Se 2020 foi um ano atípico para a indústria do audiovisual - com salas de exibições fechadas, crescimento do streaming e estreias canceladas, por conta do avanço do Novo Coronavírus -, a situação entre as premiações do cinema e da televisão não poderia ser diferente. O lema continua sendo a necessidade de adaptação à nova realidade do mercado e as diferentes formas de consumir entretenimento.
Com transmissão marcada para este domingo (28), a partir das 22 horas, na TNT, o Globo de Ouro, que dá início à temporada de prêmios, ainda precisa resolver uma (complexa) crise interna: o crescente descrédito. A Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, que conta com cerca de 90 membros e coordena a premiação, foi acusada, em reportagem publicada pelo Los Angeles Times há poucas semanas, de corrupção e conduta pouco ética para decidir seus indicados e vencedores (veja detalhes abaixo).
Polêmicas à parte, o Globo de Ouro perdeu em importância, deixando de ser considerado o termômetro do Oscar, posto que ficou a cargo do Screen Actors Guild, premiação do Sindicato dos Atores de Hollywood, que acontece nas próximas semanas. O SAG conta com mais de nove mil membros, a maioria também presente na Academia de Hollywood, que define quem vai levar a cobiçada estatueta dourada.
Mesmo assim, o Globo de Ouro continua sendo uma festa que atrai holofotes e grandes astros, servindo como uma espécie de marketing pessoal, ou seja: quem leva o prêmio, faz seu discurso e mostra que está "firme e forte" na disputa do Oscar. "Cartão de visitas" melhor, impossível.
Lembrando que, como Oscar, o Globo de Ouro - por conta da pandemia - também aceitou que seus concorrentes de cinema estreassem apenas nos serviços de streaming e VOD, o que abre a porta para a Netflix ser a grande vencedora da noite.
Por conta da crise sanitária, a festa do Globo de Ouro, em 2021, promete não ter o glamour de anos anteriores, pois não haverá plateia. As apresentadoras Amy Poehler e Tina Fey estarão distantes. Uma ficará em Los Angeles, no Beverly Hilton Hotel (onde normalmente acontece a premiação) e outra em Nova York, mais precisamente em um Rainbow Room, localizado no topo do Rockefeller Plaza, sede da emissora NBC, que transmite o evento.
Os indicados ficarão em suas casas e farão seus discursos através de plataformas digitais, como o Zoom. Alguns apresentadores das categorias em disputa vão estar nos palcos, mas se dividindo entre NY e LA. Entre os convidados, estão os atores Awkwafina e Joaquin Phoenix, vencedores do ano passado.
O Globo de Ouro pode ser a plataforma de arrancada de "Os Sete de Chicago" (Netflix) rumo ao Oscar de Melhor Filme. Sucesso de crítica, o drama de Aaron Sorkin (que se passa durante o processo que julgou um grupo de pessoas que protestava contra a Guerra do Vietnã, nos anos 1960) ultrapassou o belíssimo "Nomadland", de Chloé Zhao, na mesa de apostas.
O longa-metragem tem a seu favor o fato de ter se destacado entre os votantes do SAG (um dos recordistas de indicações), tornando-se o favorito ao prêmio de Melhor Filme de Drama, o mais importante da noite. "Nomadland", porém, não deve ser descartado, especialmente por ter vencido os festivais de Veneza e Toronto e ser abraçado pela crítica estrangeira.
"Os Sete de Chicago" deve dar o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para um excelente Sacha Baron Cohen. O filme de Aaron Sorkin também é o favorito na categoria de Melhor Roteiro.
Um ponto, porém, precisa ser destacado: para levar o Oscar, "Os Sete de Chicago" precisa vencer uma rixa histórica da Netflix ("lê-se" streaming) com a indústria de Hollywood - que coordena a festa via Academia Norte-Americana de Cinema. "Nomadland", ao contrário, conta com a simpatia dos executivos por ser um projeto "gestado" para o cinema, via estúdio Searchlight Pictures, da Disney.
Chloé Zhao ("Nomadland") continua firme e forte, despontando como favorita ao prêmio de Melhor Diretor. A cineasta tem tudo para ser a segunda mulher na história a vencer o Oscar da categoria, feito conseguido apenas por Kathryn Bigelow ("Guerra ao Terror").
Mesmo sendo limitado dramaticamente, Chadwick Boseman (morto no ano passado) continua como favorito na categoria de Ator de Drama por sua participação em "A Voz Suprema do Blues". Há uma forte campanha da Netflix para que Boseman vença um Oscar póstumo. Carey Mulligan brilha na surpresa "Bela Vingança" e tem tudo para sair vencedora como Melhor Atriz de Drama. Suas maiores adversárias devem ser Viola Davis ("A Voz Suprema do Blues") e Frances McDormand ("Nomadland").
Para Atriz Coadjuvante, Amanda Seyfried ("Mank") e Glenn Close ("Era uma Vez um Sonho"), disputam voto a voto, com Close - que foi indicada ao Oscar sete vezes sem levar - tendo leve vantagem.
O polêmico "Borat: Fita de Cinema Seguinte" desponta como Melhor Filme de Comédia e Musical, com Maria Bakalova, "búlgara-sensação" das temporadas de premiação da crítica americana, tendo chances de levar o troféu de Atriz de Comédia e Musical. Lin-Manuel Miranda ("Hamilton") e o vencedor de Sundance 2020, "Minari", devem ganhar nas categorias de Ator de Musical e Comédia e Filme Estrangeiro.
Na seara da televisão, a disputa parece estar bem mais definida. "The Crown" (Netflix) deve ser a série dramática mais premiada da noite (e um dos recordistas da festa). Melhor programa televisivo do ano, e vencedor de vários Emmys em 2020, "Schitt's Creek" tem tudo para "fazer a limpa" na categoria de Série de Comédia e Musical, com "O Gambito da Rainha", sensação da temporada passada na Netflix, despontando entre Melhor Minissérie ou Filme para a TV.
Nem tudo é festa para a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood. Uma jornalista norueguesa, que tentou entrar no seleto grupo de votantes do Globo de Ouro, afirmou que membros aceitam viagens, presentes caros, estadias em hotéis cinco estrelas e jantares, em troca de indicações e prêmios.
Desta vez, acusaram "membros do clube exclusivo" da HFPA (sigla da entidade em inglês) de aceitar uma viagem à França em troca de apoio à série "Emily em Paris", da Netflix. A denúncia acabou em investigação da justiça norte-americana.
Curiosamente, o programa televisivo, mesmo dividindo opiniões em relação a sua qualidade, conseguiu indicações nas categorias de Série de Comédia e Musical e Melhor Atriz de Comédia e Musical, para Lily Collins. Muitos jornalistas, inclusive, deixaram claro a sua insatisfação.
As denúncias de corrupção sempre marcaram o Globo de Ouro. Em 1993, por exemplo, membros da HFPA foram encontrados jantando com executivos da Universal, em uma conversa "ao pé do ouvido" para promover "Perfume de Mulher". O resultado? O longa estrelado por Al Pacino venceu como Melhor Filme de Drama, Roteiro e Ator. No Oscar, Pacino foi o único vencedor do projeto, deixando as maiores vitórias para o faroeste "Os Imperdoáveis".
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