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"Toda Noite Estarei Lá" é selecionado para laboratório em festival da Suíça

"Toda Noite Estarei Lá" é selecionado para laboratório em festival da Suíça

Em processo de montagem, filme de Tati Franklin e Suellen Vasconcelos - que debate transfobia e religião - participará do tradicional Visions du Réel, um dos mais importantes festivais do gênero documental da Europa

Publicado em 15 de abril de 2021 às 10:26- Atualizado há 4 anos

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Cena do documentário capixaba
Cena do documentário capixaba "Toda Noite Estarei Lá", de Tati Franklin e Suellen Vasconcelos. ( Pai Grande Filmes)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

Transexual, Mel Rosário queria respeito, dignidade e a possibilidade de exercer sua religiosidade. No Brasil marcado pela violência e segregação, desejos como esse não são facilmente realizados. Após sofrer agressões físicas por transfobia na igreja em que frequentava, no Centro de Vitória, resolve lutar por seus direitos, fazendo protestos quase que diários na porta do templo, usando cartazes com dizeres bíblicos. A fé, neste caso, luta para suplantar o preconceito. 

Os dilemas da cabeleireira, expulsa de uma congregação evangélica por não ter sua condição de gênero aceita pelos membros, foi tema do curta-metragem "Toda Noite Estarei Lá" (2017), dirigido por Thiago Moulin. O filme serviu de "embrião" para um longa-metragem assinado por Tati Franklin e Suellen Vasconcelos, com Moulin agora atuando como produtor. 

Rodado entre 2018 e 2020, o projeto está em fase de finalização e acabou de ser selecionado para um laboratório no tradicional Visions du Réel, um dos mais importantes festivais do gênero documental na Europa, realizado de 15 a 25 de abril, na Suíça

"Toda Noite Estarei Lá", o longa, participará da sessão "Rough Cut Lab", recebendo mentoria e apoio em seu processo de montagem, contando com suporte da montadora e diretora croata Rada Šešić.

"Por conta da pandemia da Covid-19, as atividades serão on-line. A consultoria servirá de suporte para o corte final do longa-metragem. Além disso, vamos aproveitar a visibilidade do evento (que reúne produtores e distribuidores de todo o mundo) para negociar acordos de distribuição e exibição em várias mostras internacionais", aponta Thiago Moulin, dizendo que pretende lançar o filme - inicialmente em circuito de festivais - no final de 2021.

Antes da mostra suíça, "Toda Noite"participou em duas ocasiões (2018 e 2020) do "Brasil Cinemundi", tradicional encontro mineiro de mercado cinematográfico, cujo objetivo é apoiar filmes em processo de finalização. 

REALIDADE

Thiago Moulin afirma que o longa-metragem "Toda Noite Estarei Lá" promete ampliar a história de luta de Mel Rosário. "No filme, vemos que ela sempre teve o sonho de ser vendedora de carros. Por conta da transfobia, teve que abandonar esse desejo e seguir um caminho possível, que é trabalhando como cabeleireira. Ao expor esse sonho e lutar por ele, ela mostra a importância de não estereotipar profissões. Afinal, trabalhar com vendas de carros é um universo tipicamente masculino, marcado, quase sempre, por machismo, homofobia e transfobia", acredita.

Sobre a opção de atuar apenas como produtor, ele relata que o projeto casaria melhor com uma direção feminina. "Pensei que não seria o meu lugar de fala. Tati Franklin é mulher e transita mais no universo feminino. Além disso, acabou de dirigir um curta-metragem que versava sobre o tema, 'Transvivo'. Logo depois, Suellen Vasconcelos, que atuava como assistente do longa, também assumiu a direção, deixando o projeto ainda mais relevante".

O produtor relata que muitas pessoas perguntam o porquê de Rosário continuar insistindo em frequentar a mesma congregação evangélica (já entrou com ações judiciais para garantir seu acesso ao prédio), se não é aceita como pessoa trans. 

"Toda Noite Estarei Lá" foi selecionado para um laboratório do Visions du Réel, um dos mais importantes festivais de documentário da Europa. (Pai Grande Filmes)

"Alguns membros querem que ela corte o cabelo e se vista como homem. Mel não desiste de lutar, pois, deseja 'abrir uma porta', ou seja, levantar um debate sobre o poder político da Igreja, lutando contra a transfobia e a favor da aceitação. Além disso, tem o direito de expressar a sua religiosidade", defende Moulin, dizendo que, durante o processo de pesquisa para a construção do documentário, ouviu da protagonista algumas vezes a frase "penso que sirvo como um troféu para a cura gay". 

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Casado com uma mulher evangélica, Thiago deseja que "Toda Noite Estarei Lá" suscita debates para além do entretenimento. "Quero que minhas filhas cresçam conhecendo bem o que é religião, transfobia e homofobia. Quero, também, ajudar a fazer um retrato sobre o Brasil na década de 2020, especialmente sua luta pela aceitação das minorias", complementa. 

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