Há exatos 20 anos, "Moulin Rouge", um dramalhão lisérgico que explorava - com glamour e um quê de cafonice - a vida da boemia francesa do início dos anos 1900, estreava em circuito comercial americano, após uma pré-estreia badalada no Festival de Cannes.
O objetivo era claro: ressuscitar o gênero musical na indústria de Hollywood, praticamente esquecido (e comercialmente inviável) desde as décadas de 1950 e 1960, época de ouro que trouxe clássicos como “Cantando na Chuva” (1952), “Mary Poppins” (1964), "Amor, Sublime Amor" (1961) e “A Noviça Rebelde” (1965), só para citar os títulos mais importantes.
Com cenários grandiosos, verborragia visual, montagem frenética, músicas que remixavam clássicos antigos, e (ufa!) uma trama que explorava o desamor entre uma cortesã (Nicole Kidman, no auge do talento e da beleza) e um autor boêmio (Ewan McGregor, que tinha o seu charme), o filme de Baz Luhrmann conseguiu não só ressurgir o gênero, como também virar tendência para a cultura pop.
Entre seus feitos, está o fato de ter influenciando o modo de vestir dos jovens da época (com muito babado e tons burlescos), o jeito de consumir música ("Lady Marmalade", com Christina Aguilera, Lil'Kim, Mya e Pink, virou hino, ficando entre as mais tocadas do ano) e até reaqueceu o turismo do clássico cabaré parisiense que dá nome ao filme, construído em 1889.
A trama, escrita pelo próprio Luhrmann (que, atualmente, trabalha em um projeto sobre a vida de Elvis Presley) em parceria com Craig Pearce, virou cult instantâneo, em um filme adorado por público e crítica. Venceu três Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Atriz da mesma categoria (Nicole Kidman).
Foi indicado a oito Oscar, incluindo Melhor Filme, sendo o primeiro musical nomeado na categoria desde a animação "A Bela e a Fera" (1991). Venceu apenas dois deles - Figurino e Direção de Arte e Cenários -, mas abriu as portas para que, apenas um ano depois, "Chicago" (2002) ganhasse a estatueta de Melhor Filme, feito que um musical não conseguia desde 1968, com "Oliver", do mestre Carol Reed.
E o sucesso desbravador de "Moulin Rouge" continua reverberando. Com os musicais "de volta", sejam com adaptações para a TV, vide o fenômeno "Glee" (2009), ou mesmo para o streaming, como o recente "A Festa de Formatura" (2020), da Netflix, o gênero promete estar firme na festa do Oscar em 2022.
Três dos longas-metragens mais esperados do ano - e cotados para o prêmio - são musicais: "West Side Story", remake do clássico de mesmo nome comandado por Steven Spielberg; "Em um Bairro de Nova York", baseado em uma peça off-Broadway, e "Tick, Tick... Boom!", dirigido por Lin-Manuel Miranda, para a Netflix.
Por falar em Lin, ele é o responsável pelo sucesso de "Hamilton", também musical, em cartaz no Disney +. Abaixo, veja o trailer de "Em um Bairro de Nova York", que estreia dia 17 no Brasil.
"Moulin Rouge" foi criado para encerrar um projeto que Baz Luhrmann batizou de "trilogia do amor musicado" ou "saga das cortinas vermelhas" (os três filmes começam com cortinas sendo abertas).
“Vem Dançar Comigo?” (1992) - ícone indie que o consagrou - e “Romeu + Julieta” (1996) - com Leonardo Di Caprio - foram os primeiros títulos da série, ambos elogiados por crítica e público, mas que possuem em comum a estética kitsch e verborrágica típicas do diretor australiano.
Não existiu escolha melhor que Nicole Kidman para viver Satine, tanto que foi a primeira e única opção de Luhrmann. A Fox, por sua vez, brigou para ter no papel estrelas mais "quentes", leiam-se mais famosas nos anos 1990, como Kate Winslet, Hilary Swank, Catherine Zeta-Jones e Renée Zellweger.
Recém-divorciada de Tom Cruise na época das filmagens, Kidman vinha em uma carreira ascendente e reconhecida pela crítica, especialmente depois do desempenho magistral em “Um Sonho Sem Limites” (1995), de Gus Van Sant, projeto que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz, seu mais importante prêmio desde então. Não é demais lembrar que a diva venceu seu único Oscar um ano depois de "Moulin Rouge", interpretando Virginia Woolf em "As Horas".
Kidman entregou-se totalmente a Satine, tanto que as gravações tiveram que ser interrompidas por duas semanas, em novembro de 1999, após a atriz ter fraturado duas costelas e machucar o joelho enquanto treinava para uma das sequências de dança.
Poucas pessoas sabem, mas algumas cenas de "Moulin Rouge" foram gravadas mostrando apenas a parte de cima do corpo da atriz, pois estava interpretando em uma cadeira de rodas.
Nicole e Ewan McGregor - outro ator em ascensão na época -, extremamente talentosos, mostram uma química invejável em cena, especialmente nas cenas mais românticas. Por falar no astro britânico, ele não era a primeira escolha para viver Christian. O estúdio sondou antes Hugh Jackman, Heath Ledger, Jake Gyllenhaal e Ronan Keating.
Com um enredo baseado em algumas óperas clássicas, como "La Boheme", "La Traviata" e "Orphée aux Enfers", "Moulin Rouge" também é conhecido pelos exageros e caprichos de seu realizador.
O colar que Nicole Kidman usa em cena foi a peça mais cara já criada para um filme. Ele continha 1308 diamantes e valia mais de U$ 1 milhão. O peso? Era "leve", pois pesava "apenas" meio quilo. Além disso, 300 figurinos foram criados para a produção.
É impossível não falar de "Moulin Rouge" sem destacar sua trilha sonora, que trazia vários clássicos readaptados e remixados para o início dos anos 2000. Faixa original existia apenas uma, "Come What May", cantada por Ewan McGregor e Nicole Kidman.
A música foi composta para a trilha sonora de “Romeu+Julieta”, e, por essa razão, não pode concorrer ao Oscar 2002 na categoria Melhor Canção Original.
Além da já citada "Lady Marmalade", os fãs se deleitaram ouvindo novas versões para "Like a Virgin", de Madonna; "Roxanne", música da década de 1970, da banda The Police; "Nature Boy", originalmente interpretada por Nat King Cole; e "Children of the Revolution", que, na década de 1970, explodiu nas ondas do rádio graças à banda inglesa de glam-rock T-Rex.
Tendo estreado no Brasil apenas em agosto de 2001, com dois meses de atraso em relação ao lançamento mundial, "Moulin Rouge" pode ser curtido, 20 anos depois, no conforto de seu lar, via Claro Vídeo ou Now, o serviço de streaming da Claro. Em breve, deve fazer farte do Star +, plataforma de conteúdo adulto do grupo Disney.
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