Era o início de um sonho -em meados de 2020, quando a pandemia parecia arrefecer na Europa, havia a expectativa entre os cineastas de que os festivais de cinema pudessem voltar logo ao formato presencial. Mas o ano passado terminou dando uma bofetada na cara da indústria cinematográfica europeia.
O Festival Internacional de Cinema de Berlim estava programado para acontecer entre os dias 11 e 21 de fevereiro de forma presencial, mas teve o adiamento anunciado em dezembro.
Com variantes do vírus circulando pelo continente europeu, a realidade é mais dura. A primeira-ministra Angela Merkel anunciou que a Alemanha passa por uma "terceira onda de Covid-19" e prorrogou o lockdown no país até o início de março. O Urso de Ouro vai ter de esperar para poder ver gente de carne e osso.
A Berlinale começa em formato virtual nesta segunda-feira, dia 1º, e vai até sexta, dia 5. Será voltado para pessoas da indústria cinematográfica, sem exibições ao público.
Ainda assim, a perspectiva para o verão europeu é otimista. Com a expectativa de uma melhora no cenário pandêmico até o meio do ano, a Berlinale contará com uma versão presencial com exibições para o público entre 9 e 20 de junho deste ano -será a edição que batizaram especial de verão.
Os membros dos júris assistirão aos filmes das mostras competitivas numa sala de cinema em Berlim -o público, só em junho. Já o anúncio dos vencedores será via live, revelando quem leva os prêmios de roteiro, direção, contribuição artística, curta-metragem, infanto-juvenil, entre outros.
O Urso de Prata agora é não binário -em vez de premiar melhores ator e atriz, premiará a melhor performance, independente do gênero, de protagonistas e coadjuvantes.
Entre os filmes que concorrem ao Urso de Ouro, nenhum brasileiro e nenhum americano --a pandemia chegou a paralisar Hollywood e a produção independente de lá por um bom tempo.
Os mais constantes na lista são os franceses -como "Petite Maman", drama de época lésbico e delicado de Céline Sciamma, diretora de "Retrato de uma Jovem em Chamas"- e os alemães -como "Next Door", comédia dark sobre gentrificação em Berlim, que marca a estreia na direção do ator Daniel Brül, de "Adeus, Lênin!".
São ao todo quatro os filmes que têm alguma ligação com o Brasil no lineup da Berlinale. No ano passado, foram 19. No ano anterior, 12.
Também estão na corrida pela estatueta o coreano Hong Sang-soo, com "Introduction" e o mexicano Alonso Ruizpalacios, com "Una Película de Policías".
O Brasil dá as caras entre os seriados. "Os Últimos Dias de Gilda", estrelado por Karine Teles, de "Bacurau" e "Que Horas Ela Volta?", está na lista da mostra Berlinale Series. A série gira em torno de uma mulher que mora no subúrbio do Rio de Janeiro que é atazanada pelos seus vizinhos conservadores devido a seu estilo de vida pouco ortodoxo. A série de Gustavo Pizzi foi exibida pelo Canal Brasil e está disponível no Globoplay.
Outra obra brasileira entre os selecionados é "A Última Floresta", documentário que integrará a mostra Panorama, que procura destacar produções independentes que tocam em temas latentes em nossos tempos -"explicitamente queer, explicitamente feminista, explicitamente político, sempre procurando o que é novo, ousado, pouco convencional", segundo o site da Berlinale.
O filme de Luiz Bolognesi acompanha o cotidiano de uma aldeia ianomâmi, isolada no norte do país há mais de mil anos. Liderada por um xamã, ela tenta expulsar garimpeiros invasores, que trazem com eles doenças desconhecidas, e proteger seu território, demarcado legalmente. A estreia no Brasil deve acontecer no segundo semestre.
Além disso, os brasileiros marcam presença no documentário experimental "Se Hace Camino al Andar", da franco-colombiana Paula Gaitán, que segue uma performance do artista mineiro Paulo Nazareth, e em "Esqui", uma coprodução argentino-brasileira que fala das relações de trabalho durante a alta temporada em Bariloche.
Um dos mais importantes do mundo, o Festival de Berlim tinha expectativa de realizar sua edição de 2021 em abril, prevendo uma melhora no cenário de pandemia que não veio. O governo alemão, que financia o evento, não quis se comprometer com a promoção de um festival presencial sem ter uma visão clara de como as infecções pela Covid-19 estariam no período.
No ano passado, o circuito de festivais foi enxuto, com poucas celebridades nos tapetes vermelhos. Cannes chegou a ser cancelado, mas acabou tendo uma edição presencial menor e mais voltada para curta-metragens, com só quatro longas. Em Veneza, o tapete vermelho pelo qual passam as estrelas que caminham em direção à entrada do Palazzo del Cinema foi tampado com tapumes, para evitar a aglomeração de fãs curiosos.
Sobre a Berlinale em junho, o que se sabe ao certo é que não deve chover e que as temperaturas estarão agradáveis.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta