Após "Parasita" fazer história em 2020, tornando-se o primeiro longa-metragem de língua não-inglesa a vencer o Oscar de Melhor Filme, Hollywood finalmente firmou seu "namoro" com as produções estrangeiras, flerte que vinha acontecendo há pelo menos duas décadas.
O feito do drama sul-coreano também alavancou o interesse do público norte-americano, que "aprendeu" a ver filmes legendados, algo que rejeitavam até pouco tempo, afinal, clássicos como "O Tigre e o Dragão" (2000) e "A Vida é Bela" (1998) - que fizeram história no Oscar - tiveram que ser dublados em inglês (!) para receber a devida atenção do circuito exibidor e da plateia ianque.
Absurdos à parte, com os cinemas do Brasil praticamente fechados - por conta da pandemia da Covid-19 - o favorito para levar o Oscar de Melhor Filme Internacional na festa que acontece dia 25, o dinamarquês "Drunk - Mais uma Rodada", foi lançado em Video On Demand (VOD), podendo ser alugado no conforto do seu lar em plataformas como iTunes, Looke e Now.
Comandado pelo sempre competente Thomas Vinterberg (indicado ao Oscar de Melhor Diretor), "Drunk" está (bem) longe de ser o melhor projeto do cineasta (dirigiu os superiores "Festa de Família", de 1998, e "A Caça", de 2012), mas faz um interessante estudo sobre os danos do alcoolismo, sejam à saúde ou mesmo sociais, ao retratar um grupo de homens passando pela tradicional crise masculina da meia-idade, que lança um desafio: seriam mais felizes e bem-sucedidos se vivessem com um pouco de álcool no sangue, tomando pequenas doses por dia?
A resposta para a dúvida "bebe" (literalmente) na tradicional estética proposta pelo movimento dinamarquês Dogma 95, do qual Vinterberg foi um dos fundadores, ou seja, acompanhamos da forma mais naturalista possível uma "viagem" praticamente sem voltas à decadência moral e física de um grupo de amigos.
Talvez aí esteja um dos problemas do filme. Falta densidade dramática a "Drunk", com Vinterberg pouco se aprofundando nas crises existenciais de seus personagens. Soa bizarro, pois dramaticidade é o que rege o Dogma.
Cabe a Mads Mikkelsen (o protagonista da série "Hannibal") uma atuação digna de nota, como um dos mestres que propõem a tal da experiência etílica. Seu personagem nos proporciona o melhor momento do filme, com um bailado à lá "Zorba - O Grego" (1964) em plena Copenhague.
Aproveitando que "Mais uma Rodada" já está disponível em VOD, fizemos uma lista dos dez últimos vencedores do Oscar de Melhor Filme Internacional e como podemos conferi-los enquanto os cinemas não reabrem as portas. Boa sessão!
Brilhante drama de Bong Joon-ho, que conseguiu o feito de ser o primeiro longa de língua não inglesa a vencer o Oscar de Melhor Filme. Faturou mais três estatuetas, incluindo Diretor e Filme Internacional. A ganância e a discriminação de classes ameaçam a estabilidade do tecido social sul-coreano quando uma família rica, os Park, começam (sem saber) a empregar em sua casa membros do clã Kim, todos aproveitadores e de moral duvidosa. Disponível no Telecine Play.
Obra-prima de Alfonso Cuarón vencedora de três Oscar, incluindo Melhor Diretor. Em um filme autobiográfico, o realizador relembra seus dramas familiares de infância (com muita poesia) na década de 1970, época em que morava em um elegante subúrbio da Cidade do México. O divórcio dos pais lhe causou feridas impossíveis de serem cicatrizadas. Pode ser conferido na Netflix.
Sensível drama comandado por Sebastián Lelio que deu ao Chile o seu primeiro Oscar. Em foco, a transfobia, violência e desprezo vivido por uma cantora trans (Daniela Vega, em grande atuação) que não consegue se despedir do namorado, pois a família e a ex-mulher do morto não aceitavam a relação do casal. Disponível no Amazon Prime Vídeo.
Hollywood não se importa se os Estados Unidos e o Irã não mantém relações diplomáticas. As películas iranianas são, quase sempre, cultuadas e valorizadas entre os votantes do Oscar. "O Apartamento", denso drama do mestre Asghar Farhadi, venceu a estatueta de Filme Internacional em 2017. Trata-se do trabalho mais sóbrio do cineasta, uma radiografia sobre a luta de classes em uma Teerã caótica. Obrigados a abandonar o apartamento, devido a obras que ameaçam o prédio, dois atores se mudam para uma nova casa. Um incidente relacionado com a inquilina anterior vai perturbar a vida do jovem casal. Pode ser visto no Amazon Prime Vídeo.
Um dos filmes mais indigestos e perturbadores já premiados com o Oscar. O húngaro László Nemes abusa de closes e tomadas em primeiríssimo plano para contar (mais) uma história claustrofóbica sobre o Nazismo. Saul (Géza Röhrig, excelente) é um judeu obrigado a trabalhar para os alemães, sendo um dos responsáveis de limpar as câmaras de gás após dezenas de outros judeus serem mortos. Em meio à tensão do momento, e às dificuldades inerentes desta tarefa, reconhece entre os mortos o corpo de seu próprio filho. Pode ser conferido no Google Play, iTunes e Claro Vídeo.
Cultuado filme do polonês Pawel Pawlikowski que conta com bela fotografia em preto-e-branco, também indicada ao Oscar. Uma noviça (Agata Trzebuchowska), prestes a se ordenar freira, precisa confrontar seu passado em uma viagem de autoconhecimento que envolve crimes nazistas, dilemas familiares e a descoberta da sexualidade. Pawlikowski comanda o projeto com muita elegância e um certo distanciamento, mas a obra consegue agradar a paladares mais refinados. Disponível no Netmovies.
Obra-prima neorrealista comandada com extrema sensibilidade pelo italiano Paolo Sorrentino. Um escritor de meia-idade (Toni Servillo) começa a refletir sobre sua existência, questionando o que é superficial ou importante em seus relacionamentos. Em crise criativa, se pergunta: em que ponto podemos encontrar a simplicidade da "grande beleza" em nossas vidas cotidianas? Filosófica, a obra de Sorrentino pode ser curtida no Looke, Netmovies e MUBI.
Elegia austríaca que versa sobre a morte, a doença e o abandono familiar, a obra é comandada com o peculiar olhar crítico de Michael Haneke. Além do Oscar, "Amor" também venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Inesquecíveis atuações dos protagonistas Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva. Um casal apaixonado por música começa a ter problemas quando a esposa sofre um AVC e fica com um lado do corpo paralisado. Os idosos passam por graves obstáculos que colocarão o seu amor em teste. Disponível no Globoplay e Now.
Outro Oscar de Melhor Filme Internacional para a "conta" do cineasta iraniano Asghar Farhadi. Com "A Separação", o realizador debate crises conjugais e sociais em um Irã marcado pelo preconceito e por tabus familiares. Aqui, um casal diverge sobre a possibilidade de deixar o país. O marido deseja oportunidades melhores para a filha. A esposa, por sua vez, quer continuar no Irã para cuidar do pai, que sofre do Mal de Alzheimer. Exaustos, chegam a conclusão de que devem se separar. Pode ser visto no Globoplay.
Diretora de séries como "The Undoing", sucesso da HBO, a dinamarquesa Susanne Bier ganhou o Oscar de Filme Internacional em 2011 com este denso drama familiar. Em pauta, violência, bullying e dilemas morais para retratar a vida de um médico que, enquanto enfrenta o divórcio, precisa resolver o problema de um dos filhos na escola. Disponível em DVD.
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