Quem já viu Anderson Ventura, Diego Lyra, Rodrigo CX e Frederico Nery brilharem nos palcos capixabas com as bandas Java Roots, Kalifa, Salvação e Macucos, respectivamente, nem imagina que essa turma se encontra para produzir. Sim, o quarteto citado, com mais um componente, forma uma liga de "compadres da música", com direito a encontro semanal numa residência na Barra do Jucu, em Vila Velha, de onde sai muito mais que aquele papo com amigos.
O primeiro a chegar no ponto de encontro é Anderson Ventura, o ex-Chocolate do Java Roots. Ele é recebido por Diego Lyra, da banda Kalifa, que é o dono da casa em que os encontros acontecem, onde o grupo vai tomando forma. Em seguida, chegam Rodrigo CX, da Salvação, e Frederico Nery, do Macucos. Pronto. Desta vez, só faltou o músico Bruno Zampa para completar o time de cinco artistas que estão se juntando todas as segundas-feiras para formarem o que batizaram de Confraria das Letras.
Toda semana, eles se reúnem e começam o meeting batendo um papo sobre sobre a carreira, um pouco da vida e, volta e meia, sacam o violão e soltam a voz para compartilharem novos sons. "Uma moqueca de sons", define Ventura, ao falar sobre a mescla de estilos (capixabíssimos!) que eles mesmos criaram dentro do grupo.
Os encontros não têm um cronograma duro, intocável e muito menos obrigação de que alguma música saia como resultado. Mas acaba que, durante as três ou quatro horas semanais em que eles ficam nessa de jogar com os acordes e escrever alguns versos, acontece de a inspiração vir. Nessa brincadeira, os músicos já puseram no acervo deles ao menos cinco canções totalmente prontas e outras cinco que estão em pé de serem finalizadas.
Não há nenhum show marcado para eles apresentarem a novidade, embora não seja por falta de pedidos dos fãs. Os componentes da confraria adiantam que não pretendem abandonar suas bandas e projetos solo. Mas o fato é que a reunião dos entusiastas da música capixaba está dando o que falar para os amantes da arte no Estado.
Para quem não sabe, a própria Barra do Jucu viveu tempos áureos na cena cultural, no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000. Os jovens da época se uniram e formaram bandas que fizeram notório sucesso e até movimentavam a vida noturna da região - alguns são os citados acima no texto. E ter um grupo revivendo esse movimento é um suspiro para quem sente saudade.
"A gente sabe que muita gente lembra, muita gente quer show, pede. Mas a gente vai conversando e vendo o que vamos fazer. Mas estamos muito felizes com a repercussão que está tendo. E isso porque nem estamos divulgando muito. É mais nas nossas redes sociais mesmo", comenta Diego.
E não é para menos eles se espantarem com o auê que já estão causando na web. É que, na verdade, os encontros - que agora já são chamados de confraria - nem têm tanto tempo assim que são feitos com assiduidade.
"Esse compromisso tem uns três meses. Tudo começou com o Diego nos convidando para ficar um tempo lá, tocar, trocar experiências... E sem nenhuma pressão de ter que compor alguma coisa. Tudo soa bem natural e o que nos motiva é totalmente a paixão que temos pela arte", dispara Ventura, no encontro em que os artistas convidaram a Gazeta para acompanhar um ensaio.
Todos os cinco músicos já vêm de uma carreira de banda ou solo e usam dessa experiência para incrementarem os encontros. Tempo em meio a agendas cheias, eles sempre têm que arrumar, apesar de nada ser forçado. "Nada não pode. A gente concilia tudo e ainda temos família, temos filhos, creche (risos). Mas é aí que a gente vê que é paixão pelo que fazemos mesmo", explica Diego.
Uma vez pronta, a música vira um bem comum para todos que participam da confraria - que inclusive é aberta a outros possíveis interessados - e algumas das composições já foram até tocadas em shows de alguns deles. "Eu já toquei, outros já tocaram e a recepção tem sido muito boa. As pessoas aguardam que a gente faça alguma coisa. Um single, um álbum, clipe... Mas ainda não sabemos ao certo o que será feito com o que está ficando pronto", completa o ex-Chocolate.
Diego concorda, mas diz que o fato de se encontrarem algumas gerações da música capixaba durante a confraria só faz aumentar a sintonia entre todos os membros. O clima acaba refletindo muito na fluidez das produções, como ele mesmo pondera, e é assim que eles querem seguir aumentando o grupo.
"Frequentemente recebemos convidados que participam dos encontros, mas que não necessariamente são da confraria de forma fixa. A única ordem é que o convidado também participe (risos). Não pode só ficar olhando", fala.
Diego admite que "se hoje canta, é porque via o Chocolate (Anderson Ventura) fazendo show quando era mais novo e se inspirou nele", em suas próprias palavras.
Outro que também se sente inspirado pelos atuais colegas é Frederico - o Fred, para os mais chegados. "É o máximo poder estar com esses caras. A cada encontro, a gente só cresce. É uma experiência e tanto e a expectativa a cada segunda-feira é maior, já que a gente vê que tudo flui, tudo corre bem, e sem ninguém forçar nem cobrar nada", reitera Fred.
Comum para todos é a inspiração para essas novas canções, afinal, não dá para criar uma letra original assim "do nada". Mas eles tomam uma forma maior como ponto de partida para as composições, que é o que vivem em seus próprios cotidianos. "É uma cena que a gente acaba vendo, uma situação... Tudo pode virar música (risos). Mas a gente sempre fica nessa de transmitir uma mensagem de paz, de tranquilidade, que tenha a ver com a gente. E muito disso vem do dia a dia, do cotidiano", conta Rodrigo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta