A arte ganha um conceito de excelência - e de relevância - muito maior quando é usada para causas sociais. Portanto, chama a atenção a iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MTP) em usar animação digital, HQs e tirinhas para denunciar os abusos do trabalho infantil.
Para o Espírito Santo, aliás, a ação é motivo de orgulho. Todo o projeto foi criado e desenvolvido no Estado. As ações começaram em 2012, com a criação de uma série de quadrinhos sobre temas trabalhistas. Dos 37 já publicados, nove são voltados exclusivamente para retratar o trabalho infantil.
A edição de maior repercussão das revistinhas, "Mitos e Verdades", acabou servindo de argumento para a produção de uma animação de mesmo nome. Dirigida por Beto Castelluber e produzida por Secundo Rezende, da Zoom Filmes, o desenho foi lançado no início de julho e já está disponível nas redes sociais. Veja "Mitos e Verdades" no vídeo abaixo.
O curta conta com versões acessíveis em Libras, AD (audiodescrição) e com legenda. Os vídeos para os portadores de necessidades especiais podem ser vistos no canal MPT em Quadrinhos, no Youtube.
Para os amantes das HQs, a versão original da história - e toda série, que conta com 37 revistas - pode ser encontrada no site www.mptemquadrinhos.com.br, nos formatos FlipBook e PDF. Boa parte das histórias relacionadas com o trabalho infantil foram roteirizadas por Sílvio Alencar e produzidas pela Finart Publicidade.
>'Os Flintstones' deve ganhar série animada para adultos
O vídeo e as revistas, inclusive, estão sendo usados por MPTs de todo o Brasil em ações educativas e de conscientização sobre os danos do trabalho infantil para o desenvolvimento da criança e do adolescente. ONGs, escolas, órgãos públicos e bibliotecas que desejam usar o material em ações educativas podem entrar em contato pelo e-mail:[email protected].
"Mitos e Verdades", o curta-metragem, foi desenvolvido para marcar o mês do Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, em junho, e celebrar os 29 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em julho. A animação abusa do visual simples e da comunicação direta com o público, com cores vibrantes e traço minimalista. O tom de denúncia social permeia seus mais de três minutos de duração.
INOCÊNCIA
Na trama, vemos os dilemas de Lucas, uma criança que labuta em uma feira para ajudar o pai. Um dia, Larissa e João, personagens fixos da série de HQs, estão fazendo compras quando o menino se oferece para carregar as sacolas. "Mas isso aqui tá muito pesado pra você", diz Larissa, com ar de reprovação. A partir daí, toda história se desenrola, culminando na exposição dos riscos à saúde física e psicológica provocados pelo trabalho infantil, considerado crime no Brasil.
Coordenadora nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância) do MPT, Patrícia de Mello Sanfelici acredita que uma ação multimídia, com revistas em quadrinhos e animações, traz uma comunicação direta com a sociedade.
>'Frozen 2' ganha segundo trailer explorando passado de Elsa e Anna
"A escolha do tema para estrear o primeiro desenho adaptado dos quadrinhos se deu porque ele está na pauta do dia. O Brasil se comprometeu internacionalmente a erradicar o trabalho infantil até 2020. Infelizmente, estamos muito distantes de alcançar isso, lamenta.
Dados de 2015 coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a afirmação de Patrícia. Cerca de 2,7 milhões de crianças e adolescentes, entre cinco e 17 anos, estão trabalhando no Brasil. A maioria delas exploradas em locais insalubres, com riscos para a saúde física e mental.
Socióloga e membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente da Serra, Rosilene Bellon também acredita que apostar em produtos multimídia servem para facilitar o acesso ao público certo: a geração millenium, que vive conectada 24 horas por dia e precisa ficar informada sobre o tema.
"O interesse deles passa a ser imediato ao ter esse tipo de conteúdo nas mãos, principalmente porque adoram compartilhar com os colegas os assuntos que mais lhe lhes parecem relevantes, criando uma 'teia de informações' para o bem. Serve, também, para conscientizar sobre o porquê de precisarmos erradicar o trabalho infantil", assinala, dizendo que, com o passar dos anos, a criança foi ficando cada vez mais passiva de exploração, ao representar para o mercado uma mão de obra barata e facilmente manipulável.
>Mangá da 'Turma da Mônica' será lançado em julho
"São pessoas em formação psicológica e moral. Nessa época da vida, nada pode atrapalhar a construção do conhecimento cultural e social. O tempo deles deve ser gasto com esportes e relações interpessoais, por exemplo. Ajuda na construção da personalidade de cada um deles", assinala.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta