> >
Agnes Nunes fala como venceu o racismo e se tornou revelação da MPB

Agnes Nunes fala como venceu o racismo e se tornou revelação da MPB

Cheia de projetos, cantora baiana - elogiada por Caetano - acabou de lançar o single "Vish" e prepara seu primeiro álbum de carreira

Publicado em 2 de maio de 2021 às 10:00

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Sucesso aos 18 anos, Agnes Nunes se tornou a revelação da MPB
Sucesso aos 18 anos, Agnes Nunes se tornou a revelação da MPB. (Bagua Records)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

Um verdadeiro "furacão baiano" e não estamos falando de Ivete Sangalo, Claudia Leitte ou mesmo da Rainha do Axé, Margareth Menezes, pois a vibe aqui é outra.

Com uma voz doce, aveludada e melodiosa - chegando a receber elogios de Caetano Veloso e Gal Costa -, a sensação da vez responde pelo nome de Agnes Nunes, que, aos 19 anos recém-completados, vem sendo chamada de revelação da MPB.

Com cerca de dois milhões de acessos mensais no Spotify, a nova diva da Bahia - nascida em Feira de Santana -   já lançou um EP, chamado “Romaria”, e firmou parcerias bem sucedidas, como “Pode Se Achegar”, com Tiago Iorc, e “Cida”, com Xamã.

Recentemente, trabalha a faixa “Vish”, expressão popular no Nordeste, lançada há cerca de duas semanas. Em dez dias na plataforma YouTube, o clipe foi visto por quase 1,5 milhões de pessoas. 

"Estou finalizando o meu primeiro álbum e "Vish" é o primeiro single desse trabalho que está por vir. Estou muito animada, porque será mais um grande passo na minha carreira", responde a cantora, em entrevista ao "Divirta-se".

Ah, sim, a moça tem um sotaque nordestino delicioso, afinal, como ela mesmo se define, é "paraibaiana", pois se mudou com a família para a Paraíba com apenas nove meses de vida.

Como se não bastasse o sucesso na música, Agnes também virou fenômeno pop nas redes sociais (conta com 2,6 milhões de seguidores apenas no Instagram). No espaço, dá dicas de beleza e empoderamento feminino e da mulher negra, ressaltando a importância das pessoas se aceitarem como são, sem se preocupar com preconceitos e amarras sociais. 

"Sou vitoriosa! Sofri racismo por conta do meu cabelo quando era mais jovem. Isso me deu forças para lutar cada vez mais", afirma a garota, que acabou de assinar um contrato com a L'Oréal Paris para ser uma das embaixadoras da marca. Em maio, Agnes também lança uma campanha da Disney, onde destaca a beleza e a força da mulher, intitulada "Princesas".  Abaixo, veja trechos da entrevista.

Como foi o início de sua carreira? Esperava estourar tão rápido, se transformando em uma espécie de novo "furacão baiano"?

  • Ganhei um piano da minha mãe e sempre ficava tocando depois da escola. Via uns vídeos e tentava reproduzir. Tocar me tirava um pouco do mundo e amenizava minhas dores. Depois, comecei a me gravar e fui publicando os vídeos, escondido da minha mãe (risos). Sempre me espelhei em nomes fortes, como Marisa Monte, Gal Costa, Elis Regina, HER, SZA e Rihanna, por exemplo. Meu intuito era pôr para fora, tentar, através da música, fazer com que as pessoas se sentissem bem. Quando minha voz começou a chegar em lugares tão distantes, não acreditei. Foi muito gratificante para mim!

Você sempre afirma que a música ajudou a vencer a baixa autoestima. Então, podemos dizer que sua arte conseguiu fazer com que você espantasse suas dores?

  • Sim, a música sempre me ajudou a amenizá-las. Sofri bullying na escola por conta do meu cabelo, por não ser o "padrão" de beleza. Aquilo me machucava muito e, quando chegava em casa, cantava, tocava, e tudo "sumia". A música me deu força para passar por isso e me ajudou a enxergar que sou linda, do jeitinho que sou.

Por falar em cabelos, em uma entrevista, afirmou que, quando criança, queria alisar os seus para se adequar a um padrão de beleza. Por quê? O racismo sofrido foi um fator decisivo para isso?

  • Porque, quando somos novas, nos fazem acreditar que cabelo bonito é só o liso. Graças a minha mãe, nunca alisei, porque ela sempre me estimulou a ver beleza nas minhas raízes e sou muito grata por isso. Ouvia coisas horríveis sobre o meu cabelo, mas sempre me mantive forte.

Aspas de citação

Sofri bullying na escola por conta do meu cabelo, por não ser o padrão de beleza. Aquilo me machucava muito e, quando chegava em casa, cantava, tocava, e tudo 'sumia'.

Agnes Nunes
Cantora baiana e revelação da MPB
Aspas de citação

Como mulher e negra, acha que pode ser um exemplo de superação e empoderamento para as pessoas, especialmente meninas que desejam uma oportunidade?

  • Recebo muitas mensagens de meninas me agradecendo por ser uma inspiração, por terem começado a amar seus cabelos. Gostaria de ter tido mais referências quando mais jovem. Saber que sou uma referência na vida dessas pessoas é uma gratidão inexplicável. Quero que a gente se una mais e mais, porque somos lindas, fortes e incríveis!

Você já gravou com nomes importantes na indústria, como Xamã e Tiago Iorc. Acha que isso impulsionou sua carreira? Quais parcerias ainda sonha em fazer?

  • Foi muito bom fazer essas parcerias com artistas tão talentosos. Essa troca entre os artistas está cada vez mais forte e isso é essencial no mercado da música. Os "feats" (participação) abrem espaço para as misturas de ritmos, ajuda os artistas que estão começando a misturar os públicos...É bom demais! Tenho muita vontade de fazer uma com a Marisa Monte, seria um sonho (risos).

Você possui algum critério para a escolha do repertório? Qual o seu processo de composição e criação?

  • Componho sobre histórias, vidas e vivências. Algumas coisas sobre mim, outras das pessoas e o que escuto. Então, meu processo é bem natural. Quando estou inspirada, pego um bloquinho e vou embora (risos).

"Vish" acabou de ser lançada e já é sucesso. Vem mais alguma novidade por ai?

  • Estou finalizando o primeiro álbum da minha carreira e "Vish" é o primeiro single desse trabalho que está por vir. Estou muito animada, porque será um grande passo para mim. Fora o álbum, que é meu principal projeto, acabei de me tornar embaixadora L'Oréal, e fiz uma parceria com a Disney, para a campanha "Princesas". Além disso, estamos desenvolvendo um documentário sobre a minha vida para contar um pouco da minha história e superações.

Agnes Nunes:
Agnes Nunes: "sempre sofri preconceito por conta do meu cabelo". (The Nogueira)

Atualmente, conta com quase três milhões de seguidores nas redes sociais. Podemos afirmar que a internet é uma forte ferramenta na construção da sua carreira?

  • Olha, eu tenho uma relação bem equilibrada com as redes sociais. Apareço por lá, converso com meus seguidores, mas não é sempre. Tenho meus momentos e quem me acompanha já sabe. Gosto de compartilhar dicas, abrir caixa de perguntas, de cantar trechos de músicas que tenho escutado, as minhas também...

Por falar em seus momentos, como está lidando com o isolamento social, por conta da pandemia da Covid-19? Como não "pirar" com tantas notícias ruins?

  • É muito difícil saber da dor de tantas pessoas, de não poder trocar um abraço de conforto... é muito complexo isso tudo que estamos vivendo e diria que é quase impossível se manter bem o tempo todo. Mas, tenho tentado respirar, mentalizar coisas boas e me manter forte.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais