> >
Bailarino do ES faz videodança pelo pai, vítima da Covid, e ganha prêmio

Bailarino do ES faz videodança pelo pai, vítima da Covid, e ganha prêmio

Marcelo Oliveira tentou transmitir sensação de angústia, insegurança e loucura com coreografia que concebeu após o pai morrer, vítima da Covid-19, em julho do ano passado

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 17:52

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Bailarino capixaba, Marcelo Oliveira faz dança pelo pai, vítima da Covid, e ganha prêmio mundial
Bailarino capixaba, Marcelo Oliveira faz dança pelo pai, vítima da Covid, e ganha prêmio mundial. (Vitor Kock/Reprodução)
Autor - Pedro Permuy
Pedro Permuy
Repórter do Divirta-se / [email protected]

Em julho do ano passado, Marcelo Oliveira perdeu o pai para a Covid-19. No luto, se sentiu sozinho e sem saber o rumo que deveria tomar, só que decidiu transformar toda aquela angústia em dança. “Clausura”, como batizou um dos números de uma série de apresentações que ele fez com inspiração na morte do familiar, foi premiado com o primeiro lugar da categoria Profissional de Melhor Vídeodança no Festival Internacional de Videodanças (Dancine) deste ano.

O evento que reúne as melhores vídeodanças do Brasil e do mundo reconheceu o talento de Marcelo, que também foi criador do espetáculo e contou com ajuda do cinegrafista Vitor Kock. A vídeodança “Clausura” fala sobre o mergulho no desconhecido, a sensação de não se encaixar. 

Na apresentação, o bailarino capixaba de 32 anos aparece performando em um cenário pequeno, que transmite a sensação de recolhimento, além de demonstrar com os movimentos do corpo que está, de fato, perdido com a situação. Fortemente influenciado pela dança contemporânea, a coreografia emociona e prende o espectador.

"O processo de concepção foi bem rápido. Foi até uma sugestão do meu terapeuta de jogar tudo o que eu estava sentindo para o corpo em movimento. É a maneira que tenho encontrado nesse processo do luto para superação", fala.

E desabafa: "As pessoas que perdem a família por Covid-19 têm a falsa sensação de que a pessoa a qualquer momento pode retornar. Eu acredito que muito desse luto que a gente vive, de quem passa por isso, não é normal. A gente só vai se dar conta da perda real quando tudo voltar ao normal e a gente ver que não teve nosso rito de despedida".

Essas reflexões também compõem o que Marcelo expõe na dança. “O ‘Clausura’ é um dos 15 trabalhos que já fiz nesse processo de luto. Saio de um e entro em outro. É uma busca constante de ressignificar o luto. E quando fiz o ‘Clausura’, que foi premiado, era justamente a reflexão sobre me conhecer, me olhar, enxergar o novo isolamento em que eu me encontrava”, confidencia.

Aspas de citação

Na busca de ressignificar o luto é que veio toda a ideia da dança

Marcelo Oliveira
Bailarino
Aspas de citação

Marcelo conta que a premiação veio como uma coroação do trabalho que fez em lembrança ao pai e que a oportunidade de vencer um concurso internacional também o faz ter mais ânimo para continuar trabalhando no projeto.

"O Dancine apareceu pelas redes sociais e enviei o trabalho sem muita expectativa, porque foi, na verdade, um laboratório experimental. Quando vi a repercussão que a dança havia causado, fiquei surpreso e muito feliz. Foi uma válvula de estímulo”, comemora.

E lembra: “Já tinha participado e ganhado outros festivais antes, mas nunca um internacional. Produzir arte para a tela é outro sentimento, outra realidade, então tive que estar em um estado de concentração extremamente alto. Mas deu certo”.

Marcelo é professor de dança na Prefeitura de São Mateus e leciona para mais de 210 alunos, onde desenvolve seu trabalho de pesquisa que envolve saúde mental dentro da prática da dança. O bailarino ambém atua como produtor cultural e idealizador do projeto C.R.I.A (Coletivo Regional de Iniciação Artística), que fornece aos jovens do entorno do rio Cricaré cursos de formação e iniciação artística dentro do audiovisual.

O artista destaca que também recebeu muito retorno de pessoas que se identificaram com “Clausura” porque “muita gente se vê sem saída”. “Esse lugar do cenário, fechado, é justamente para dar essa sensação de não saber o que fazer, quase uma sensação de loucura. Ao fim, você não sabe se aquilo é real ou imaginário”, termina.

O CONCURSO

Este vídeo pode te interessar

O DANCINE foi realizado pela Associação de Dança do Litoral Paulista (ADALPA), dirigidos por Juliana Luiz e André Santos, responsáveis pelo Festival Internacional de Dança de Santos (FIDIFEST). A escolha de “Clausura” como melhor vídeodança ficou a cargo do júri, formado pelos professores doutores Leonel Brum e Cristiane Wosniak, e completado pelo voto popular. Todas as obras selecionadas para o primeiro lugar receberam premiações em dinheiro e troféu.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais