Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Bello, além de grandes nomes da televisão brasileira, formavam um trio inseparável. Amigas por mais de 60 anos, até a morte, primeiro de Nair, e, depois, de Hebe, elas protagonizaram histórias e momentos antológicos, alguns deles mostrados na série 'Hebe'. É o caso de dois dos episódios mais difíceis da vida da apresentadora, que vão ao ar no sexto episódio, nesta quinta-feira, dia 3: o falecimento de Fêgo (Flávio Migliaccio), pai de Hebe, em 1971, e a estreia do primeiro programa da loira no SBT, em 1986, quando a artista também teve que lidar com os ciúmes e inseguranças do marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca).
Cláudia Missura e Karine Teles, que interpretam Nair e Lolita, respectivamente, falam na entrevista abaixo sobre a importância de contar a história dessa amizade e sobre as lições que aprenderam com Hebe Camargo. "Hebe gostava de viver, e vivia com intensidade", afirma Cláudia. "Acho que o que a gente deve aprender com ela é não abaixar a cabeça para as injustiças", complementa Karine.
Cláudia Missura: A história da amizade dessas três mulheres é muito forte. Tinha que ser contada em algum momento na série. Elas se conheceram e foram amigas uma vida toda, desenvolveram afetos muito profundos. Fiquei muito surpresa quando fui convidada a fazer o papel da Nair Bello, que tem um senso de humor maravilhoso, um riso frouxo, uma grande história como artista. Aos poucos, fui descobrindo uma tipologia que nos unia. Eram poucas cenas para trazer uma pessoa tão forte. Fui me deixando levar pela atmosfera e a energia que Nair trazia em gestos, riso e jeito de falar. E confiando muito no olhar do diretor, que não queria uma imitação, e sim essa atmosfera, a energia dela.
Karine Teles: Para mim foi uma honra muito grande. Eu sabia que era uma produção que envolveria muita gente talentosa, então fiquei muito feliz de ter sido convidada para interpretar a Lolita. A amizade entre essas três mulheres tem uma potência muito grande, e eu acho que é sempre válido a gente falar sobre a amizade entre mulheres, é uma força muito poderosa.
Cláudia Missura: As pessoas gostam muito. Elogiam a beleza da série, figurino, cenografia, arte, direção, cabelos. Não conheciam a história pessoal da Hebe e ficam querendo saber mais. Elogiam todas as participações dos atores, inclusive a da Nair. Que bom! É sempre bom quando o público gosta.
Karine Teles: Eu recebo mensagens, vejo nas redes sociais as pessoas me marcando, comentando. Eu assisti à série primeiro no Globoplay e fiquei muito encantada com o resultado. Acho o Maurício (Farias) um diretor muito sensível e gostei do que ele escolheu, de observação dos personagens mais do que uma tentativa de reproduzir fielmente a realidade, já que são tantas pessoas conhecidas retratadas. E a Lolita, para mim, tem esse lugar que eu admiro muito de uma simplicidade, de um afeto e de uma paixão pelo o que ela faz que é muito bonito. Eu procurei ir por aí, pelo amor que ela tem pela amiga.
Cláudia Missura: Não conhecia a história pessoal dela. Encontrei Hebe uma vez quando ela foi ver uma peça de teatro que eu fazia, O Avarento, com o Paulo Autran, no teatro Cultura Artística. Eu fazia uma mocinha/enamorada e ela veio me cumprimentar, fazendo elogios. Na saída do teatro, me pediu ajuda para descer uma escadaria enorme. Ria da situação. Me pediu a mão porque estava com medo de cair. Não parava de rir!
Karine Teles: Eu conhecia a figura pública da Hebe. Assistia ao programa dela sempre com a minha avó Maria, já falecida, uma mulher que eu amava muito e que era muito fã da Hebe. Esse foi mais um dos motivos que me emocionou por ter participado desse projeto. Acho que onde minha avó estiver, está muito feliz. A história pessoal da Hebe, foi lendo o roteiro que eu aprendi um pouco.
Cláudia Missura: Hebe gostava de viver, e vivia com intensidade! Era presente em tudo que fazia. Uma potência vital. É o que me parecia quando via seus programas.
Karine Teles: Lendo a trajetória da Hebe, através desse recorte que eu tive acesso, eu acho que o que a gente deve aprender com ela é não abaixar a cabeça para as injustiças. É difícil falar sobre isso porque vivemos em um país tão injusto em tantos aspectos, e essa personagem é uma mulher que o tempo inteiro teve que lidar com preconceitos e injustiças, tanto na vida dela, quanto na vida dos outros. Mas a gente não pode aceitar as injustiças. A gente tem que descobrir formas de transformá-las.
Cláudia Missura: Hebe conseguiu fazer o que acreditava, e isso é inspirador. Ela não se acomodava, estava antenada com o seu tempo. Era irreverente, gostava do que fazia. Era provocadora, ia atrás de temas importantes e relevantes mesmo num momento de censura. Sempre corajosa, embora tenha feito escolhas conservadoras na política. Essa ambiguidade é interessante.
Karine Teles: Eu acho que falar do nosso povo, da nossa história, é muito importante. Esse espelho é muito importante. Assim a gente pode acompanhar muito sobre a história do país, sobre como as coisas foram mudando ao longo do tempo. As injustiças que permanecem, as que começaram a ser superadas. Acho que, para além de a gente falar sobe essa pessoa, a série ajuda a gente a pensar nosso país e a nossa sociedade. Então, ter essa série em TV aberta é muito legal, porque é uma oportunidade de a gente discutir assuntos importantes.
'Hebe' vai ao ar às quintas-feiras, após 'Fina Estampa'. Original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo, a série é criada e escrita por Carolina Kotscho, tem direção artística de Maurício Farias e direção de Maria Clara Abreu.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta