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Daniel Brühl, de 'Capitão América' e 'Adeus, Lênin', estreia na direção em Berlim

Daniel Brühl, de 'Capitão América' e 'Adeus, Lênin', estreia na direção em Berlim

Ator comanda e protagoniza 'Next Door', longa que reflete sua prória carreira exibido agora no festival alemão

Publicado em 4 de março de 2021 às 13:52- Atualizado há 4 anos

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Cena do filme
Cena do filme "Next Door". (Reiner Bajo/Divulgação)

Daniel, personagem de "Next Door", é um ator de origem alemã, que além de filmes pequenos locais também tem uma carreira internacional em Hollywood -e quer um papel numa nova produção de super-heróis. Daniel Brühl, diretor e protagonista do longa, também vem da Alemanha, onde acumula trabalhos aclamados que o ajudaram a chegar à indústria dos blockbusters, vivendo, por exemplo, um dos vilões da franquia "Capitão América", da Marvel.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. É o que diz Brühl por videoconferência, numa entrevista que acontece na esteira da edição pandêmica do Festival de Berlim, nesta semana. Já consagrado como ator, ele se senta na cadeira de direção pela primeira vez com "Next Door" -ainda sem perspectiva de chegar ao Brasil- para construir uma história com a qual ele queria ter uma conexão pessoal.

Na trama, o protagonista vive numa verdadeira bolha, imerso em seu mundo de fama e luxo. Certa manhã, ele entra no elevador envidraçado e exclusivo de seu apartamento em Berlim em direção ao aeroporto. Ele vai a Londres, para um teste para o mencionado papel num filme de heróis, mas olha a hora e percebe que ainda tem tempo para um café.

Num bar de esquina, que parece frequentar há tempos, ele começa a ser encarado por um homem sentado no balcão. O estranhamento evolui para uma irritação e os dois logo entram numa discussão. O outro, vizinho que Daniel nem reconhece, começa então a vomitar segredos íntimos da vida do ator, fazendo desmoronar seu palácio de perfeição e assepsia.

"Eu tinha o desejo de dirigir algo há muito tempo e eu sabia, depois de tudo o que ouvi dos diretores com quem trabalhei, que você precisa realmente conhecer o assunto sobre o qual vai falar, especialmente no seu primeiro filme", diz Brühl, que teve a ideia para o projeto num bar de tapas na Espanha.

"'Next Door' lida com coisas que eu vivi, mas nunca foi a minha intenção fazer um filme autoindulgente, autobiográfico. A proximidade com o personagem foi apenas para me ajudar a contar essa história. Ele poderia muito bem ser um arquiteto, um político ou um músico."

Quando a tensão no bar onde está a dupla de personagens principais aumenta, Daniel, num momento de raiva, agarra os cabelos de seu vizinho e arremessa seu rosto apático num prato de comida à frente, deixando um fio de sangue escorrer pela testa do sujeito. O ator-diretor brinca que não, essa não é uma das situações inspiradas em acontecimentos reais de sua vida.

Mas reflete a intenção seminal do projeto, a de mostrar, de forma hiperbólica, os sentimentos que se acumulam e enfim explodem quando duas realidades tão distintas se encontram num ambiente intimista e hostil. Em "Next Door", um se vê invadido, mesmo escolhendo a vida pública e aproveitando os privilégios que a acompanham. O outro, pisado pelo estrelismo alheio e por um estilo de vida que vai na contramão daquilo em que acredita.

Mesmo vivendo em Berlim e, agora, fazendo sua estreia como diretor na cidade, Brühl conta se sentir um estrangeiro ali. Ele é filho do diretor de TV teuto-brasileiro Hanno Brühl, nasceu em Barcelona, mas cresceu em Colônia, um lugar muito diferente da capital alemã, ele diz, por causa das marcas que a divisão pós-Segunda Guerra imprimiu nela.

Por causa dessa turnê de culturas que marcou seus primeiros anos de vida, o ator-diretor é fluente em alemão, espanhol, francês, português e inglês, o que talvez tenha colaborado para que ele arrematasse papéis tão díspares, em produções de variadas origens e sob a alçada de diretores de peso.

Brühl interpretou um oficial alemão em "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, e o piloto Niki Lauda em "Rush: No Limite da Emoção", de Ron Howard. Sob a batuta do brasileiro José Padilha, esteve no algo decepcionante "7 Dias em Entebbe", enquanto o público de televisão o conhece pela série "O Alienista". Mas foi o alemão "Adeus, Lênin" que o catapultou à fama, em 2003.

Enquanto artista, seu desejo é explorar o máximo de gêneros e funções que pode no universo cinematográfico. Por enquanto, ele não tem outros trabalhos de direção no horizonte, mas parece incansável em sua trajetória como ator.

Em duas semanas, ele estará na nova série da Marvel "Falcão e o Soldado Invernal". Mais à frente, num derivado do filme "Kingsman: Serviço Secreto" e numa nova versão de "Sem Novidade no Front", que, especulam, deve ter um dos maiores orçamentos do cinema alemão.

"Eu sempre tive interesse em explorar o máximo de áreas da minha profissão possível, por isso é curioso pensar o que diriam os fãs da Marvel se eles assistissem a 'Next Door'", reflete.

"Originalmente eu venho do que chamam cinema de arte, foi como eu comecei e foi o que sempre me atraiu. Mas independentemente disso, quando se fala em dirigir seu primeiro filme, não podemos voar tão alto. Eu não seria capaz, e acho que continuo não sendo, de dirigir um drama de época ou uma ficção científica. Então recorri a algo mais pessoal, segui meus instintos."

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