Quando Stephen King lançou há seis anos o romance "Doutor Sono", críticos e leitores ficaram entusiasmados. A continuação dos acontecimentos de "O Iluminado", escrito em 1977, era mais um indicador de que a criatividade do autor estava voltando a dar as caras nesta década.
"Doutor Sono", o filme, estreia nos cinemas e preserva a força do livro. Serve realmente como continuação de "O Iluminado", o longa de 1980, mas tem vida própria. Pode ser apreciado por quem não assistiu ao clássico dirigido por Stanley Kubrick, mas quem conhece a obra anterior vai se divertir mais com o resgate dos cenários e do clima do primeiro filme.
Danny Torrance, o menino que era filho do perturbado personagem de Jack Nicholson em 1980, é agora um adulto e herdou uma vida de angústias. Lidando com seus poderes, vendo fantasmas e entes malignos desde garoto, ele tenta fugir de seu destino.
Vivendo em Frazier, mais uma dessas cidadezinhas americanas que Stephen King adora criar, ele começa uma correspondência mental com Abra, uma menina negra de 12 anos que vive a muitos quilômetros dali. A trama efetivamente começa quando a garota passa a ser perseguida por uma gangue do mal, de integrantes também dotados de dons paranormais e liderada pela mais poderosa deles, Rose.
O filme ganha tom de caçada de gato e rato, com Danny fugindo com Abra. Mas aí vem a grande mudança de rumo na trama, que resgata o assustador hotel que era cenário e ao mesmo tempo personagem de "O Iluminado". O novo longa reconstitui com atores parecidos algumas cenas do filme original, com resultado convincente.
Se o filme funciona muito bem, méritos aos atores principais. O britânico Ewan McGregor nem precisa mostrar muito de seu talento para conectar Danny ao espectador. Compõe um herói inseguro, alcoólatra, sofrido. A menina Kyliegh Curran segura bem o papel da destemida Abra.
Mas quem rouba o filme é Rebecca Ferguson. A atriz sueca já bem ativa no cinema americano une beleza e loucura como a detestável Rose. É mais um daqueles casos recorrentes em que os personagens do mal seduzem mais a plateia do que os tipos bonzinhos.
O diretor e roteirista Mike Flanagan, de carreira sólida em episódios de séries de televisão de primeira linha, assina um filme movimentado e assustador. E que mantém a alma do livro de King. O que às vezes não é fácil.
"O Iluminado" é um filme espetacular de Stanley Kubrick, mas também é uma equivocada adaptação da obra de Stephen King. É curioso como um ótimo filme e um ótimo livro compartilham a mesma história e não conversam um com o outro. "Doutor Sono" é mais simples, mas agrada bastante.
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