As fortes chuvas que atingiram o Sul do Espírito Santo em janeiro afetaram alguns espaços culturais, como as bibliotecas públicas municipais de Iconha e de Cachoeiro de Itapemirim. No intuito de recuperar o acervo que foi perdido, campanhas solidárias de doação de livros convidam as pessoas a cederem exemplares de literatura.
Para ajudar na reestruturação da Biblioteca Municipal de Iconha, localizada no Centro Cultural Zoé Rodrigues, o Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha (IHGVV) realiza uma ação em prol da cultura. O órgão, em parceria com o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo e a Secretaria Municipal de Educação de Vila Velha, segue com a campanha para recolher livros e não tem data para acabar.
"Em menos de um mês, as doações já atingiram cerca de 3,5 mil títulos. Nossa meta é chegar a pelo menos quatro mil exemplares. O Zoé Rodrigues Misságia contava com 12 mil livros e foi devastado pela lama, perdendo parte da história do município. Além de livros, documentos oficiais também foram destruídos. Nossa ajuda, inicialmente, começou pelos exemplares literários. Com o livro, você mantém a memória e o pertencimento, uma forma até de acalentar todos os moradores em função desta tragédia", conta Manoel Góes, presidente do IHGVV.
De acordo com Manoel, a ação recebe cerca de 80 a 100 títulos por dia. "Estamos recolhendo romances, contos, poesias, literatura infantojuvenil e infantil e, especialmente, obras sobre a história do Espírito Santo. Estou surpreso com a qualidade de conservação dos exemplares. Chegam obras raras, escritas por mestres como José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Monteiro Lobato. Até edições com capas de luxo", comemora. O intuito é privilegiar clássicos da literatura. Livros didáticos, técnicos e enciclopédias não fazem parte do projeto.
Diretor Geral do Arquivo Público Estadual, Cilmar Franceschetto afirma que cerca de 50% dos documentos históricos de Iconha foram perdidos com a enchente. "Estamos em uma força-tarefa em parceria com pesquisadores e técnicos da Secretaria Estadual da Cultura (Secult) e do Núcleo de Conservação e Restauração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O Instituto Histórico e Geográfico de Iconha , que também fica no Zoé Rodrigues, foi totalmente tomado pela lama", lamenta.
Cilmar relata que o Estado está tentando restaurar documentos primordiais para a história do município. "O espaço contava com papéis que retrataram a presença de ingleses na cidade no século XIX. Iconha foi a única localidade do Estado a receber imigrantes daquele país. Além disso, há registros de uma forte movimentação de escravos na área. Praticamente tudo foi perdido."
Ainda não há previsão para a reabertura da Biblioteca Municipal de Iconha e do Centro Cultural Zoé Rodrigues. No espaço, ainda ficavam duas galerias de arte, um local de ensaio da banda municipal e a sala do Instituto Histórico e Geográfico. "Estamos fazendo reformas estruturais nos móveis e nas obras arqueológicas que restaram, além de uma grande limpeza", complementa Franceschetto.
Outro espaço cultural também afetado pelas chuvas de janeiro é a Biblioteca Pública Municipal Major Walter dos Santos Paiva, em Cachoeiro de Itapemirim. A estimativa da coordenação da biblioteca é de que quase a metade dos 15 mil livros do acervo tenha sido perdida com a inundação. Móveis e equipamentos também tiveram avarias. O centro continua aberto à visitação pública, mas suspendeu o sistema de empréstimo de obras literárias. O serviço deve ser normalizado na próxima segunda (17).
A biblioteca também está aceitando doações de livros. O pedido é para que sejam cedidas obras de literatura, de qualquer gênero, tanto para adultos quanto para o público infantojuvenil.
Além da campanha de arrecadação, estamos em contato com editoras, buscando a doação de títulos para a biblioteca. Tivemos uma perda considerável de livros mais novos. Os volumes mais raros e antigos quase não foram afetados. Dois deles estão recebendo tratamento pelo Núcleo de Conservação e Restauração do Centro de Artes da Ufes. Estamos empenhados na reposição do acervo e na reabilitação desse importante equipamento público, assinala Fernanda Martins, secretária municipal de Cultura e Turismo.
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