Os livros digitais passaram a ser uma opção mais viável e segura de leitura durante a pandemia do novo coronavírus. Com um clique, o produto chega às suas mãos sem precisar de nenhum contato humano, o que aumentou a demanda por e-books, como garante o editor Gustavo Binda, da editora Maré: "Com preço reduzido e um texto trabalhado para uma leitura fluída mesmo nas telas, o novo formato tem conquistado leitores".
Apesar do sucesso do formato nesse período, a crescente do mercado de livros digitais não veio somente em março, com o início do isolamento. A pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editoria Brasileiro, realizada pela Nilsen Media Reserch em parceria com a Câmera Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) revelou, em julho de 2020, que a receita do mercado editorial com os formatos digitais foi de R$ 103 milhões em 2019, valor que representa um crescimento de 140% em três anos quando comparado ao Censo Digital de 2016.
Com as vendas de livros digitais crescendo e a quarentena tendo dado condições favoráveis aos e-books, quem se adiantou em relançar dois de seus livros foi a autora Aline Dias. A escritora capixaba agora tem a sua obra de contos Além das Pernas e o romance Vermelho no formato digital. Os livros eletrônicos fizeram parte do investimento da editora capixaba Maré nesse modelo, saída encontrada pela empresa para contornar as dificuldades impostas pela pandemia, como comentado anteriormente em matéria do Divirta-se.
Dias conta que fazer o Além das Pernas em e-book foi uma forma que encontrou de ajudar as pessoas na quarentena. Como diversos escritores ao redor do mundo, a autora disponibilizou sua obra de modo gratuito durante um período. Já Vermelho, veio posteriormente, chegando no formato virtual com um preço abaixo de quanto custará após a pandemia, é o que garante a capixaba. O terceiro livro da autora, "A única coisa que fere é a manhã pós amor", também ganhará uma versão e-book, com previsão de saída ainda para novembro de 2020.
Aline também está com um novo romance pronto para ser publicado em 2021 e comenta: "O 'Bagunça' já nasce junto: e-book e impresso. Ele já nasce multifacetado". A autora passou sete anos escrevendo a obra, que mostrará a saída da protagonista Ana Luz da infância para a realidade adulta.
Gosto muito de livro impresso, gosto do cheiro, acho que tem um tesão no impresso que é incrível. Mas o digital, ele abre portas e é mais prático. Fico muito feliz assim, me sinto mais contemporânea quando sou digital, caibo num cabo, comenta aos risos sobre a conquista. Ela relata que a recepção do público tem sido boa e que o número de downloads de Além das Pernas já superou os 500 impressos.
A gente [os escritores] quer que a literatura, que a mensagem que a gente quer passar, chegue para mais pessoas, pontua Aline Dias sobre as possibilidades que o digital abre, explicando que sua literatura é militante feminista e é gratificante ver que seu pensamento está chegando a mais pessoas.
Quem já se dedica a uma literatura bastante antenada ao mundo digital, desde antes da pandemia é a escritora nascida em Vitória, Karina Heid. Conhecida por seu romance A Última Peça - que deu a ela o Prêmio da Feira Literária Capixaba de 2016 (Flic-ES) -, a também psicóloga tem mais de 15 e-books publicados.
Alertada por profissionais literários de que o mercado de livros passaria por uma mudança nunca antes vista em 2016, onde haveria uma tendência de autopublicação por parte dos autores, Karina começou a escrever no Wattpad, rede social literária onde qualquer pessoa pode lançar suas obras.
Comecei a criar uma base de leitores por lá. Quando eu passei os livros para a Amazon, os leitores que gostavam de mim, compravam, conta, explicando que os livros que até hoje começam na plataforma passam por uma edição e uma repaginada, onde são acrescentados capítulos e outros detalhes antes de ganharem as prateleiras de vendas digitais.
"A publicação on-line me deu a chance de alcançar leitores em todo o país. O processo inteiro, da escrita à colocação nas plataformas de vendas acelerou, o que me permite publicar vários títulos por ano. Para mim, a tecnologia só veio somar", garante Heid.
Para a escritora que se dedica aos romances, a pandemia acabou sendo um momento de muita produção. Eu lancei três livros na pandemia, um já estava escrito, aí eu lancei assim que a pandemia começou; o outro veio 100% escrito na pandemia; aí depois veio o outro escrito também [risos]. Agora estou no quarto da série. Ele se chama Damas de Aço, detalha.
Como as autoras citadas, outros escritores que integram o mercado capixaba também estão passeando pelos livros digitais. A autora Fabíola Colares com "Diário Erótico: suas histórias pelos meus contos"; Luiz Trevisam, com o recém lançado "Resumo da Balada"; e Marília Carreiro, com a obra "Lama", são alguns dos nomes que também estão investindo nessa plataforma. (Confira no fim da matéria a lista com detalhes das obras citadas no texto para você se esbaldar nos e-books capixabas)
Gustavo Binda, editor da Maré, que publicou até agora um total de quatro e-books na pandemia, explica que o período forçou as pessoas a se abrirem à possibilidade da leitura digital, muitas vezes vista com preconceito pelos apaixonados pela literatura. "Acho que muitos vão continuar consumindo livros no formato e-book, pontua.
"Todos esses que a gente já lançou até agora, a maior parte de venda é no impresso, mas o digital tem seu espaço. Best sellers, autores nacionais, lançam os livros em formato digital e eles já têm um mercado, para o mercado capixaba ainda é uma coisa muito nova, está começando. A porcentagem de venda deve ser 1/3 do que vende do impresso, mas acho que tem que ter essa possibilidade para a gente conseguir atingir esse novo público", explica Gustavo.
Binda aposta em um crescimento dos e-books e adianta: A tendência agora é você fazer sempre para os dois, eu tô tentando trabalhar sempre com os autores agora o lançamento simultâneo, o digital e o de papel. E também estou fazendo um trabalho que eu quero, talvez até metade do ano que vem, no máximo, ter todo o meu catálogo de livros antigos tanto no digital, quanto no impresso.
Embora possa parecer simples transformar um livro físico em um e-book, o trabalho vai muito além de um simples "copiar e colar". Gustavo Binda explica um pouco que como esse formato funciona: O e-book, apesar de o conteúdo ser a mesma coisa do livro impresso, tem todo um código por trás dele para ele poder ser lido em qualquer leitor. De fato é um HTML que organiza o conteúdo do e-book. Então, para poder ter essas configurações de aumentar a letra sem desformatar o livro inteiro e tudo mais, tem um código por trás.
E as particularidades do formato não param por aí, além de diferentes opções de leitores, também chamados de e-readers, tais como o Kindle e o Kobo, os e-books também apresentam formas diferenciadas de consumi-los. Para os que leem inúmeras obras por mês, serviços como o Kindle Unlimited, que funcionam como uma espécie de "Netflix dos livros", assim descreve a escritora Aline Dias, possuem o plano mensal de cerca de R$ 20 que dá acesso a uma grande variedade de títulos para leitura e devolução.
Já o aplicativo Skeelo funciona como um clube de assinatura de e-books, onde a cada mês você receberá um livro que será seu, podendo trocá-lo por algum título de sua preferência durante um período determinado.
*Sara Bichara é estagiária da Rede Gazeta, sob orientação do editor Erik Oakes.
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