Em cartaz nos cinemas do Estado, "Judas e o Messias Negro" se destaca pelo vigoroso desempenho de Daniel Kaluuya na pele de Fred Hampton, atuante líder do partido norte-americano Panteras Negras, assassinado em 1969, durante uma ação conjunta entre o FBI e a polícia de Chicago. A morte - ainda envolta por mistérios - até hoje reverbera entre lideranças negras nos Estados Unidos, sendo fonte de acalorados debates e tensões raciais, típico para um país imerso no "caldeirão" do racismo.
Carismático e de talento inquestionável, Daniel Kaluuya deve vencer o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel, visto que "levou para casa" o Globo de Ouro e o Critcs Choice Awards, dois importantes troféus na temporada de premiação. Sua vitória no prêmio do Sindicato dos Atores (SAG) em abril, o principal termômetro para o Oscar, é praticamente certa.
Especulações à parte, "Judas e o Messias Negro" é o palco certeiro para o ator de "Corra" brilhar. Tecnicamente perfeito, e com milimétrica reconstituição de época, o drama dirigido por Shaka King é bastante fiel à história de Fred Hampton.
Chamado de "Messias Negro" pelo FBI, Hampton foi perseguido pela inteligência norte-americana por lutar em favor dos direitos dos afrodescentes, em uma sociedade sessentista fragilmente marcada pelo racismo e pela desigualdade.
Impulsivo e politizado, o líder dos Panteras Negras era visto pelos supremacistas brancos como uma "ameaça" capaz de causar uma revolução com dimensões de guerra civil. Suas ideias marxistas causavam calafrios em J. Edgar Hoover, então diretor do FBI e maior perseguidor de Hampton, chegando a enquadrá-lo no Programa de Contra-espionagem do FBI (COINTELPRO) .
Especula-se que William O’Neal (interpretado por Lakeith Stanfield no filme), um dos apoiadores de Fred, foi um dos responsáveis diretos pela morte do líder partidário. O’Neal trabalhava como informante da agência americana, detalhando todos os passos da organização.
Fundado em 1966, o Partido dos Panteras Negras ficou popularmente conhecido por seus integrantes usarem boinas pretas, de estilo militar, jaquetas de couro e saudação de punho erguido. Lutavam basicamente pela igualdade dos direitos civis entre brancos e negros ("a luta do opressor contra o oprimido") e contra a brutalidade policial, nem que, para isso, incluísse a resistência armada.
Independente de seu radicalismo, os "Black Panters" - que, com o passar dos anos, acabaram virando símbolo da cultura pop americana - eram atuantes em causas sociais.
Frequentemente elaboravam políticas de intervenção e transformação do cotidiano de suas comunidades, sendo o exemplo mais louvável um programa que levava café da manhã para crianças negras que viviam à margem da sociedade, sem qualquer auxílio governamental. Os Panteras Negras também foram pioneiros na promoção da saúde da população negra e na criação de escolas.
Com a estreia de "Judas e o Messias Negro", o "Divirta-se" listou cinco filmes que relatam a história do "Black Panters". Confira na lista abaixo.
Grande trabalho de direção de Mario Van Peebles, baseado na peça teatral escrita por seu pai, Melvin Van Peebles. O longa é bem fiel à história dos Panteras Negras, da fundação, em 1966, até a sua extinção, em 1982. Violento e feroz, o filme merecia uma divulgação melhor na época do seu lançamento. Hoje, praticamente encontra-se fora de catálogo. No elenco, nomes de peso como Courtney B. Vance e Angela Bassett. Disponível em DVD no Brasil.
Indicado ao Emmy (o Oscar da TV americana), este excelente documentário dirigido por Stanley Nelson conta desde a fundação do grupo na década de 1960, na Califórnia, até os 40 anos seguintes, apresentando depoimentos de policiais, membros do FBI, informantes, jornalistas e ex-integrantes. O longa-metragem também aborda a influência dos "Black Panters" na cultura pop norte-americana. O documentário foi produzido pela Netflix.
O filme de Spike Lee retrata a trajetória de Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X. Ativista político, com seus ideais em defesa dos direitos civis dos negros americanos tornou-se inspiração para a criação do partido Panteras Negras (citado no longa-metragem). Por seu trabalho como protagonista, Denzel Washington recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Disponível no Amazon Prime Vídeo.
Produzido pela Starz dos Estados Unidos, o monólogo dirigido por Spike Lee é baseado na peça de mesmo nome escrita por Roger Guenveur Smith, que fez sucesso no circuito off-Broadway. Na trama, a turbulenta vida de Huey Newton, co-fundador, líder e inspirador dos Panteras Negras. O filme discute as dez teorias de revolução social que serviram de base para a formação do partido. Disponível no YouTube.
Elogiado pela crítica, o filme dirigido por Tanya Hamilton é narrado sob a ótica de Marcus Washington (Anthony Mackie), um ex-militante dos Panteras Negras que retorna a cidade onde passou boa parte da vida. Entre brigas com policiais por motivos raciais, Marcus vai se aproximando de Patrícia (Kerry Washington), uma amiga dos tempos de militância. Disponível em DVD no Brasil.
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