Atire o primeiro brinquedinho erótico quem nunca desejou, nem que seja em seus sonhos mais secretos e proibidos, a "grama do vizinho"? Não vale mentir e nem dar uma de santinho, hein?
Pois saibia que, pelos menos nos cinemas, essa fantasia está totalmente liberada. Swing, trocas de casais e outros fetiches sexuais permeiam a comédia brasileira "Dois + Dois", de Marcelo Saback, que estreia nesta quinta-feira (12) no Estado, prestando uma homenagem as saudosas chanchadas do cinema nacional dos anos 1960 e 1970, em que, nem que seja de maneira inocente, falar de sexo era um pecado permitido.
"Mais do que falar de sexo, proponho uma comédia popular, que usa as variantes sexuais para questionar temas muito mais profundos, como amor, fidelidade e casamento", aponta Saback - roteirista do sucesso "De Pernas pro Ar" -, em coletiva virtual para divulgar o projeto.
"Dois + Dois" tenta (nem sempre com sucesso) fazer uma radiografia da relação de dois casais de classe média, ao desvendar o universo dos praticantes de swing. Na história, Diogo (Marcelo Serrado) e Emília (Carol Castro) estão juntos há 16 anos, têm uma filha adolescente e, apesar da estabilidade, vivem entediados com a rotina. O sexo anda mais frio que uma temporada de férias no inverno da Antártida.
O casamento de Diogo e Emília é virado de cabeça pra baixo quando eles descobrem que os melhores amigos, Ricardo (Marcelo Laham, o ator mais à vontade em cena) e Bettina (Roberta Rodrigues), têm um relacionamento aberto.
Mais do que isso, os dois são adeptos da prática de troca de casais, vivem superseguros com isso e tentam convencê-los de que é possível ser muito feliz levando esse estilo de vida.
Decidida, Emília propõe ao marido que eles entrem nesse excitante mundo, inclusive frequentando casas de sexo livre. Careta, Diogo topa, pois sempre desejou Bettina secretamente. Entre uma festinha apimentada aqui e outra "cama quente" acolá, neuras e inseguranças afetivas começam a aparecer. Ciúme, decididamente, não pode fazer parte da cartilha dos swingers.
"Não é só sexo que está em jogo. Há outros pontos profundos, como o desgaste de uma relação o medo de perder o amor do parceiro. Há também a competição entre homens e mulheres e a busca por apimentar uma relação que não vai bem", reflete Saback, apontando que tentou modificar o roteiro, que é baseado em um filme argentino de mesmo nome, lançado em 2012.
"O longa original era mais picante, tinha mais nudez e cenas de sexo. Quis dar uma 'abrasileirada' na história, apostando mais no protagonismo feminino. Agora, uma mulher, no caso a personagem de Carol Castro, dita o ritmo da busca pela realização sexual. Fiz um filme mais bem humorado e ácido que o projeto dos hermanos", acredita o realizador.
Afirmando que nunca teve coragem de praticar swing ("sempre fui careta, achava estranho minhas amigas beijarem vários homens em uma festa, por exemplo"), Carol Castro detalha que o projeto coloca as mulheres como protagonistas do seu próprio prazer.
"Minha geração está se reeducando, tentando quebrar esse tabu social de que à mulher cabe o papel de dar prazer. Mesmo assim, é um personagem que me fez viver momentos de reflexão. Confesso que não tenho inteligência emocional para praticar swing. Sempre levei muito a sério essa questão de fidelidade. Tenho medo de sentir ciúme em ver meu parceiro com outra", confessa.
Marcelo Laham, por sua vez, afirma que a questão da prática do swing sempre será tabu no Brasil. "Temos uma questão religiosa muito forte em nossa sociedade. Temas como esse nunca serão tratados com naturalidade. O povo brasileiro tem uma caretice escondida por atrás do Carnaval, uma hipocrisia. Mesmo assim, conheço pessoas que são felizes com essa prática. Troca de casais é mais comum do que a gente imagina. Confesso que sempre tive curiosidade".
Marcelo Serrado diz que foi um dos que mais se divertiu em cena, especialmente na hora de gravar as passagens mais picantes (que são poucas e muito comportadas, o que causa estranheza para um filme que fala, ou que pelo menos tenta, de sexo livre). Ao contrário do longa argentino, o projeto brazuca - gravado no final de 2019, em São Paulo - se afasta de um bem-vindo erotismo para apostar no humor quase pastelão.
"A gente usou tapa-sexo nas filmagens. Algumas vezes apertava e machucava e outras quase caia (risos). Mas foi tudo gravado com muito respeito às atrizes", relembra o ator. "Tinha pouca gente da equipe no set, mas a gente não conseguia conter as risadas. O tapa-sexo do Serrado foi um capítulo à parte”, complementa Carol, sempre esbanjando bom humor.
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