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Artista capixaba realiza exposição sobre escravidão em Campinas, São Paulo

Artista capixaba realiza exposição sobre escravidão em Campinas, São Paulo

“As pessoas dos 482 anos” traz performances andantes por locais de Campinas, conhecida por ser a última cidade do Brasil a abolir a escravidão

Publicado em 21 de outubro de 2021 às 10:25

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Exposição
Exposição do artista visual Geovanni Lima. (Oefeha)
Felipe Khoury
Repórter / [email protected]

O artista visual Geovanni Lima leva o nome do Espírito Santo a Campinas, em São Paulo. Por lá, ele realiza desde o último mês sua primeira exposição individual. "As Pessoas dos 482 anos" está em cartaz na AT|AL 609, no bairro Cambuí, em Campinas. 

"É importante porque eu faço arte desde 2015, já circulei muito. Mas dessa vez, foi um processo de imersão com início, meio e fim, que construí uma narrativa a partir do lugar. Muitas vezes faço a partir de mim, essa é voltada ao lugar. Me faz repensar e ver outra possibilidade de produção, não como eu me relaciono", explica ele, que relembra de todo o início.

"A minha história de produção nasceu no Centro de Vitória, a primeira exposição foi durante o Viradão Cultural. Esse diálogo com o espaço público começou lá. Essa exposição saiu junto com a indicação do prêmio Pipa, o que vem ratificar a produção capixaba. A gente tem um reconhecimento do fazer artístico que acontece há muito tempo nas artes contemporâneas", comenta.

Artista visual Geovanni Lima
O artista visual Geovanni Lima. (Fred Farias)

O nome da exposição é uma referência direta a possível data de início da escravização de corpos negros no país (1538/1539). Fruto de uma residência artística em Campinas, "As Pessoas dos 482 anos" busca refletir as dinâmicas de corpos negros com os espaços ocupados na cidade paulistana. 

"Faz referência à primeira história possível de escravização do país. Campinas foi o último lugar do Brasil a abolir a escravidão. E era um terror para os escravos, quando um negro fugia, o senhor castigava mandando para Campinas, porque eram as piores técnicas de castigo. Além disso, é uma cidade do interior muito rica que se estruturou a partir de pessoas negras. E quando fiquei nessa imersão, percebi que só via eles nos horários de serviço, às 7h e às 18h. Me perguntava, onde estão os negros de Campinas?", explica Geovanni.

"As Pessoas dos 482 anos" é baseada em duas performances de Geovanni por locais de Campinas. Através de bandeiras e vídeos, o artista retrata suas andanças pelas ruas da cidade que ainda carrega marcas da escravidão. 

"A exposição gira em torno de duas performances realizadas no espaço público. A primeira se chama: ‘Quantos passos valem uma caminhada - Território de Oxalá’, na qual me coloco a caminhar usando branco, da sede da galeria ate o museu negro de Campinas. Eu tremulo na saída, na igreja, e na entrada, remetendo a Oxalá. Já a segunda performance é homônima a exposição "As pessoas dos 482 anos", inicia.

Performance ‘Quantos passos valem uma caminhada - Território de Oxalá’ do artista visual Geovanni Lima
Performance ‘Quantos passos valem uma caminhada - Território de Oxalá’ do artista visual Geovanni Lima. (Ana Lages)
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Durante a pesquisa, cheguei a um cemitério para pessoas negras que se chamava ‘Campo da Alegria’ (irônico né?). Hoje, lá é um largo, como se fosse uma praça maior. Não se tem uma referência. Não tem respeito por essa história. Então me coloco novamente a caminhar, dessa vez, da galeria até o largo com um carrinho de mão contendo 300 mudas cinerária marítima, que é a planta utilizada para fazer colírio. Lá, eu produzi uma grande cruz com as mudas. Isso tem a conexão de ser visto

Geovanni Lima
Artista
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 O artista traz para o espaço – dedicado às atividades de difusão da arte contemporânea - o resultado dessa experiência. A mostra fica em cartaz na AT|AL 609 até esta sexta-feira, dia 22 de outubro.

"Essa galeria se organiza a partir de duas vitrines, em uma delas eu coloquei a frase: aonde estão os negros de Campinas?. A gente traz esse debate. Posiciona os sujeitos não negros para repensarem essa questão. A exposição é importante porque dialoga sobre as nuances que estão apagadas e quais aparecem da história da negritude. Ela cumpre o lugar de conversar essas presenças, os trabalhos evocam elas", completa.

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