contar com o prestígio do realizador junto a Academia de Cinema de Hollywood, terá concorrência pesada na categoria Filme Internacional. 

Franco favorito, o dinamarquês "Another Round", de Thomas Vinterberg, uma produção apenas correta, é o candidato a ser batido. Também entram como destaques, "Night of the Kings", da Costa do Marfim, o (excelente) documentário romeno "Collective", e o sensível drama familiar taiwanês "A Sun"

Ciente de que a batalha vai ser dura, Bárbara Paz conversou com a reportagem do Divirta-se, de A Gazeta, para falar dos preparativos da campanha de "Babenco" junto aos votantes do Oscar, com indicações do prêmio a serem divulgadas em março. Abaixo, veja trechos do bate-papo.

Como você recebeu a indicação de "Babenco" para representar o Brasil no Oscar 2021?

  • O anúncio foi feito pela Academia Brasileira de Cinema depois da reunião dos júris. “Babenco” foi o primeiro documentário a ser escolhido pelo Brasil a competir na categoria Melhor Filme Internacional. Foi uma surpresa maravilhosa, fiquei muito emocionada! O Hector merecia muito isso.

Entre os projetos que alguns países indicaram para Filme Internacional, várias produções são documentários, como os representantes da Itália e da Romênia, só para citar alguns. Ao seu entendimento, qual o motivo de estarem apostando nesta opção narrativa?

  • "Babenco" é um filme testemunho... Acho que as pessoas estão um pouco cansadas de ficção, desejando a realidade. Documentário é um formato muito consumido no streaming, também. É preciso uma janela bem maior, pois poucos documentários ficam em cartaz. Então, é bom que o público saiba que existem documentários maravilhosos vindos de várias partes do mundo. 

"Babenco" vem recebendo elogios por onde passa, a começar pelo prêmio de Melhor Documentário no Festival de Veneza. Você esperava esse reconhecimento internacional em seu primeiro trabalho atrás das câmeras?

  • Foi a primeira vez que um filme brasileiro ganhou Veneza! Eu não esperava, fiquei muito emocionada. Estávamos competindo com documentários incríveis também sobre outros diretores, como Andrei Tarkovsky. Além disso, a repercussão no exterior vem sendo bem grande. Já participamos de mais de 20 festivais internacionais e, recentemente, conquistamos o prêmio de Melhor Documentário no Festival Internacional de Documentários de Guangzhou, na China.

Cena do filme
Cena do filme "Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou": representante do Brasil no Oscar 2021. (Primeiro Plano/Divulgação)

Babenco era um dos nossos cineastas mais respeitados fora do país, em produções de sucesso, como "Pixote" e "O Beijo da Mulher Aranha", pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor e firmou sua carreira no exterior. Esse talento reconhecido pode, a seu ver, impulsionar o documentário na corrida pelo Oscar?

  • O Hector tem muita força e acho que pode ajudar, inclusive gerando curiosidade entre os jurados da Academia. Mas precisamos também que o filme seja visto, por isso é necessário investir em uma campanha publicitária forte lá fora.

Você esteve muito presente na vida do cineasta. Quais características de Babenco a Bárbara Paz levou para a carreira de realizadora?

  • O Hector sempre foi uma pessoa apaixonada pela vida, que sempre lutou contra a doença e viveu para isso. Ele fez do cinema a força motriz dele para viver. Ele foi meu parceiro na vida. É essa paixão pela vida que eu quis mostrar, sobre esse homem lutando contra os leões, contra essas doenças e tudo que tinha ao redor dele.

Aspas de citação

Hector Babenco foi o meu parceiro na vida. E essa paixão pela vida que eu quis mostrar no filme. Sobre esse homem lutando contra os leões, contra essas doenças e tudo que tinha ao redor dele.

Bárbara Paz
Atriz e diretora
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"Babenco" é um filme que transpira amor pelo cinema. Como é fazer cinema em um país com a atual realidade política brasileira, com cortes nas leis de incentivo e desmantelamento de aparelhos culturais, como a cinemateca? De onde tirar forças para continuar fazendo arte?

  • A gente está vivendo um momento lindo na história do cinema nacional. Os filmes estão sendo premiados no mundo inteiro e as pessoas amam o cinema brasileiro, querem se alimentar de cinema brasileiro e gostam de cinema brasileiro. Não é a política que vai parar a gente agora e esse reconhecimento pela Academia Brasileira de Cinema me deu esse aval de não parar.

Bárbara Paz, atriz e diretora do documentário
Bárbara Paz, atriz e diretora do documentário "Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou". (Bob Wolfersen)

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Como será a estratégia de divulgação do filme para os votantes do Oscar? "Babenco" conseguiu distribuição nos Estados Unidos, isso ajudaria bastante?

  • O filme ainda não tem distribuição nos Estados Unidos. Criamos uma campanha de crowdfunding (https://benfeitoria.com/babenco) para nos ajudar nos custos e levar o filme mais longe. Os coprodutores Globo Filmes e Canal Brasil e os apoiadores Globo, Itaú e SpCine também ajudam no investimento da campanha e esse ano o Governo Federal (via Ancine) ainda não nos respondeu sobre a ajuda financeira normalmente dada. Vamos aguardar...

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