Uma das vozes mais marcantes da MPB, Zélia Duncan lançou 15 álbuns, cinco DVDs solo e ganhou vários prêmios, entre Discos de Ouro e de Platina. Prestes a completar 40 anos de estrada (muito bem vividos), a cantora optou pela simplicidade e pelo intimismo - valores que leva para a sua vida cotidiana - para compor o projeto que celebra a data, “Pelespírito”.
Disponível nas plataformas digitais, o trabalho pode ser considerado um dos mais sensíveis de uma artista conhecida pelo sorriso franco e pelo olhar terno, que consegue transmitir verdade e comprometimento com a carreira.
"Poderia optar por uma coletânea com sucessos que já gravei, mas gosto de desafios. A pandemia não me paralisou. Estamos vivendo um momento de tristeza e angústia, com muitas vidas perdidas e desmandos políticos. Esse álbum é uma espécie de desabafo. Gravei e cantei o que estava sentindo nessa fase sufocante de nossas vidas", apontou a artista, em entrevista ao "Divirta-se" via aplicativo Zoom.
Com som e fúria, Zélia faz de “Pelespírito” um vigoroso confessionário, onde transborda sensibilidade ao questionar os (inúmeros) problemas do país, especialmente com a faixa "Onde é que Isso Vai Dar?". O refrão "Ando sensível/Coração na Boca/... Nossa Vida Anda Com Pressa/ Onde isso vai dar?/Como é que isso vai ser?/" nos leva à reflexão.
"Essa música começou com um diálogo meu com o Juliano (Holanda, produtor e compositor que trabalhou com Zélia nas 15 canções inéditas do disco). Um dia, a gente tinha feito uma composição que nos deixou feliz e ele me mandou uma mensagem dizendo que estava feliz de estar compondo. E aí eu escrevi para ele: 'Te digo o mesmo. Isso me provoca'. Ele me provoca e eu adoro desafios", brincou a artista, revelando, ainda, que "Onde é que Isso Vai Dar?" - que já conta com clipe no YouTube - é um questionamento que todo o país está fazendo atualmente.
"Queremos saber onde isso vai dar, seja na resolução da pandemia, como também no avanço da extrema-direita no país. Sempre soubemos que o Brasil é um país homofóbico, racista e misógino, onde se mata mulher, negros e gays, mas nunca esperávamos que, por exemplo, o nosso vizinho compactuasse com isso. Estou assustada com essa realidade que a eleição de 2018 nos revelou."
“Pelespírito” acentua a versatilidade de uma artista que também compõe e produz. São 15 faixas que passeiam por vários gêneros musicais. Zélia embarca no folk e country ("Viramos Pó?"), rock'n'roll ("Nas Horas Cruas"), sertanejo nordestino e pantaneiro ("Tudo por Nada") e blues ("Sua Cara tá Grudada em Mim"), entre outras composições. Ela fecha o álbum deixando explícita a sua crença de que tudo vai ficar bem ("Vai Melhorar") no período pós-pandêmico.
""Vai Melhorar' e 'Eu e Vocês' são duas faixas que me encantam. São as mais leves e esperançosas do álbum", adianta a cantora. "Eu e Vocês", inclusive, foi gravada recentemente por Elba Ramalho, como música-título do mais recente álbum da cantora paraibana.
"É uma música que suaviza a alma, como diz o refrão. Serve para acalmar o nosso peito, uma balada simples e delicada", suspira Zélia, que está lançando o seu segundo trabalho em 2021.
Em fevereiro, a cantora fluminense nos apresentou o EP "Minha Voz Fica", que fazia um resgate do cancioneiro da compositora sul-matogrossense Alzira Espíndula.
Com a agenda cheia, Zélia programou uma live de lançamento do álbum "Pelespírito" para o dia 19 de junho, às 21h. Mais detalhes em breve no site oficial da artista.
Durante a pandemia, Zélia Duncan criou um espaço em seu canal do YouTube, que ela carinhosamente batizou de "ZoinoZoi", para falar sobre seu cotidiano e trocar mensagens com os fãs. Em 2020, viralizou com o poema "Vida em Branco", onde questionava as pessoas que criticavam a importância dos artistas para a sociedade.
"Estamos passando por uma fase em que parte da sociedade questiona a importância do nosso trabalho, seja dos artistas ou mesmo da imprensa. É a era das fake news, onde a verdade passa a ser questionada. O poema foi uma pergunta sincera e fico feliz de ter recebido o apoio do público".
Mas... E "Catedral"? É impossível conversar com Zélia Duncan e não perguntar sobre um dos seus maiores sucessos, lançado em 1994.
"Sei que tem muitos artistas que não gostam quando são questionados sobre uma música que marcou a carreira. Eu não ligo, gosto desse carinho. Muita gente ainda me fala da música, de como ela marcou a sua vida. Isso me emociona. Tem muitos jovens que conheceram o meu trabalho por conta de 'Catedral'. Esse é o poder da internet", brinca, falando sobre os próximos projetos.
"Estou com muitas coisas em mente. Tenho outros clipes para gravar, pensando em novas composições (a pandemia ajudou nisso) e até penso em lançar um livro. Estou escrevendo alguma coisa sobre a música. Vai ser bem legal", complementa, com um singelo sorriso capaz de aquecer até os mais frios corações.
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