Rogério Sganzerla, certa vez, definiu o Cinema Novo como um cinema feito no Brasil para estrangeiro ver. Para o mestre por traz de obras como O Bandido da Luz Vermelha (1968) e Sem Essa, Aranha (1970), o movimento encabeçado por Gláuber Rocha abusava de uma narrativa cinematográfica de difícil acesso para o povo.
Pensando em fazer produções mais populares, Sganzerla e outros gênios, como Júlio Bressane e Ozualdo Candeias, criaram o movimento Cinema Marginal, ou Udigrudi (um neologismo brazuca para o underground usado para definir os filmes experimentais de Hollywood).
Tendo como ápice o final dos anos 1960 até o início de 1970, o cinema Udigrudi é atração da mostra Brasil Marginal, que acontece no Centro Cultural Sesc Glória até 29 de outubro, com entrada franca. No dia 25 (sexta), programação especial com curtas-metragens que marcaram o cinema marginal e a indústria da Boca do Lixo, em São Paulo.
Entre os títulos, clássicos como Tudo é Brasil (1988), de Rogério Sganzerla, documentário experimental sobre o período em que Orson Welles esteve no Brasil, em 1942, para a realização de Its All True, projeto boicotado pelos estúdios de Hollywood. Outros que merecem uma conferida são: Bang Bang (1971), de Andrea Tonacci e A Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), de José Mojica Marins.
Ícone da pornochanchada - um dos gêneros mais influenciados pelo cinema marginal -, A Super Fêmea (1973), de Anibal Massaini, também presente na mostra, conta com destacada atuação de Vera Fischer.
No ápice da beleza, e ainda curtindo a fama de Miss Brasil, a diva seduz o público em uma trama que erotiza (ainda mais) clássicos da ficção-científica americana, como Barbarella (1968), por exemplo. A história é insólita: uma bela modelo (Fischer) é contratada para fazer a campanha de uma pílula contraceptiva para homens, por ser considerada a mulher mais perfeita do mundo.
O problema será conquistar a confiança do público alvo, uma vez que todos desconfiam que o tal produto pode causar impotência. Espere por piadas grotescas, machismo, exploração do corpo da mulher e um humor setentista, elementos sujos típicos da pornochanchada, mas que marcaram uma história importante do cinema nacional.
Em entrevista a A GAZETA - na época em que foi homenageada no Festival de Cinema de Vitória -, Vera relembrou com carinho dos bastidores das filmagens de A Super Fêmea.
Era uma garota em início de carreira e muito tímida. Foi um desafio para mim. Às vezes, tinha medo de me sentir um pedaço de carne (risos), pois é um filme que explorava muito o meu corpo. O Anibal (Massaini, diretor), porém, ajudou a deixar tudo muito mais fácil. Ele dava liberdade para eu me expressar nos sets e isso contribuiu para a minha maturidade como atriz, confessa, dizendo que, durante as pré-estreias do longa, causou muito engarrafamento no Centro de São Paulo.
Era muito doido. Em frente ao cinema, tinha um banner imenso do filme, que trazia um cartaz comigo praticamente nua (risos). Todo mundo me chamando, pedindo autógrafos, mas era um carinho gostoso, de reconhecimento do nosso trabalho, conta.
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