A paixão pela dança começou aos cinco anos, depois de assistir, pelo YouTube, vídeos de Ana Botafogo (eterna primeira-bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro). Sonhos? São vários, a começar por ser um bailarino profissional e entrar para a prestigiada Royal Academy of Dance, companhia londrina que tem como patronesse ninguém menos que a Rainha Elizabeth II.
E o desejo do adolescente Luís Felipe Machado, de 14 anos, morador do Romão (Vitória), está bem próximo de se realizar. Para isso, precisa fazer anualmente um exame da Royal Academy. Em 2020, será avaliado no grau "Intermediate Foundation", que é o primeiro teste vocacional para quem deseja se profissionalizar com o certificado da escola.
De família humilde, Luís Felipe não tem condições de pagar as taxas e despesas do processo de avaliação. Por conta disso, sua tutora e professora de balé Liviane Pimenta, da Pimenta Dance Ballet & Art, está organizando uma vaquinha virtual.
O objetivo é arrecadar R$ 2,5 mil até 15 de setembro, quando termina a fase de inscrições do exame, que deve ocorrer em dezembro. O local da avaliação ainda não foi definido, portanto, o dinheiro também será usado para pagar possíveis despesas com viagens (caso a prova não ocorra em Vitória) e a compra de sapatilhas e novos uniformes, tudo para impressionar os rigorosos avaliadores que vêm de várias partes do mundo.
Aplicadíssimo, o pequeno Luís Felipe - que também é mestre-sala da Imperatriz do Forte - já foi avaliado em outras três fases exigidas pela academia inglesa, passando sempre com notas altas e elogios efusivos dos professores gringos. Se continuar participando do processo por mais quatro temporadas, e for aprovado com boas notas, quando completar 18 anos poderá participar do Margot Fonteyn International Ballet Competition, um festival de dança promovido pela Royal Academy no exterior.
O evento recebe bailarinos profissionais de todo o mundo, com ótimas chances de trabalho nas maiores companhias do planeta. E, se depender do afinco e da motivação de Luís, ele tem tudo para ser o primeiro capixaba a conseguir esse feito.
Tímido, mas com uma incrível vontade de vencer e mostrar seu talento, Luís Felipe atendeu à reportagem de A GAZETA para falar do amor pela dança. Eclético, o garoto manda bem nos estilos clássico, contemporâneo, jazz e até k-pop, inspirado no estilo musical sul-coreano que virou febre em todo mundo.
"Desde pequeno sabia que queria ser bailarino. Aos seis anos, ficava vendo vídeos de Ana Botafogo no YouTube. Também assisti trechos da participação dela na novela 'Páginas da Vida'. Ficava fascinado com os passos de dança. A partir daí, vi que queria fazer aquilo também", relata o garoto, estudante do nono ano do Ensino Fundamental da EMEF Irmã Jacinta Soares S. Lima, em Monte Belo, Vitória.
"Quando era criança, uma professora, vendo o meu interesse pela dança, chamou minha mãe e perguntou: a senhora não toparia colocar ele em uma escola? Tem muito talento e leva jeito para a coisa", relembra, dizendo que, inicialmente, a mãe optou por matriculá-lo em outras atividades recreativas.
"Não foi por preconceito, não", corre para justificar. "Ela sempre apoiou minhas decisões. Só queria saber se ser bailarino era o que eu realmente desejava", sintetiza, com uma maturidade louvável para os seus 14 anos.
"Tentei fazer basquete e futebol, mas não era a minha praia. Gosto mesmo é de sair bailando por aí", brinca, afirmando que, ao contrário do apoio familiar, sofreu muito preconceito na escola por conta de suas escolhas.
"Os meninos implicavam comigo e faziam bullying, dizendo que balé era coisa de menina. Tive que vencer muitos preconceitos para aceitarem a minha arte. Inclusive, sei que muitos garotos sofrem como sofri anteriormente. Para eles, mando um recado: não liguem para o que os outros dizem. Tentem realizar os seus sonhos e sejam felizes", aconselha.
Atualmente morando com a mãe e outros três irmãos, Luís Felipe fala com orgulho dos certificados que recebeu da Royal Academy of Dance, todos com o nome da Rainha Elizabeth. "É muita doideira isso, né?", indaga, em tom de brincadeira.
"Tenho um papel com o nome da Rainha da Inglaterra. Essas coisas fazem com que eu continue lutando ainda mais por meus sonhos", afirma, confessando que um dos seus maiores desejos já foi realizado: conhecer Ana Botafogo.
"Estive com ela quando recebi um dos certificados da Royal e também durante uma apresentação que fizemos no Rio de Janeiro, com a escola Pimenta Dance Ballet & Art. Foi muito legal. A Ana me abraçou e fez questão de ressaltar que tenho talento e preciso continuar na batalha para ser bailarino. Falou para não desistir nunca e, se precisasse de apoio, poderia contar com ela", revelou, sem esconder a emoção.
Quem também não economiza nos elogios em relação a Luís Felipe é a professora Liviane Pimenta, que oferece uma bolsa integral ao menino em sua academia de dança. "Ele é muito obstinado e concentrado. Como bom bailarino, treina todos os dias, por mais de seis horas, até atingir a perfeição. Sua conquista representa a vitória de todos os meninos negros e das comunidades", acredita Livianne, ressaltando que abraçar a campanha solidária na internet é primordial para que o pupilo avance na carreira.
"Ele não tinha condições de comprar o uniforme do ano passado e nós doamos com muito amor, mas estamos precisando de ajuda. Assim que arrecadarmos o dinheiro, vou mandar a inscrição para Londres, pois só um professor registrado na Royal Academy pode fazer isso. Nesse ano, ele não pode deixar de fazer os exames, caso contrário o Luís não se formará aos 18 e perderá a chance de participar do Margot Fonteyn, que deve ser decisivo para o seu futuro profissional. Queremos que ele voe alto", complementa.
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