A espetacular trilogia "De Volta Para o Futuro" já seria suficiente para dar ao diretor americano Robert Zemeckis um lugar de destaque na história do cinema de entretenimento, sem contar dramas campeões de bilheteria, como "Forrest Gump" e "O Náufrago". Aos 69 anos, ele continua querendo fazer a plateia se divertir e assina agora o remake de "Convenção das Bruxas".
O filme original, de 1990, foi dirigido pelo britânico Nicolas Roeg, cineasta ousado e criativo, com Anjelica Huston no papel principal. O longa foi um enorme sucesso, como tantos outros adaptados da obra do escritor britâncio Roald Dahl, mestre de literatura para crianças.
Entre os filmes inspirados em seus romances, os mais famosos são as duas versões de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", tanto a de 1971, com Gene Wilder, como a de 2005, com Johnny Depp.
Além de outras adaptações infantis nas telas, como "Matilda", de 1996, e "O Bom Gigante Amigo", de 2016, Dahl escreveu roteiros adultos. Entre eles, "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes", de 1967, uma das aventuras mais aclamadas do agente secreto britânico James Bond, ainda na fase gloriosa com Sean Connery no papel.
A história de "Convenção das Bruxas" pode ser resumida facilmente. Um garoto e sua avó se hospedam num hotel de luxo. Ali o garoto vai descobrir que está rolando uma convenção de bruxas. Essas criaturas malignas têm um plano de transformar todas as crianças do mundo em ratos. Quando elas percebem sua presença, ele é transformado num simpático roedor.
Embora às vezes encantador, o filme tem um problema sério -ele parece estar dividido em dois. A primeira parte é um atraente conto de fadas sombrio. E aí o espectador se recorda de ter lido nos créditos iniciais que Guilhermo del Toro é um dos autores do roteiro. Ele sabe como assustar criancinhas, é só se lembrar de "O Labirinto do Fauno".
Depois da transformação do garoto em ratinho, o filme também se transforma. Tudo vira uma brincadeira leve, às vezes parece um parente próximo de "Alvin e os Esquilos". O resultado é uma perseguição um tanto repetitiva. Uma corrida de gato e rato. Em algumas cenas, literalmente uma corrida de gato e rato.
Se o filme todo tivesse esse caráter infantil da segunda metade, talvez fosse até melhor, porque seria realmente destinado a crianças menores e pronto. Como ficou, chega a decepcionar porque o início promete muito mais terror do que a aventura que toma conta da trama.
Octavia Spencer erra a mão no papel da avó do garoto. Mesmo para um filme infantil, é um personagem bonzinho demais, caricato. Quem rouba a cena é Anne Hathaway como a grande chefe das bruxas. Ela consegue ser bem mais engraçada do que Anjelica Huston no filme de 1990. Quem ver a versão legendada do filme vai morrer de rir com o sotaque bizarro que a atriz inventou. Parece uma australiana querendo fingir que é alemã.
Quanto aos efeitos visuais, o filme é impecável. Foi rodado bem antes da pandemia, e dá para entender a demora no lançamento. A pós-produção deve ter sido bem trabalhosa. Os rostos das bruxas se deformam o tempo todo. Há mudanças constantes nos olhos, nas narinas e na boca, o que pode ter sido nada fácil para a equipe manipular nos computadores.
Num balanço final, "Convenção das Bruxas" é agradável para crianças pequenas. Mesmo assim, a solução final poderia ser mais interessante. Tudo é muito simples, simplório até, e fica evidente a intenção de deixar tudo preparado para uma possível continuação, se as bilheterias forem generosas com a história do menino ratinho.
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